terça-feira, 30 de setembro de 2014

As palavas ou a reescrita da voz...

Os livros são um dos objetos primordiais do que podemos chamar uma civilização. Com eles guardamos a memória e as inquietações anteriores a nós, mas também como eles descobrimos que eles nos fazem pensar melhor, afinal que podemos evoluir como pessoas, como sociedade. Apesar dos múltiplos ecráns estamos muito sós, nas palavras que queremos dizer, na voz que não se ouve. Palavras reescritas de uma respiração que se escuta nal sob um domínio, um ruído dominante dos media e de um poder formatado para os lugares comuns. 

É na leitura que nos descobrimos, que verificamos que valores nos conduzem, que formas de encontro conseguimos estabelecer com os outros. Os livros que lemos dizem muito das pessoas que conseguimos ser, dos conhecimentos que multiplicamos nas ideias que apreendemos e da perceção que temos do mundo e de nós próprios. 

Os livros são muito diversos, pois constrõem continentes de emoções, geografias de sentimentos, formas de ser, modos de pensar e de construir o mundo e são por isso um património de um profundo enriquecimento pessoal. Com eles fazemos viagens ligando o passado e o presente, numa ideia de algo a construir, a sonhar, embora nunca lá estejamos, esse futuro por viver. Eles, são por isso, os caminhantes de ideias e lugares, por onde passámos e onde eles chegarão. Com eles vivemos a possível eternidade. 

Os livros emergem com as palavras e ao nomeá-las, estamos a dar-lhes a substância de existirem, mesmo que se refiram ao que não temos, mesmo que sejam os sonhos antes dos sonhos, a respiração de ver o que se ama. Os livros e a leitura confirmam essa possibilidade maior de aceitarmos em partilha as vozes que nos chamam para o reconhecimento múltiplo da humanidade.  

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Celebrar o Outono


"Lá vem o meu pobre Outono
que em troca daquela beleza
de vestir folhas douradas,
um vermelho sem igual
e um castanho especial,
sente a obrigação de abrir
a porta ao vento e à chuva ...

que nesta estação já perderam
a vontade de brincar
e lembram a toda a gente
que é tempo de trabalhar.
Ao Outono resta ainda
a bela consolação
de comer frutos de Verão".

Outono, João Pedro Mésseder, in O Livro dos Meses
Imagem (via http://havidaemmarta.blogspot.com)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

As Bibliotecas


"A Biblioteca terá que ser o centro da sociedade. O homem é um animal leitor, leitor do mundo. Procuramos as constelações da narração: quem são os outros e onde estamos. Desenvolvemos o poder da imaginação. Somos capazes de criar o mundo, antes mesmo da criação do mundo.

As bibliotecas são a memória privada e a memória pública. A biblioteca é autobiografia de cada um.É o rosto de cada um de nós. As bibliotecas são também a biografia da sociedade, a sua identidade. As bibliotecas públicas são o rosto da comunidade.

Nós somos o que a biblioteca nos recorda o que somos. Um livro conta a experiência de cada um, onde estão as paixões mais secretas e os desejos mais íntimos. "Clínica da alma" é a sua melhor definição. A centralidade da atividade inteletual está na clínica da alma!"...

Alberto Manguel, "Reading and Libraries", 11º Congresso da BAD

Apresentar um livro - Profº Luís Campos

Três chávenas de chá, de Greg Mortenson e David Oliver Rolin

O nosso clamor é um vento forte que atravessa a terra.» (1) 

Ouvimos e vemos demasiadas vezes notícias que nos relatam a pobreza extrema, as doenças de que sofrem milhões de pessoas no planeta. Assistimos nos media a atentados suicidas em zonas do planeta contra pessoas indefesas. Sentimos em vastas zonas do globo a indiferença para com a vida em atos de extrema violência. Verificamos como o analfabetismo e a extrema pobreza alimenta o fundamentalismo, em países como o Paquistão ou o Afeganistão, convocando crianças e jovens para o absurdo. Existe alguma forma de superar esta epidemia do espírito, esta doença que ameaça o coração do Homem?

Três chávenas de chá é um caminho que vale a pena conhecer. É a história de um livro, de um homem, de uma ONG e de uma comunidade nas montanhas altas do Paquistão, justamente no K2. É um livro sobre as possibilidades criadoras que a educação e a leitura permitem construir, mesmo nas geografias mais difíceis, onde a violência, o fanatismo religioso e a pobreza alimentam uma terra ferida de dignidade e esperança para as mais jovens gerações. O Paquistão e o Afeganistão são muitas vezes sinónimos de indiferença a uma ideia de dignidade, de alfabetização, de oportunidade para diversas comunidades.

Um alpinista americano, ao escalar o K2, a segunda maior montanha do planeta conheceu no povo balto a hospitalidade de uma cultura ancestral. No território do fundamentalismo islâmico, entre os caminhos da Al-Kaeda e dos Talibãs, num mundo esquecido, um homem tenta a conciliação de culturas. Nas altas montanhas da Ásia, entre o Paquistão e o Afeganistão um homem viu como a educação podia fazer sobreviver as aspirações de uma comunidade. Com a ideia de criar escolas, especialmente para meninas e com o apoio a projetos comunitários, um homem cria uma resposta generosa onde muitos, demasiados só parecem encontrar a guerra. 

É um livro que não é uma ficção, mas uma reportagem ilustrada por quem viveu uma aventura de generosidade e de transformação de como um sonho, pode converter-se numa ONG, The Central Asia Institute, que alimenta a possibilidade de alfabetização de uma cultura, nos seus elementos mais jovens. 

