segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Encontro na Biblioteca - Margarida Palma

A escritora Margarida Palma esteve hoje na Biblioteca numa sessão de apresentação do seu livro, Veio depois a noite infame. Nesta sessão estiveram presentes alunos de três turmas do ensino secundário acompanhados pelos professores Heitor Rodrigues, Ana Margarida, Filipa Barreto, Esperança Braga e o jornalista Ricardo Duarte do Jornal de Letras. A sessão foi iniciada com uma breve apresentação feita pela Srª Diretora da Escola, Professora Isabel Le Gué que introduziu alguns dados biográficos da escritora.

De seguida o jornalista Ricardo Duarte suscitou um conjunto de questões relativas ao trabalho da escrita, às motivações e gostos da escritora pela História e ao modo como integra a narrativa ficcional na construção da história. Foram levantadas diversas questões por alguns alunos tendo a escritora Margarida Palma respondido de um modo muito afectuoso às questões colocadas. 

Do encontro ficou um conjunto de partilhas de gosto pela escrita, do valor da Literatura para reencontrar a respiração das pessoas nas suas épocas e de as fazer reviver na atmosfera cultural e social do seu tempo. Foram referidos aspetos muito relevantes sobre o período da 1ª República nos seus aspetos políticos, sociais e culturais tendo todos ganho muito com a informação disponibilizada pela escritora. A instabilidade política, as contradições da 1ª República e todo o ambiente decorrente de uma época de grandes conflitos (Revolução Russa, 1ª Guerra Mundial) deu aos que estiveram presentes uma ideia mais clara sobre esses tempos.

Dias do Desassossego 2015

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Noite de Natal - livro da semana

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Declaração Universal dos Direitos Humanos

«Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.» - artigo 1º

Cerca de mil milhões de pessoas têm como rendimento diário para si e para a sua família o valor de um dólar. Três milhões sobrevivem em condições de extrema pobreza, tendo como valor diário dois dólares. Dois mil milhões não têm cuidados médicos e todos os dias morrem de fome vinte mil pessoas, estimando-se que cerca de 963 milhões de pessoas não têm o que comer. Deste conjunto a grande maioria é formada por crianças com idade inferior a quinze anos.

Em muitos países do Mundo o acesso a redes de comunicação, energia ou água potável é uma tarefa impossível. A participação em meios de comunicação como jornais, televisão ou simplesmente manifestar as suas opiniões está interdita. Milhões de pessoas, especialmente crianças não frequentam qualquer escola. A prisão e a tortura por reivindicar uma opinião ou ser de uma cor ou cultura diferentes é imensamente frequente em vastas zonas deste Planeta. Pode ser este um retrato de um mundo desenvolvido? Com tantos progressos tecnológicos porque continuamos a assistir a este quadro com tanta frequência? 

Comemora-se hoje os sessenta e seis anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Procura-se chamar à atenção de todos para a importância da vida, do respeito pelos direitos da Humanidade que devem, deveriam ser respeitados em todos os indivíduos. Esta celebração continua, a fazer sentido pelo quadro do mundo actual. O Homem continua a ser o seu maior inimigo pela falta de respeito com que trata o seu semelhante. Desde as Revoluções Americana e Francesa que se tem procurado avançar para formas de sociedade onde a razão e a consciência humanas sejam respeitadas. Infelizmente a crueldade tem marcado uma imensa presença na vida de muitas pessoas que habitam o Planeta.

Num mundo de globalização denunciar (manifestações, cartas, petições)os que oprimem, os que apenas querem ter uma voz, são atitudes que devemos ter. O Darfour ou O Tibete são apenas alguns dos casos desta falta de "amor" pela Humanidade, no seu sentido global. Os Países constroem a sua História, pobre ou grandiosa pela forma como sabem lidar com os Direitos Humanos. A luta pelas causas justas, a construção de uma comunidade humana em que a razão e as ideias possam ser apresentadas livremente só podem ser um património das grandes nações.

O acesso à escolarização e a cuidados de saúde e o trabalho comunitário poderão permitir que daqui, a certamente muitos anos este seja um quadro do passado, e já não tão presente no quotidiano de tantos milhões. Como escreveu Tucídides,historiador grego, a felicidade humana está dependente da liberdade e esta da coragem. A coragem de exigir um mundo diferente. Na semana em que temos a memória de Mandela precisamos lutar pela óbvia decência humana ignorada em muitos faustos palácios de ignorância e esquecimento.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Memória visual - Dia nac. da cult. científica 2015

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Feira do Livro


A estrela - livro da semana

"Um dia, à meia-noite, ele viu-a. Era a estrela mais gira do céu, muito viva, e a essa hora passava mesmo por cima da torre. Como é que a não tinham roubado? Ele próprio, Pedro, que era um miúdo, se a quisesse empalmar, era só deitar-lhe a mão. Na realidade, não sabia bem para quê. Era bonita, no céu preto, gostava de a ter. Talvez depois a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E daí, se calhar, talvez a viesse a dar à mãe para enfeitar oi cabelo. Devia-lhe ficar bem, no cabelo.

 De modo que, nessa noite, não aguentou. Meteu-se na cama como todos os dias, a mãe levou a luz, mas ele não dormiu. Foi difícil, porque o sono tinha muita força. Teve mesmo de se sentar na cama, sacudir a cabeça muitas vezes a dizer-lhe que não. E quando calculou que o pai e a mãe já dormiam, abriu a janela devagar e saltou para  a rua. A janela era baixa. Mas mesmo que não fosse. Com sete anos, ele estava treinado a subir às oliveiras quando era o tempo dos ninhos, para ver os ovos ou aqueles bichos pelados, bem feios, com o bico enorme, muito aberto. 

E se não era o tempo dos ninhos, andava à solta pela serra, saltava os barrancos, jogava mesmo, quando preciso, à porrada com o um homem. Assim que se viu na rua, desatou a correr pela aldeia fora até à torre, porque o medo vinha a correr também atrás dele. Mas como ia descalço, ele corria mais. A igreja ficava no cimo da aldeia e a aldeia ficava no cimo de um monte. De modo que era tudo a subir. Mas conseguiu - e agora estava ali. Olhou a estrela para ganhar coragem,  ela brilhava, muito quieta, como se estivesse à sua espera. 

E de repente lembrou-se: se a porta estivesse fechada? Levantou-se logo, foi ver. A torre era muito alta e tinha uma porta para a rua. Pedro empurrou-a um pouco e viu que estava aberta. Ficou muito admirado, mas depois nem por isso. Ninguém ia roubar os sinos que mesmo eram muito pesados. E quanto ás estrelas, se calhar ninguém se lembrava de que era fácil empalmá-las. E tão contente ficou de aporta estar aberta, que só depois se lembrou de a ter ouvido ranger. E então assustou-se. Voltou a experimentar e rangeu outra vez. Rangia pouco, mas o silêncio era muito e parecia por isso que também a porta rangia muito. E teve medo. Reparou mesmo que estava a suar e não devia ser da corrida, porque este suor era frio. 

A porta ficara já deslocada e agora era  só encolher-se um pouco e passar. Mas sem tocar na porta, para não ranger. Meteu-se de lado e entrou. Havia um grande escuro lá dentro. Já calculava isso, mas as coisas são muito diferentes de quando só se calculam. E cheirava lá a ratos, a cera, às coisas velhas que apodrecem na sombra. Como estava escuro, pôs-se a andar às apalpadelas. Mas as pedras frias assustaram-no. Lembravam-lhe mortos ou coisas assim. (…) Mas, à medida que ia subindo, vinha lá de cima um fresco que aclarava o cheiro. À última volta da escada em caracol, olhou ao alto o céu negro, muito liso. Via algumas estrelas, mas era tudo estrelas velhas e fora de mão. Até que chegou ao campanário e respirou fundo. Aproveitou mesmo para puxar as calças que estavam a cair.  Eram dois sinos e uma sineta. (…) E assim que se pôs em terra, largou para casa, mas não muito depressa. Apetecia-lhe mesmo parar de vez em quando e olhar a estrela com uma atenção especial. Era formidável. 

Lembrava um pirilampo, mas muito maior. Oh, muito maior. E de outro feitio, já se vê. A certa altura, voltou-se para trás e olhou ao alto o sítio donde a despegara, como se para ver se realmente já lá não estava. E não. O que lá estava agora era um buraco escuro, por sinal bem feito. Lembrava-lhe a boca dele quando lhe caiu um dente, mas não sabia bem porquê. Quando por fim chegou a casa, trepou á janela que deixara aberta e meteu-se na cama. Estava ainda algum tempo com a estrela na mão, mas não muito, porque já não podia mais, arrombado de sono. De modo que guardou a estrela numa caixa e adormeceu. 

No dia seguinte acordou tarde. A mãe estranhou aquele sono demorado, mas não muito, porque quem passava os dias no retoiço era natural que uma vez por outra pegasse no sono com vontade. Como tinha o berro forte, capaz de ir de monte a monte, a mão ouviu logo. Veio então a correr muito aflita, sem fazer ideia do que fosse, e perguntou-lhe o que tinha. E ele, que estava fora de si, ou mesmo ainda com sono, disse assim:
- Roubaram-ma! Roubaram-ma!

E a mãe, naturalmente, perguntou o que é que lhe tinham roubado. Mas ele aqui calou-se. A mãe cuidou que seriam restos de sonho e não ligou. (…) Mas não tinha sido um sonho, não. O que aconteceu foi que, logo de manhã, assim que acordou, abriu a caixa para ver a estrela e a estrela não estava lá. Ou por outra, estava lá, mas não era a mesma, era assim como uma estrela de lata. E então pensou que lha tinham trocado para pensar qualquer coisa, porque aquilo, realmente, não era coisa que se pensasse. É claro que brilhava um pouco. Mas toda a estrela de lata brilha. O que é, só de dia, quando lhe bate o sol. E mesmo assim, não muito.  Que afinal, com sol todas as coisas brilham com o brilho que é do Sol e não dessas coisas. E a estrela brilhava com  um brilho só dela. Mas nada disse à mãe do que se passara (…)"

Vergílio Ferreira, A Estrela. Quetzal. 2010.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

As palavras de Rómulo

(Rómulo de Carvalho e o seu amigo António Gedeão, foram duas pessoas de infinitas multiplicidades. Neles vimos a divulgação científica, o artigo, o livro, o poema, o sonho de vencer o preconceito e a ignorância pela luta diária do pensamento. Que almas humanas eram e que sentimentos e angústias conheceram nas suas vidas de cientista e poeta? Memórias dá algumas respostas. E foi da leitura de excertos com alunos do 7º, 8º e 11º anos que celebrámos a 24 de novembro essa figura muito rara e de grande inspiração chamado Rómulo de Carvalho.)

Eu digo "pobre de mim" como diria pobre do pobre que está sentado à soleira da porta a apanhar sol e a coçar as costas. Mas ele, o pobre,ainda é feliz porque ao vê-lo desejo ajudá-lo, e eu era um ser indefeso que ninguém pensava em ajudar. Nunca tive vocação nem jeito para viver, inclinação elementar que qualquer ser, mesmo sem ser humano, possui por natureza. Tão incapaz, tão estranho, tão desajustado que ainda hoje, aos oitenta e um anos, me sinto tão surpreendido de viver como aquele frágil menino de um ano a quem a irmã mais velha ampara, no retrato, para que não caia do alto da coluna de madeira em que o poisaram.

Ele tem a cabecinha um pouco inclinada sobre o lado direito como quem pede auxílio, e eu sempre assim a mantive, mas por dentro, dissimulada numa cara comprida e talvez severa, implorando o mesmo auxílio. Sou um pobre ser necessitado de carinho, à espera de um afago que lhe cerre os olhos interiores com deleite como os gatos quando se deitam de barriga para cima. Preciso de amor constante, o amor que se exprime em cada gesto e em cada olhar do quotidiano, mesmo sem contactos, sem palavras, sem premeditações, espontâneo, natural. Amor é um termo ambíguo que se presta a ridicularizar quem o pronuncia. Mas este de que falo não é o que nos faz supor de olhos brancos, em alvo. O amor de que falo é o que se opõe ao ódio, à violência, à dissimulação, ao orgulho, à prepotência, a todas essas "virtudes" que adornam os humanos com os loiros dos triunfos.

Por não possuir tais "virtudes" fui sempre encarado com uma ponta de desconfiança pelos meus companheiros de existência porque naturalmente sentiam a minha impenetrabilidade às suas manobras, manobras correntes, quase inocentes, atitudes do dia-a-dia, de momento a momento, só detectáveis por um escrúpulo demasiado como sempre foi o meu. Em jovem já guardava da humanidade o mesmo sentimento que conservo, a mesma incompatibilidade com as normas correntes de conduta social  e privada, e a passagem dos anos apenas veio dar mais solidez e convicção às suspeitas do instinto.  Aliás, se me alheasse dessas normas por um instante bastaria pegar em qualquer jornal do dia para tudo se avivar. Felizmente a vida proporcionou-me encontros com algumas excpções ao tipo comum do ser humano, e acolhi-as com comoção.

Apesar destes rigores falo bem a toda a gente, uso boas palavras, não me exalto, e posso-me gabar que nunca, na vida inteira, me zanguei com alguém, nunca cortei relações com alguém, nunca virei a cara a alguém. É que, meus queridos tetranetos, eu não detesto os outros nem fujo ao seu convívio se os vejo aproximarem-se de mim. Os meus sentimentos para com os outros não são de repulsa, mas (imaginem!) de pena, de piedade. tenho pena de ver as pessoas presas aos seus preconceitos, às suas ansiedades, aos imperativos da sua hereditariedade, ao peso das tradições, aos condicionamentos do ambiente físico  e humano em que nasceram ou vivem. Tenho pena de todos, e também tenho pena de a ter, porque as pessoas preferem ser odiadas a suscitarem pena. No fundo somos todos irresponsáveis, tanto eles pelo que fazem como eu por reparar nisso.


Rómulo de Carvalho. (2010). Memórias. Lisboa: fundação Calouste Gulbenkian

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Desassossego 2015

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Fernando ...

“I know not what tomorrow will bring” (Fernando Pessoa  – last words)

Lisboa ficou como um pano de fundo, de onde ele criou universos, na modernidade dos significados que ele deu às palavras, dos sentidos diversos que a vida contemporânea pode ser. A estátua que tantos turistas visitam é um ícone pop, uma lembrança fugaz, não bebida na pele, não adormecida na essência da fragmentação que o mundo contemporâneo se tornou. 

A modernidade fez-nos perder uma ideia segura do mundo, uma possibilidade de construir linhas, capazes de nos devolver uma segurança, uma ideia de futuro. Explodiram ideias, conceitos, crentes, descrentes, todas as formas razoáveis e indignas de sermos algo que nos chame de humanidade. Vestimos hábitos para os quais não estávamos habilitados, desistimos do que melhor sabíamos e de cada vez que sorrimos na multidão, uma abordagem funcionária fez-nos esconder dentro do mais puro de nós. Vestimos máscaras que não nos deram vida e quando reparámos estávamos velhos e consolados de indiferença. Somos pois testemunhas de uma fragmentação de eus, e vivemos entre o excesso de escolhas, mal formuladas, dedicadas em discursos de nevoeiro por iluminados de ocasião e um vazio. 

Perdemos a voz dos deuses e ficámos estilhaçados, convencidos que em cada eu construíamos um mundo de desejos e de sucessos. Ao debatermos a unidade perdemo-la, como crianças, expulsas da magia da fantasia. É esta uma das grandes forças de Fernando Pessoa. A sua heteronímia levanta de um modo único a luta entre esse interior que se perdeu em espectáculos de excesso, de horizontes de vazio. Na fractura interior que a contemporaneidade trouxe, os eus são essa tentativa de alcançar uma unidade que não conseguimos ter, e por isso ele tanto nos disse sobre essa dificuldade de respirar, de existir no “intervalo que há entre mim e mim”.  

Todos os seus heterónimos são essa forma criativa e humana de chegar ao universo e perante ele obter uma resposta. A sua poesia é a busca de uma metafísica, capaz de fazer pensar quais as formas possíveis de existir, que particulares somos. Em Alberto Caeiro «Falaram-me os homens em humanidade. Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade. Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si. Cada um separado do outro por um espaço sem homens.», em Ricardo Reis «Da verdade não quero mais que a vida; que os deuses dão vida e não verdade, nem talvez saibam qual a verdade.”, em Álvaro de Campos «És importante para ti porque só tu és importante para ti. E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?”, notamos essa necessidade de expressão individual, de pluralidade de possibilidades. 

Pessoa representa esse encontro para analisar e pensar a modernidade no homem. Pensarão os turistas e o país pop e o outro, feito de modos funcionários, o que significa este homem na cultura universal, além de fotografias e sorrisos de plástico momentâneos? Pessoa é ainda e sempre a grandeza de quem viu que o pensamento é o motor maior de qualquer inteligência feita sociedade, ou conjunto de pessoas.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Memórias de Rómulo de Carvalho - livro da semana

Título: Memórias
Autor: Rómulo de Carvalho
Edição: 1ª
Páginas: 557
Editor: Fundação Calouste Gulbenkian
ISBN: 
978-972-31-1362-4
CDU: 
821.134.3-94"19"

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Fala do homem nascido - Os poemas de António Gedeão (V)

Lágrima de preta - Os poemas de António Gedeão (IV)

Pedra Filosofal - Os poemas de António Gedeão (III)

Poema para Galileu - Os poemas de António Gedeão, por Mário Viegas (II)

Poema para Galileu - Os poemas de António Gedeão (I)

Dia nacional da cultura científica - Cartaz

Rómulo de Carvalho - Escritor do mês

Rómulo de Carvalho

Dia nacional da cultura científica 2015

No dia nacional da cultura científica alunos do 11º ano e do 7º ano partilharam experiências e emoções em redor das ideias de divulgação científica de Rómulo de Caravlho, das suas memórias e das palavras do seu amigo, António Gedeão. Foram feitas pequenas experiências, com base no livro Física para o Povo sob a supervisão da professora Leonor. Foram escolhidas as seguintes::
  1. Centro de massa;
  2. Periscópio;
  3. Ímanes;
  4. Ilusões óticas;
  5. Figuras de cinema;
Foram lidos excertos das Memórias de Rómulo de Carvalho e apresentadas algumas ideias sobre a sua vida de divulgador de ciência e professor. A terminar ouviram-se alguns podcasts e foram lidos poemas de António Gedeão. A sessão foi muito interessante pelas suas componentes de ciência e poesia e pela memória de um homem, que sendo em si muito desprendido era uma figura imensa na sua humanidade. A acabar cantou-se os parabéns a Rómulo e partilhou-se um bolo de chocolate. Talvez os alunos associem no futuro Rómulo de Carvalho e António Gedeão a esta sessão e aos sabores partilhados, assim como às ideias discutidas. É uma esperança agradável de se ter.

Formação Pordata 2015-16

Na segunda-feira passada, dia 23 de novembro, os alunos do 11º E1 tiveram uma sessão promovida pela Pordata. Esta 3ª sessão (após duas realizadas no ano letivo passado) correu  bem, tendo os alunos ficado a conhecer o tipo de dados organizados desde a década de sessenta em Portugal e o modo como podem ser consultados para qualquer pesquisa que tenham de realizar. Foram feitas várias questões e sugeridas formas de encontrar e interpretar a informação, especialmente pelas metodologias dinâmicas que o site proporciona a quem o consultar. Foi realizada uma apresentação pelos aspetos que a nível dos municípios ou da Europa podem ainda ser pesquisados e dada uma contextualização interpretativa de alguns dados analisados.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

No nascimento de Herberto Helder

herbertohelder
I do not Know much about gods, but I think that the river
Is a strong brown god

(…)
What we call the begining is the end. (1)

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar, que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se é esse o seu tempo, quando havia ele de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo esteja real e tudo esteja certo;
E porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. (…)
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências,
O que for, quando for, é o que será que é
. (2)
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram. (3)


No dia em que Herberto nasceu, lembramos a sua palavra e essa angústia formal que é a morte, essa despedida da memória. Eugénio sobre Torga tinha o consolo que tudo é efémero, só a morte é imortal, pois não poupou o mais chegado aos anjos, esse cântico de perfeição que são as sonatas de Mozart. Quando um poeta morre diz-se ficam as palavras. Em Herberto mais ainda, pois ele construiu na solidão de cada momento, as faces do poema. Esmerou-se como um carpinteiro por desenhar as palavras que a sua simbologia criou. Ergueu uma obra para o mundo, entregou-a sem explicações, sem manifestos, sem prémios, na reclusão da torre da palavra. Herberto tinha na reclusão a voz de um poeta, que se afirma pelas suas palavras, pelo valor que aquelas têm, como víamos em Baudelaire, sempre nessa atitude modernista, de fugir ao mundo, para o apreender. Herberto trouxe uma poesia, onde as palavras emergem sobre nós, como oráculos de mistério, sem um tempo definido, onde se advinham rituais de tempo mágico, parecendo conduzir-nos para o espaço sagrado de uma mitologia. Herberto recuperou nas suas palavras a sacralidade perdida num mundo secularizado, dando uma resposta à velha dúvida de Nietzsche, da perda de Deus e da dor antiga. Os rios, o corpo são formas vivas de um fogo que persiste, nos espaços obscuros e de silêncio onde emergimos, para um real nem sempre possível de integrar, pois somos feitos, na feliz expressão de António Lobo Antunes, “de ranho e de poeira cósmica”. Pessoa e Herberto são as maiores figuras da poesia e da literatura portuguesa do século XX. Pessoa, na dimensão única de Caeiro vive a natureza, mas supera-a em si em cada instante, absorve o olhar brilhante do sol de cada momento, sabendo-o que só o que existe é real. O real dá-lhe consistência e justificação. Herberto ainda procura um valor sagrado, uma construção de milagres, o real mais belo para a nossa respiração. Herberto procura-se na noite vasta, no tempo imemorial, onde os pensamentos são graças permanentes ouvidas em cada um de nós. Em Herberto há uma labuta humana, pelas ideias que hão-de chegar ao outro, ao que procuramos. Em Herberto há uma emoção por esse coração que naufraga num céu infinito, das crianças que em cada esperança se renovam, nas casas, “ruas de flores” de onde imaginamos o mundo. Há dentro de cada um de nós a flor, o fruto, a divindade, entre a racionalidade e o sagrado mais breve, as flores que nos procuram em cada um de nós. São duas formas infinitas, porque humanas de conceber o homem e os seus anseios mais secretos, o fogo das palavras eternas. São duas formas gloriosas de modernidade e de construir a língua e as palavras, essas formas breves de eternidade.
(1) - T. S. Elliot, Four Quartets.
(2) - “Poemas Inconjuntos”, in Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática, 1946.

(3) - «Tríptico». In A Colher na Boca, 1961.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O meu pé de laranja lima - Livro da semana

Título: O meu pé de laranja lima
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Edição: 20ª
Páginas: 195
Editor: Melhoramentos
ISBN: ...
CDU: 821.134.3(81)-31"19"

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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Os ciganos - Livro da semana

"Era uma vez uma casa muito arrumada onde morava um rapaz muito desarrumado. E o rapaz tinha a impressão de que não era feito para morar naquela casa. Ali os relógios estavam sempre certos mas ele andava sempre atrasado. (...)

E à noite abria a janela do seu quarto, respirava o vento que vinha de longe, olhava as estrelas e pensava na liberdade. Já não era um rapaz pequeno mas ainda não era um rapaz crescido. (...) À volta da casa havia um grande jardim. E enquanto Ruy era pequeno o jardim parecia-lhe enorme com as suas tílias profundas, as suas magnólias de folhas brilhantes e as suas palmeiras despenteadas.

Mas com o tempo o jardim foi diminuindo. Era como se o muro se fosse apertando lentamente como um laço. E tudo isto parecia irremediável. (...) Era o fim dum dia de Primavera. Ruy sentias-se ao mesmo tempo feliz e infeliz. A leveza do ar, a cor vermelha do poente, o brilho e a frescura das árvores, o perfume das flores, a doçura quebrada da kluz pareciam prometer-lhe uma felicidade maravilhosa. Mas ele não sabia nem como nem quando nem onde a poderia agarrar. (...)

Fontes corriam em cascata, o musgo cobria as pedras enormes, um curto vento agreste surgia entre as árvores. Ruy contemplava o vale trincando uma folha amarga de loureiro.
   - Gela - disse ele chamando a rapariga do arame.
   - Diz - perguntou Gela.
   - É aqui que vocês moram?
   - Gela olhou-o de frente.
   - Nós não moramos aqui nem em nenhum outro lugar - disse ela. - Nós não moramos, nós vamos".

(São ainda algumas das palavras que Sophia deixou e que o seu neto conclui numa história, mais uma vez desenhadas sobre a capacidade que o olhar, o ver tem sobre a organização do quotidiano. Com ilustrações de Danuta Wojciechowska é um livro de grande beleza sobre o universo do mistério e do sonho que sempre procuramos aceder todos, de diferentes modos.)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Página de Filosofia

Os docentes da disciplina de Filosofia com a colaboração da Biblioteca criaram uma página da disciplina, para apoio aos alunos e para uma construção mais partilhada de ideias e recursos de aprendizagem. Convidam-se todos a visitar e a deixar a sua impressão, comentário ou sugestão de abordagem a algum item considerado significativo. O acesso pode ser feito aqui.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Escritor do mês - Sophia


Caminho da manhã
 "Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. 

Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. 

Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. 

À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. 

Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada. 
 
Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível".
 
Sophia, "Caminho da Manhã", in Livro Sexto, 1962

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Filme do mês - A hora do lobo


A hora do lobo é um filme do conhecido Jean-Jacques Annaud e que nos reconduz a um dos períodos da história da China e a um do seus aspetos mais perturbantes - a revolução cultural. Da  China de Mao, em 1967 chega-nos através dessa leitura das ideologias que esquecem com frequência a humanidade, a respiração individual das pessoas e a memória de um território.

De uma profunda beleza natural, A hora do lobo devolve-nos paisagens naturais de grande significado sobre a Mongólia e coloca-nos sobre o simbolismo das culturas ancestrais, isoladas. mas de uma verdade, de significados humanos profundos. Chen Zen, um jovem estudante de Pequim integra essa ideia de educar uma população rural isolada, no modo como a revolução cultural sempre achou que cada indivíduo é um ser a dispensar nos grandes valores do estado e da sua dominação ideológica.

O jovem perceberá que a comunidade a educar tem um sentido de identidade próprio, uma cultura de território, onde vive uma das figuras simbólicas das estepes, o lobo. A hora do lobo revela a ligação entre os lobos e os pastores,na formulação da própria identidade do território. A captura de um lobo pelo jovem irá desencadear uma ameaça ao próprio sentido de existência da comunidade e a ideia burocrática do poder central de eliminar os lobos revela-se ameaçadora e perturbante.

“A Hora do Lobo” é um filme de Jean-Jacques Annaud que surge na senda de outros filmes sobre animais feitos pelo realizador francês (“O Urso”, de 1988, “Dois Irmãos”, de 2004”) e adapta o livro Wolf Totem de Jian Rong (pseudónimo de Liu Jiamin). 

Livro publicado em 2004, sobre a sua experiência de jovem estudante enviado em missão “educadora” para as estepes em 1967, e que na China se transformou no maior sucesso editorial desde O Pequeno Livro Vermelho, de Mao Tsé-Tung. A hora do lobo realiza a adaptação do livro, Wolf Totem, e é nesse sentido um filme de uma grande beleza pelos conteúdos éticos que discute, as relações de poder, as ideologias, o território e a natureza. 

História e cinema

O cinema é um das ferramentas mais interessantes para conhecer a memória, ou excertos /fragmentos dela. Ao convocar imagem, literatura, música no sentido de apresentar uma narrativa que persegue diferentes objetivos, o cinema auxilia-nos a conhecer universos que não foram vividos por nós. O cinema dá-nos fontes de entretenimento, apresenta-nos contextos históricos, recria universos fantásticos e procura discutir princípios e formas de olhar o Mundo. O cinema vive muito da oferta da arte da ficção, entre o narrado como acontecimento e a poética que evidencia formas possíveis de ver o real.

O cinema possui uma linguagem diferente de outras linguagens narrativas, pois dá através da imagem bidimensional uma leitura que procura aproximar-se das dimensões do espaço físico, onde habitamos. Na verdade o cinema sugere-nos pela sua capacidade de reproduzir som e movimento uma quase identificação com uma realidade, ainda que seja uma leitura ou uma impressão daquela. O cinema apresenta-nos uma dupla representação, dos cenários, dos actores e da própria película.

Ainda assim é um recurso de grande significado na aprendizagem de quotidianos, de movimentos históricos ou do papel do indivíduo na construção de transformações sociais e culturais. O cinema é um suporte de conhecimento que nos pode levar a compreender processos e geografias culturais, formas impressivas de olhar o mundo. O blogue da Biblioteca irá destacar um filme mensalmente. Ou como sugestão de um filme em exibição, ou como recurso significativo, no âmbito da História.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Dias do Desassossego


A Fundação José Saramago e a Casa Fernando Pessoa escolheram duas semanas para celebrar a voz dos livros em diversos lugares da cidade e em boa companhia. De 16 a 30 de Novembro, são os livros que estão no centro das atenções: lançam perguntas, rebatem ideias, provocam, inquietam. As duas casas de autor, de Lisboa, apresentam para a 3.ª edição dos Dias do Desassossego um programa que cruza música, cinema, mesas-redondas, acções de animação e promoção da leitura, poesia dita, passeios na cidade - guiado sempre pela literatura. Na programação consta a iniciativa designada - O Desassossego em Coletivo: A Literatura no Espaço Público.

Esta iniciativa a decorrer na segunda quinzena de novembro vai procurar fazer da literatura uma experiência de coletivo. Esta iniciativa pretende ser uma oficina de formação, onde irão ser trabalhados textos de Fernando Pessoa e José Saramago, através de excertos escolhidos a partir de temas como a identidade, a morte, o amor, a política e a contestação. Saindo da escola, os alunos irão ler e dizer esses textos a quem passa, a quem se interroga e a quem se deixa desassossegar. Nesta iniciativa irão participar alunos da nossa escola, 0 10º H1, o 11º E1 e o 12º E1. Juntamente com a Escola Secundária Rainha Dona Amélia irão também participar alunos das Escolas Secundárias Gil Vicente e Pedro Nunes. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Manhã submersa - livro da semana

É um livro marcante de um País, de um tempo, de uma geografia, de uma forma de construir o tempo e as sociedades humanas. É um livro que serve um projeto - a celebração do centenário do nascimento de Vergílio Ferreira. É ainda um livro que se propõe como ponto de partida para uma das provas do Concurso Nacional de Leitura para o Ensino Secundário. É um livro sobre esse fechamento de janelas que o Estado Novo personificou numa ideia orgulhosa de solidão. É uma narrativa sobre a docilidade de estruturas mentais fechadas. A circulação na hierarquização de tempos sociais restritos, onde a individualidade submerge a qualquer ideia ou respiração próprias.

"O peso da dor nada tem que ver com a qualidade da dor. A dor é o que se sente. Nada mais. Desisto definitivamente de me iludir com a minha força de adulto sobre o peso de uma amargura infantil. Exatamente porque toda a vida que tive sempre se me representa investida de importância que em cada momento teve. Como se eu jamias tivesse envelhecido. Exatamente porque só é fútil e ingénua a infância dos outros - quando se não é já criança. Estranho poder este da lembrança: tudo o que me ofendeu me ofende, tudo o que me sorriu sorri: mas, a um apelo de abandono, a um esquecimento «real», a bruma da distância levanta-se-me sobre tudo, acena-me à comoção que não é alegre nem triste mas apenas «comovente»... Dói-me o que sofri e «recordo», não o que sofri e «evoco». (...)

Eu vivia, de resto, agora, e cada vez mais, da minha imaginação. E foi por isso a partir de então que eu descobri a violência da realidade. Nada era como eu tinha fantasiado e não sabia porquê. Parecia-me que havia sempre outras coisas à minha volta que eu não supunha, e que essas coisas tinham sempre mais força do que eu julgava. Assim, a minha pessoa e tudo aquilo que eu escolhera para mim não tinham sobre o mais a importância que eu lhes dera. Chegado à realidade, muita coisa erguia a voz por sobre mim e me esquecia. (...)

Quando algum de nós se afastava para dentro de si próprio, logo a vigilância alarmada dos prefeitos o trazia de rastos cá para fora. Os superiores sabiam que, à pressão exterior, cada um de nós podia refugiar-se no mais fundo de si. Como sabiam também que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma força inesperada. Nenhuns sonhos se negavam ao apelo da nossa sorte, aí na nossa íntima liberdade. Por isso nos expulsavam de lá. Mas, uma vez postos na rua, havia ainda o receio de que as nossas liberdades comunicassem de uns para os outros e ficassem por isso ainda mais fortes. E assim nos obrigavam a integrar-nos numa solidariedade geométrica, ruidosa e exterior como de ladrilhos". (...) 
- Vergílio Ferreira - Manhã Submersa

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Newsletter de outubro

A noite de Halloween

Halloween, hoje chamado Dia das Bruxas é uma tradição que se comemora especialmente nos países de cultura anglo-saxónica, como o Reino Unido ou os Estados Unidos da América. A palavra vem do inglês com o significado de «Hallowed» que significa «santo» e «en» que significa «noite». O seu significado liga-se pois a Noite Santa ou Noite de todos os Santos.

O Halloween remonta aos Celtas, povo da idade do ferro, e às festividades que aquele povo fazia em honra dos mortos. Para os Celtas o Halloween marcava a proximidade do solstício de Inverno e indicava o fim oficial do Verão. Marcava igualmente o início do provisionamento dos diversos bens alimentares para todo o Inverno. O Halloween era para os Celtas no fundo uma forma diferente de crença na vida após a morte e na comunicação entre todos os elementos organizadores do universo, o espaço e o tempo. Todo o enquadramento da fantasia ligado ao Halloween relaciona-se com a defesa dos vivos face ao outro mundo, oculto e desconhecido.

A partir do século I os Romanos abandonaram esta tradição. A figura da bruxa aparece na Idade Média e por relação com a intolerância religiosa, tendo ficado associado a esta tradição. A Igreja no século IX deslocou de Maio para 1 de Novembro a celebração do Dia de Todos os Santos para diminuir os cultos pagãos que a norte da Europa tinham muita importância. Houve assim uma junção dos cultos cristãos e pagãos, um pouco como no  Brasil a cultura negra integrou os valores da cristandade europeia.

Hoje o Halloween tem um conjunto de adereços que foram surgindo em diferentes locais  e diversas épocas. São os disfarces, criações dos períodos em que o medo da morte assolou a Europa, como no século XIV. A própria tradição de pedir um doce ou oferecer uma travessura que ainda hoje é celebrado em Inglaterra como uma festa nacional tem ainda a ver com as  lutas civis que oposeram católicos e protestantes no século XVII. 
No século XIX, os imigrantes  irlandeses que foram para os Estados Unidos levaram o património celta, tornando o Dia das Bruxas uma tradição cultural muito apreciada.