sexta-feira, 29 de maio de 2015

Exposição de Geografia



Durante esta última semana de maio tem estado a decorrer uma exposição de trabalhos promovida pela disciplina de Geografia. Nesta exposição estão em divulgação trabalhos realizados pelos alunos do Básico e Secundário sobre a Terra como ecosistema e algumas das principais características do planeta em termos sociais, culturais e humanos. 

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Campanha - Vamos ajudar o Nepal (II)

A ES Rainha Dona Amélia,no dia 20 de maio, deu por terminada uma campanha que tinha como objetivo reunir dinheiro para ajudar na recuperação do património cultural danificado dos últimos terramotos no Nepal, e teve um sucesso nunca antes visto!

Devido à sua localização geográfica, o centro de Lisboa, esta escola é beneficiada com uma grande mistura de culturas e alunos vindos de vários países. Entre esses alunos estava um nepalês. “Quando vi os noticiários o que se passava senti que tinha que agir e fazer alguma coisa para o meu país”, conta Sharad Poudel, o impulsionador da campanha, “Tive a sorte de já ter agendada uma apresentação sobre o meu país e a sua cultura para a minha turma. 

Depois desse dia, todos os alunos ficaram entusiasmados com a ideia de poder ajudar, e foram eles que divulgaram a campanha”. A campanha terminou com uma sessão formal na biblioteca da escola, onde alunos, professores e funcionários viram quais os frutos do seu trabalho conjunto. Iniciada no dia 11 de maio, conseguiu até o dia do seu fim uma quantia próxima dos mil euros, o record já alguma vez angariado na ESRDA, onde este tipo de ações são comuns.

“Estou muito feliz por ver como a minha escola respeita a diversidade cultural e a riqueza da cultura do meu país. Esta campanha tornou-se uma inspiração e um grande passo para tornar todas as pessoas da escola mais solidárias”, concluí o aluno. Agora, o dinheiro já foi entregue à cruz vermelha e esta encarregar-se-á de o usar para o propósito que foi recolhido. 
Parabéns ao Sharad e a todos o que o ajudaram, pois provaram que são os alunos que (também) fazem as escolas!

http://www.forum.pt/wtf-animadores/16230-facebook-id-1ac554eee273a9d04dfe7ef061f4e05a

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Semana das Artes - Ilustração / Textos (IV)

Gostei muito de alguns quadros e por essa razão fui mesmo bastante difícil ter de eleger um...
Admira-me pelo facto de ter, curiosamente, decidido escrever sobre um trabalho que é passível ser aquele que tem menos cor (literalmente, está só a carvão) e aquele que, "ignorantes", como nós, tendem a classificar como mais simples, ou, pelo menos, não tão "elaborado", como os outros (não desprezando de qualquer maneira ou forma o esforço e mérito de cada um.
Enquanto andava para a frente e para trás no corredor, foi uma questão de segundos, até ter decidido interiormente que aquele seria então, o tal! O rapaz representado prendeu-me. Parei pela simples razão de que me apetecia parar. Ficar lá só a olhar. O rapaz estava lá, a olhar para nós, a sorrir um sorriso que completava um olhar donde emanava toda a paz do universo, todo um "à vontade" envolvente, toda uma atmosfera descontraída e convidativa a sentirmo-nos em paz com ele. 
A sensação de tranquilidade que me assombrou naquele instante foi tão impressionante que o meu único desejo era estar, naquele momento, frente / a / frente com lel, humano, de carne e osso, na vida real. Conhecê-lo.

Texto: | Catarina| 10º H | Desenho: | a identificar|... | 
Escola Secundária Rainha Dona Amélia|Semana das Artes |

Leituras na Biblioteca - Pessoa (os Heterónimos)

Ser pessoa é amar o que se vê, é sentir o "ser", é não haver limites para a grandeza, é ser feliz na tristeza e perceber o que somos. Ser pessoa é querer mais do que se tem, é querer ser livre, beber a inocência e viver a presença do real. Ser pessoa é amar o ridículo, é escrever o sentimento e sentir o que vê, desenhando paisagens. É ser insignificante como o pó, mas ao mesmo tempo presentem no vento, é ser harmonia ministrada pelo maestro e seguir as regras. Ser pessoa é ser espontâneo nas decisões da vida e ter ideias que suportem os sonhos.
| Natália Brito| 10º A|  

Todos nós, cada um de nós somos uma multiplicidade de pessoas, um mundo de personalidades. É vago e raro definirmo-nos. Não somos um conjunto fechado, mas sim aberto, não somos nada apenas apresentamos traços de qualquer coisa. Somos um conceito em constante mudança e evolução. 
| Carolina Mateus| 10º A|

Ser pessoa é antes de mais existir. É em termos filosóficos uma incógnita. Ser pessoa é mais do que ser sensível, é ser racional, do ponto de vista intelectual e moral. É ser um sol que  ilumina o seu próprio mundo. É ser um dicionário que só é composto por sentimentos.
| ....| 10º A|

Imagem - O menino que era muitos poetas. Pato Lógico/ICNM.2014

(Alguns dos textos construídos numa sessão com alunos do 10º Ano sobre a Heteronímia  de Pessoa). 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Semana das Artes - Ilustração / Textos (III)

Eu escolhi este trabalho que retrata uma zona de Lisboa, o Bairro Alto. Nesta zona podemos encontrar elétricos e aspetos típicos da nossa cidade. Penso que o autor do desenho estava a pensar nas casas, nas ruas e no ambiente que conhecemos e que na altura dos santos populares é muito divulgado. Vemos no desenho dois elétricos e percebemos uma atmosfera que retrata espaços da cidade de Lisboa muito peculiares. Por outro lado, não era como os outros, quase todos desenhados a lápis de carvão, este tinha cores, alegria e brilho. Escolhi também este trabalho porque eu adorava viver nesta zona, a forma das casas, as inclinadas e estreitas ruas, o pitoresco, tudo é fascinante!
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De todos os desenhos da exposição que vi, escolhi este, o dos elétricos, que representa a vida urbana de Lisboa que acolhe a tradição, a alegria de viver, as cores e o movimento típicos de hoje e de outrora da nossa bela cidade. 

Texto: | Marta Santos/Pedro Mendes| ... | Desenho: | Caetana Fernandes Thomaz |12.ºD | 
Escola Secundária Rainha Dona Amélia|Semana das Artes | 

Leituras na Biblioteca - O poema do menino Jesus (II)

Deus, dizem que é omnipresente.
Mas eu sou aquele que ainda não o sente, pelo menos a cem por cento.
Mesmo não sendo o maior cristão, sabendo que não há certeza, procuro a razão.
Vivendo, eu acredito e entendo.
Sem Ele, tudo é impossível, mas confesso que é difícil acreditar não vendo.
Por mais que o tempo passe, aquilo que vai crescendo são as dúvidas no meu pensamento.
Como não há certezas, vivo com o que entendo. O mundo é fruto de Deus, é assim que o compreendo.
Francisco Gouveia, 10º A.

Na minha opinião cada pessoa tem a sua própria visão das coisas, neste caso do menino Jesus. Na minha opinião, eu posso criar a minha própria imagem e a personalidade dele, pois nunca o vi nem o conheci. Devemos respeitar a história e a opinião dos outros, bem como a cultura do País. Com a sua história, conhecemos uma forma de ser pessoa e isso implica pensarmos no interior e exterior de cada um.
Bruno, 10º A

Não  concordo com a visão que Fernando Pessoa, pela voz de Alberto Caeiro, dá do menino Jesus. Penso que Jesus foi alguém que veio ao mundo para se sacrificar por nós. Aceito a visão de Pessoa, mas não concordo com ele, nem acredito que possa ser verdade. Desde pequena, que tive uma vida católica muito ativa. Na minha opinião, Fernando Pessoa caracterizou o menino Jesus daquela maneira porque assim o achava. Fê-lo para demonstrar que muitas pessoas apenas pensam em Deus quando precisam de algo. O poema do menino Jesus foi uma forma que ele usou para revelar esse "pensamento" que muitas vezes as pessoas têm.
Mafalda / Marta, 10ºA

Leituras na Biblioteca - O poema do menino de Jesus (I)

(...) Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe. 

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão 
E olha devagar para elas.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.


Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro, "Poema do menino Jesus". Poemas de Alberto Caeiro. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Fernando - (Os Heterónimos) : Bernardo Soares

Onde está Deus, mesmo que não exista?
Onde está Deus, mesmo que não exista? Quero rezar e chorar, arrepender-me de crimes que não cometi, gozar ser perdoado como uma carícia não propriamente materna.

Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de Verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer... Poder ali chorar coisas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro...

Uma infância nova, uma ama velha outra vez, e um leito pequeno onde acabe por dormir, entre contos que embalam, mal ouvidos, com uma atenção que se torna morna, os perigos que penetravam em jovens cabelos louros como o trigo... E tudo isto muito grande, muito eterno, definitivo para sempre, da estatura única de Deus, lá no fundo triste e sonolento da realidade última das coisas...
Um colo ou um berço ou um braço quente em torno ao meu pescoço... Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar... O ruído de lume na lareira... Um calor no Inverno... Um extravio morno da minha consciência... E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como a lua rodando entre estrelas... 

Quando ponho de parte os meus artifícios e arrumo a um canto, com um cuidado cheio de carinho — com vontade de lhes dar beijos — os meus brinquedos, as palavras, as imagens, as frases — fico tão pequeno e inofensivo, tão só num quarto tão grande e tão triste, tão profundamente triste! ...

Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão abandonado nas ruas das sensações, tiritando de frio às esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer o pão dado da Fantasia. De um pai sei o nome; disseram -me que se chamava Deus, mas o nome não me dá ideia de nada. Às vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me uma ideia dele a quem possa amar... Mas depois penso que o não conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez não seja nunca esse o pai da minha alma...

Quando acabará isto tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição... Às vezes penso isto e choro com alegria a pensar que o posso pensar... Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as folhas caem no passeio... Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum... E de tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis para seu filho adoptivo, nem nenhuma Amizade para seu companheiro de brinquedos.
Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar, O Vento, a minha Mãe. Leva-me na Noite para a casa que não conheci... Torna a dar-me ó Silêncio imenso, a minha ama e o meu berço e a minha canção com que dormia...

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982. p. 289.

(Imagem - Via Grupo de divulgação da poesia de Fernando Pessoa).

Semana das Artes - Ilustração / Textos (III)

Dos tetos desceram telas, todos os olhos ficaram fixos a surpreendentes traços, formas e cores. Tudo se misturou. As letras que já eram e outras que vieram, a Escola acordou para uma primavera maior, onde todos puderam saborear tempos de ser.


A criatividade faz parte de nós, essa é uma das principais características do ser humano. Todos temos a capacidade de imaginar e transpor essa imaginação para um papel, seja desenhando ou apenas escrevendo. 

Aqui estou eu, sentada, num grande e frio corredor, a contemplar a criatividade de alguém, e a sua incrível capacidade de, com apenas um lápis e uma borracha, colocar tanto sentimento numa folha de papel. 

Neste quadro, vejo um rosto humano, e talvez a criatividade não seja o que mais sobressai, mas sim a própria expressão do ser retratado. Vejo um homem idoso, mas não velho, vejo rugas, olheiras, olhos cansados, vejo um homem vivido, robusto, pesado, familiar e sério. Um homem provavelmente com influência na sociedade, numa empresa, ou simplesmente na sua família. Vejo um homem responsável, humano e despido, não de roupa, mas transparente de sentimentos, sem medo do que os outros pensam, sem medo do que irão pensar, sem medo de pensar. Vejo um homem justo e com ideias muito próprias, um homem humilde e com ideias.

Este quadro faz-me lembrar o Papa Francisco.

Texto: | Madalena Nobre| 10º A | Desenho: | a identificar|a identificar | 
Escola Secundária Rainha Dona Amélia|Semana das Artes | 

Breviário Mediterrânico - Livro da Semana

Título: Breviário Mediterrânico
Autor: Predrag Marvejevitch
 Edição: 1ª
 Páginas: 260
Editor: Quetzal
ISBN: 978-972-564-7639
CDU: 926.2
Sinopse: "A filologia do mar- rico de inteligência e de poesia, no que mistura de rigor e de temeridade, (...) de precisão científica e de epifania do infinito." (1)



O Mediterrâneo é esse caminho estrelar por onde o sol e a luz abrem formas particulares de organização social e económica. O Mediterrâneo, tal como a viagem, a navegação constrói-se na lenda, na geografia, no perfume alto dos pinheiros, nas encostas de figueiras onde já prenunciam as areias do deserto e nas cidades que reflectem as suas aventuras. Todas as palavras são instrumento e memória da linguagem precisa e enérgica que é o milagre do mar. Dando consistência ao particular, juntando no quotidiano as formas imaginativas da civilização. 

Predrag Matvejevitch descreveu em Breviário Mediterrânico, a luz solar, o perfume das laranjeiras, o vento silvestre no olival, onde as azeitonas e o sal fermentam os dias. Com ele aprendemos, o que sentimos nas cidades onde o mar fez soprar o seu encanto por onde perdemos a voz com as sereias. Se a viagem nos fez descobrir o que somos,o mar, com os seus rios interiores e exteriores deu-nos a alegria de redescobrir outras paisagens, outras formas de ser.

Há quem ainda não tenha compreendido que o Mediterrâneo deu origem à Europa, que sem ele, ela não teria existido, que nele se desenham as formas culturais e humanas do que sabemos ser e do que tentamos construir em tantas margens do sonho. O Mediterrâneo é a base cultural de uma civilização que se definha todos os dias, pela incapacidade de ver o mundo e a sua própria herança civilizacional.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Campanha - Vamos ajudar o Nepal





Na passada quarta-feira decorreu na Biblioteca a cerimónia simbólica, da entrega do valor obtido na campanha, "Vamos ajudar o Nepal". Foi um projeto pensado por um aluno Sharad Poundel, e que se tornou uma ideia desenvolvida na escola para ajudar a suprir grandes dificuldades decorrentes do sismo de Abril. Foi um momento de grande significado pela solidariedade que se desenvolveu e pelos momentos afetivos que foram possíveis viver nesse momento.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Semana das Artes - Ilustração / Textos (II)

Dos tetos desceram telas, todos os olhos ficaram fixos a surpreendentes traços, formas e cores. Tudo se misturou. As letras que já eram e outras que vieram, a Escola acordou para uma primavera maior, onde todos puderam saborear tempos de ser.

Prendeu-me pela sua mensagem e por aquilo que significa para mim. Um simples e comum olho de entre milhões que existem e já existiram. No entanto, por já termos visto tantos olhos não significa que sejam todos iguais, muito pelo contrário, cada um tem o seu olhar e é este que torna mágico os sentimentos que transmitem. 

Desde o momento, em que abrimos os olhos e vemos o mundo, vivemos a nossa vida e focamos tudo aquilo que nos faz felizes que, nos desilude. Deixamos que o mundo ocupe o espaço vazio dentro de nós, ao nascer, preenchemos a nossa alma e, depois, deixamos que os nossos sentimentos saiam através do olhar e deixamos que os outros percebam e nos compreendam que, saibam o que sentimos e o que somos. 

Os olhos são o espelho da nossa alma e agradeço por substituírem muitas vezes as palavras que não conseguem sair e por provarem a veracidade de cada uma das que saem. São das coisas mais simples que podemos ter e que muitos pensam ser unicamente para ver, mas são muito mais e têm muito mais valor do que isso. São o nosso reflexo e, por isso, quando se fecham, sem nunca voltar a abrir, reservam o que somos para a eternidade porque são a porta por onde tudo na vida entra e sai e fechados não permitirão que isso aconteça. 

Continuaremos a ser o que somos dentro de nós e dentro dos outros que não esquecerão nem o exterior, nem o interior. 

Texto: | Catarina Rebelo| 10º A | Desenho: | Margarida Aires de Sá|12.ºD | 
Escola Secundária Rainha Dona Amélia|Semana das Artes | 


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Fernando - Os Heterónimos (Alberto Caeiro)


Esta é a história do meu Menino Jesus. 
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira 
Que tudo quanto os filósofos pensam 
E tudo quanto as religiões ensinam ? Alberto Caeiro

Livro da semana - o rio e o seu segredo

Título: O rio e o seu segredo
Autor: Zhu Xiao-Mei
Edição: 1ª
Páginas: 313
Editor: Guerra e Paz
ISBN: 978-989-8174-02-4
CDU: 821.581-94"20
Sinopse: Caminho pelas ruas de Zhamgjiako. Como muitas vezes antes, na minha vida, quis voltar atrás para encontrar a energia para seguir em frente. Zhangjiako, pensava eu, dar-me-ia coragem. Claro que a vida me trouxe muito. Mas também me quebrou, porque me levou a não gostar de mim, a duvidar incessantemente, doentiamente.

Com o tempo, sinto cada vez mais ao meu lado a presença de Bach e de Lao-Tzu. Ajudaram-me a ultrapassar as provações do passado, e ajudar-me-ão ainda a enfrentar as que me esperam, porque me parece que o mais difícil ainda está por vir: encontrar finalmente a liberdade interior. (...)

À noite, tenho dúvidas, tenho medo dos outros, de mim, e sinto com violência a minha impotência, a minha incapacidade para atingir a perfeição. Mas, de manhã, sei que ele está ali, na sala ao lado, à minha espera. É uma promessa de felicidade sempre constante. O meu piano. Olho para o céu de Zhangjiako. E ouço a minha avó a contar-me - Foi na noite em que nasceste...

(Um daqueles livros que procura na vida, as sombras para edificar a esperança e dar-nos formas vivas de palavras. Um retrato indescritível de uma jovem que viveu esse pesadelo que foi a Revolução Cultural e nos dá, não só a violência sobre o indivíduo, a morte de qualquer intimidade com a consciência, mas sobretudo a forma corajosa de como com a Arte pôde sobreviver a esse pesadelo. Um relato verídico e fascinante de uma pianista, que com Mozart e Bach venceu os mais baixos princípios de um poder sem alma e virtude. Muitas vezes olhamos para a História como uma sucessão de acontecimentos, à sombra dos quais muitos fazem leituras, a partir de campos ideológicos, sem nenhuma visão da essência humana. O rio e o seu segredo foca-se nas pessoas, nesse concreto de que tantas vezes nos esquecemos.) 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Fernando - Os Heterónimos (Bernardo Soares)


Onde está Deus, mesmo que não exista?
Onde está Deus, mesmo que não exista? Quero rezar e chorar, arrepender-me de crimes que não cometi, gozar ser perdoado como uma carícia não propriamente materna.
Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de Verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer... Poder ali chorar coisas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro...
Uma infância nova, uma ama velha outra vez, e um leito pequeno onde acabe por dormir, entre contos que embalam, mal ouvidos, com uma atenção que se torna morna, os perigos que penetravam em jovens cabelos louros como o trigo... E tudo isto muito grande, muito eterno, definitivo para sempre, da estatura única de Deus, lá no fundo triste e sonolento da realidade última das coisas...
Um colo ou um berço ou um braço quente em torno ao meu pescoço... Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar... O ruído de lume na lareira... Um calor no Inverno... Um extravio morno da minha consciência... E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como a lua rodando entre estrelas...
Quando ponho de parte os meus artifícios e arrumo a um canto, com um cuidado cheio de carinho — com vontade de lhes dar beijos — os meus brinquedos, as palavras, as imagens, as frases — fico tão pequeno e inofensivo, tão só num quarto tão grande e tão triste, tão profundamente triste! ...
Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão abandonado nas ruas das sensações, tiritando de frio às esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer o pão dado da Fantasia. De um pai sei o nome; disseram -me que se chamava Deus, mas o nome não me dá ideia de nada. Às vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me uma ideia dele a quem possa amar... Mas depois penso que o não conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez não seja nunca esse o pai da minha alma...
Quando acabará isto tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição... Às vezes penso isto e choro com alegria a pensar que o posso pensar... Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as folhas caem no passeio... Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum... 
E de tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis para seu filho adoptivo, nem nenhuma Amizade para seu companheiro de brinquedos.
Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar, O Vento, a minha Mãe. Leva-me na Noite para a casa que não conheci... Torna a dar-me ó Silêncio imenso, a minha ama e o meu berço e a minha canção com que dormia...


Bernardo Soares. Livro do Desassossego. Vol.II. 
 (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982. p. 289.

Semana das Artes - Ilustração / Textos (I)

Vagueio pelos corredores da escola, entro numa viagem de cores explosivas. Reparo numa girafa, que olha para mim, observo um cavalo, uma bola de Berlim, que brilha, paro em frente do desenho de um olho, simples mas complexo, observo melhor e descubro que a esfera que me parecia azul é, na verdade, o planeta Terra.
Continuo a viagem, deparo-me com o desenho de um elétrico em Lisboa, e estou dentro de um poema de Cesário. Azul, verde, encarnado, curvas, linhas, traços, mil imagens rodopiam na minha cabeça.

Piso uma mancha de tinta amarela, sinto a arte em todo o lado, agora vejo a escola de uma maneira diferente!
Maria Tavares, 11º F

Penso que é importante este tipo de exposição, pois aqueles que possuem talento estão a partilhar com outros a maravilha das suas obras.
Cada um tem o seu estilo, e é isso que torna as suas criações tão extraordinárias e apelativas ao olhar.
Gostei muito das ilustrações dos peixes do Sermão de Santo António, porém gostei mais da ilustração do esqueleto. O seu traço, a profundidade, a reflexão que o desenho provoca são simplesmente magníficos. A outra obra que me chamou a atenção, além do esqueleto, foi um desenho que vi num diário gráfico, no qual duas mãos separam um coração em duas metades. A obra sugere um sentimento de dor causada por um rompimento, e é isto que torna estes desenhos autênticas obras de arte, a capacidade de transmitir os sentimentos que estão por detrás da sua criação.

Bruno Nunes, 11º F

Esta Semana das Artes é uma grande ideia! Quando entro na escola, de manhã, deparo-me com vários desenhos incrivelmente bem feitos. Não é só na entrada, é por toda a escola!
A mim, que sou provavelmente a pior pessoa do mundo a desenhar, apetece-me tentar fazer alguns rabiscos quando vejo os desenhos tão bem feitos! Peixes, aranhas, girafas, auto-retratos, esqueletos… há de tudo! Depois de ver estas criações por todo o lado, só desejaria desenhar bem como os meus colegas autores dos trabalhos, mas isso, infelizmente, não acontece…
Só espero que a escola tenha mais boas ideias como estas, para repetir!
Duarte Ferreira, 11º F

Esta grande exposição das disciplinas de Desenho, Educação Visual e Arte Digital é extraordinária. É de louvar esta iniciativa, que só mostra a qualidade da nossa escola e dos nossos alunos. Vê-se que os trabalhos foram feitos com uma grande paixão.
Todos os alunos, de todas as áreas, têm um papel a cumprir: nós, de Humanidades, que estamos muito ligados à escrita, temos a oportunidade de fazer isto que eu estou a fazer agora – escrever. E os de Artes desenham. Estamos, sem dúvida, ligados uns aos outros.
Caetano Beirão da Veiga, 11º F

(As linhas e as cores, as palavras e as ideias, do branco mais puro até ao negro, de onde as sombras nascem nas tonalidades de cada sonho. Algumas dos trabalhos da Semana de Artes Visuais e outros tantos textos, naquilo que os alunos ali puderam ver e transmitir).

Newsletter - março / abril

terça-feira, 12 de maio de 2015

Fernando - Os Heterónimos (Álvaro Campos)

Fernando - Heterónimos - (Ricardo Reis)

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

A noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos.
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve)
A negra ida ao sol).

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem.

Ricardo Reis, Odes


segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Irmão Lobo - Livro da semana

Título: O Irmão Lobo
Autor: Carla Maia de Almeida
Edição: 1ª
Páginas: ...
Editor: Planeta Tangerina
ISBN: ...
CDU: ...
Sinopse:
The tast of love is sweet
When hearts like ours meet
I fell for you like a child
      Oh, but the fire went wild. (1)

Irmão Lobo é uma proposta de leitura para pensarmos como reconstruir o que liga as pessoas num espaço comum. Que imagem, que artefacto, que memória, que valor seguro para alimentar no coração, a esperança, que na vida ainda permita esse momento único - flutuar sempre, como as algas suspensas no azul.

Fernando - Os heterónimos (Alberto Caeiro)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Fernando - Os heterónimos (Bernardo Soares)

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso. 

O Universo, a Vida - seja isso real ou ilusão - é de todos, todos podem ver o que eu vejo, e possuir o que eu possuo - ou, pelo menos, pode conceber-se vendo-o e possuindo e isso é. 

Mas o que eu sonho ninguém pode ver senão eu, ninguém a não ser eu possuir. E se do mundo exterior o meu vê-lo difere de como outros o vêem, isso vem de que do sonho meu eu ponho em vê-lo, sem querer, do que do sonho meu se cola a meus olhos e ouvidos.

Livro do Desassossego
Imagem, © – James Tovey, La Grande Arche.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Fernando - Os heterónimos (Ricardo Reis)

Segue o Teu Destino

Segue o teu destino, 
Rega as tuas plantas, 
Ama as tuas rosas. 
O resto é a sombra 
De árvores alheias. 


A realidade 
Sempre é mais ou menos 
Do que nos queremos. 
Só nós somos sempre 
Iguais a nós - próprios. 

Suave é viver só. 
Grande e nobre é sempre 
Viver simplesmente. 
Deixa a dor nas aras 
Como ex-voto aos deuses. 

Vê de longe a vida. 
Nunca a interrogues. 
Ela nada pode 
Dizer-te. A resposta 
Está além dos deuses. 


Mas serenamente 
Imita o Olimpo 
No teu coração. 
Os deuses são deuses 
Porque não se pensam. 


Ricardo Reis, in "Odes"  
Imagem, © – Monica Elise Vestre, Art by Nature.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Fernando - Os heterónimos (Alberto Caeiro)

"Deito-me ao comprido na erva.
E esqueço do quanto me ensinaram.
O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio,
O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa.
O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos.
O que me apontaram nunca estava ali: estava ali só o que ali estava".


            Alberto Caeiro, in Fragmentos; Imagem, Stardust- Copyright: Simona Forte.

Campanha de solidariedade - Sismo no Nepal

Encontrar Pessoa - Visita de estudo

Entro na porta que foi a tua casa. Afinal, sempre tiveste uma casa e não esses quartos medíocres, pequenos, alagados de pequenez e solidão, para ruas de pó e formalidade. Fico contente, por essa companhia em que escreveste linhas sem fim, já na companhia de uma mãe, de uma família, se assim o podemos dizer. Entro pela tua porta e vejo essa escada velha, de madeira solene, com que os prédios antigos encantavam em passos secos os seus moradores. 

Revejo-te aprumado nessa entrada, após uma curta e maçada jornada num qualquer escritório. Vejo-te como que a encaminhar passos de descanso, por essa porta branca solícita de tantos versos, de ideias infinitas sobre o que sonhamos, o que desejamos para um Universo de finitude. Imagino-te nesse compartimento de todas as possibilidades, e, nas noites dançantes de aguardente e inspiração, para melhor percebermos os instantes que nascemos para um nome que nem sempre visitamos. 

Vejo-te debruçado sobre a janela e a corresponder a essa sabedoria de infância, que desconhece a morte e que se alegra nos instantes mais puros, nas graças mais desajeitadas de formalismo e por isso em instantes perfeitos de sorrisos e camaradagem. Imagino-te em passos caminhantes a outros espaços da casa, onde hoje te vemos como um elemento entre crianças e a tu mãe, sempre com essa dedicação de criança em sonhos. Não sei se és capaz de o perceber, mas de algum modo, os materiais revelam as sombras imanentes dos que absorveram a respiração, a tua e do que nos soubeste dizer. Precisamos de verdadeira inspiração para encontrar as tuas múltiplas vozes. 

A tua escrita é a maior forma de amor a uma língua e a uma ideia, de fazer essa navegação e descobrir todos os universos, os nomes de que somos feitos. Não sei se ao visitar a tua casa a respiração ultrapassou a imaginação. Se assim for, tal não é muito importante, pois como tu dizias, também muitas vezes me parece, que  o mais importante “é ler com a imaginação”. Obrigado Fernando. Sempre preferi os nomes próprios. Eles dizem-nos muito mais sobre esse ser que em cada um vive. Um dia vou ter saudades tuas.

(Um texto imaginado nos passos da Casa Fernando Pessoa, naquela que foi a sua última casa e onde tentámos descobrir com a ajuda preciosa do guia da Instituição, as sombras de um universo sem fim, as palavra e a vida de Pessoa).

Mulheres que lêem são perigosas - livro da semana

Título: Mulheres que lêem são perigosas
Autor: Stefan Bollmann
Edição: 1ª
Páginas: 149
Editor: Círculo de Leitores
ISBN:  978-972-42-4002-2
CDU: 821.112

Sinopse: As mulheres foram e são as grandes leitoras. Foram elas que usaram nos mundos particulares, todas as possibilidades para reconstruir mundos pessoais, aventuras e sonhos emergindo para universos, onde se sentissem mais próximas do que mais amavam. Este é um livro sobre a história da leitura e de como  as mulheres foram evoluindo nos espaços da leitura. 

Nesta aventura das mulheres na leitura encontramos, dos momentos de representação do mundo, com o nascimento do cristianismo e a Bíblia, onde se procurava uma luz no mundo aos espaços da intimidade, no fascínio pela descoberta. Dos momentos de intimidade com a leitura, como descoberta, mas já também como prazer de uma liberdade individual. E encontramos a leitura onde as leitoras se deixam representar pelos sentimentos do livro, expansão do seu ser, à procura de si próprias, onde leitura e a vida se confundem na necessidade de criar caminhos alternativos, naquilo que o século XX mais fez nos leitores e nas leitoras.

O título do livro pode enganar no sentido de lhe dar uma conotação "política", mas ele expressa essa história de conquista de liberdade que foi a leitura no feminino. Os livros, companheiros de uma liberdade de descoberta, construtores da dúvida, criadores de universos de intimidade permitiram a liberdade existencial a gerações de leitores e em especial das mulheres. Assente num conjunto de pinturas fascinantes, o livro é um grande fresco sobre a construção da autoconfiança e dessa capacidade de criar ideias.

domingo, 3 de maio de 2015

Dia da Mãe

O sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.

Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.

E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas. 
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.  

E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo 
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães. (...)   

E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.   


   Herberto Helder, "Fonte", in A Colher na Boca, 1961
Imagem, Angela MorganMaternitat