É um livro que revela uma lição imensa. Uma lição de vontade e inteligência. Mas também, uma lição de recompensa pelos frutos conseguidos com aquelas crianças e a convicção que só de olhos abertos se pode compreender o mundo. É ainda um livro que nos envolve com o mais importante, a vontade e a determinação de cada homem. Um livro que nos assegura que as mudanças têm de passar pelo individual, pois cada de um nós, nas palavras antigas de Krishnamurti, representa "o resto da humanidade".

Se este tema se te interessa podes consultar o sítios relacionado com este projeto, justamente, três chávenas de chá.


(1) "A canção de guerreiro do rei Gezar", in Três chávenas de chá, pág. 313

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O autor do mês

"Levanta-te do papel com as palavras. Fecha os olhos e elas saem sozinhas. As palavras são notas, repara. Não penses em nada, abandona-te. O mundo inteiro está dentro de ti." (1)

A linguagem  e com elas as palavras dá-nos a possibilidade de nomear o que nos é dado ver e confere à própria realidade uma forma de existência, aquela que nós soubermos construir. Pelas palavras construímos mundos e registamos as nossas experiências. Com elas verificamos o que aprendemos com as nossas experiências e organizamos as bibliotecas interiores que formalizamos com a nossa memória.

A Biblioteca procura como sentido da sua ação trabalhar essa memória pelas palavras e pelos recursos que estão à nossa disposição para a ideia essencial de sonhar possibilidades e construir formas de conhecimento. Assim todos os meses será apresentado um conjunto de autores (escritores / ilustradores / pensadores) que procurarão ir de encontro aos interesses e gostos de leitura dos alunos e que se relacionam com os objetivos do currículo.

Pretendemos divulgar um conjunto de autores, que pela sua importância no panorama da literatura e das ideias possam interessar a diferentes públicos. Caso haja um alargamento da partilha de ideias e projectos à Biblioteca, os autores do mês poderão ser reformulados, para procura atingir diferentes públicos. Através das estruturas intermédias (os Departamantos) faremos chegar essas propostas para chegarmos a um consenso sobre os destaques a realizar.

Na Biblioteca haverá um cartaz identificando algumas das suas obras e no Boletim Mensal estará disponível uma biografia sobre os mesmos. A equipa da Biblioteca apresentará igualmente um boletim bibliográfico sobre o referido autor. No blogue dar-se-á destaque a elementos importantes da sua obra literária. Em alguns meses haverá dois autores, de modo a complementar universos diferentes e largos e que podem oferecer leituras diferenciadas sobre temas comuns.

(1) António Lobo Antunes, "Já escrevi isto esta manhã", in Quinto Livro de Crónicas, pág.85

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Recomeçar



"A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana" (1)

A Biblioteca da Escola Secundária Rainha Dona Amélia procura neste espaço, introduzir um conjunto de ideias, sugestões, atividades, recursos de informação que possam de uma forma positiva e dinâmica apresentar o que é o papel e a função de uma Biblioteca Escolar. Alterámos um pouco o modelo de apresentação do blogue nas suas cores, mas também nas suas funcionalidades, processo ainda em curso. Demos continuidade ao blogue que já existia, tendo mantido também o URL do mesmo.

Este blogue, de uma biblioteca escolar procura ser um espaço digital que procura refletir sobre os sentidos, tons e linhas das palavras, a matéria-prima dos livros. Neste espaço iremos procurar ser nos próximos meses um lugar, um ambiente de comunicação onde se descrevem sonhos relativos  à natureza humana. Fazemos parte de uma espécie que utiliza a palavra para se exprimir, para como diz António Lobo Antunes «estar mais perto do coração da vida».

De diferentes modo serão as palavras o que irá alimentar este espaço que procura ser sobretudo uma plataforma de comunicação de uma comunidade educativa. É pelas palavras, pelo uso da linguagem que assimilamos o mundo, é com elas que procuramos fazer uma viagem de significado com a vida. É com elas que tecemos com a imaginação, com a memória os espaços que construímos com as pessoas.  As palavras são a expressão gráfica dos sonhos que envolvem a natureza humana.

Exprimimos com as palavras a memória dessa ambição de tocar a beleza e a liberdade. As palavras que nos devolvem aos olhos e à respiração os livros, são companheiros de uma viagem longa, atribulada, inconstante e desconhecida. Conduzimos pelos livros uma imensa aventura onde procuramos acrescentar uma linha, um olhar, um traço, uma palavra à fantástica aventura da vida. Lemos, pois para que possamos renascer todas as manhãs.

Iremos assim, neste espaço apresentar escritores, pensadores, ideias, no sentido que isso promova a leitura e a escrita. Introduziremos livros e ideias de diferentes contextos. Apelamos à participação dos docentes e à publicação de textos, de produtos informativos, de trabalhos resultantes de situações de aprendizagem realizados com os alunos.

Fazemos uma primeira proposta. Justamente iniciando com os docentes, a apresentação breve de um pequeno livro, de uma leitura significativa, pela ideia, espaço ou tempo em que decorreu. Bastará enviar o mesmo para o mail da Biblioteca (ver contatos ao lado). Sempre que for possível e os docentes e alunos os achem significativos ou interessantes, o blogue destina-se a dar visibilidade ao que se realiza na escola em diferentes contextos. Com as palavras, com a imagem, com os recursos que podem ser disponibilizados. É nesse sentido que o iremos utilizar.

Iniciamos este caminho convidando todos a interagir, neste projeto, que procura lidar com a memória do Homem, a sua História, isto é a sua humanidade, o seu conhecimento, as suas emoções, como elemento comum a dinamizar este projeto de leitura e escrita.


(1) Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano