O príncipe a quem tudo faltava
"Num reino onde era bom viver, havia de tudo para toda a gente, em quantidade suficiente. Chuva suficiente para regar as culturas, sol suficiente para se fazerem as ceifas, lenha suficiente para se aquecerem e até dinheiro suficiente para que todas as atividades e distrações (carrosséis, baloiços, pesca de anzol, pesca submarina, livros, espetáculos de circo) fossem completamente gratuitas.
Mas Leo, o filho do rei, nunca tinha o suficiente.
O pai, embora estivesse muito ocupado com as funções de rei, tudo fazia para responder ao menor desejo do filho. Assim, quando o príncipe se lamentou que tinha poucos póneis, o soberano mandou imediatamente que selecionassem na sua coudelaria uma dúzia de cavalinhos para que o filho pudesse dispor de novas montadas.
O mesmo se passou quando Leo se lamentou de não ter espaço bastante, nos jardins reais, para correr. O monarca logo ordenou que os ampliassem para o príncipe poder brincar à vontade. E no dia em que o jovem herdeiro disse que se aborrecia a brincar sempre com os mesmos soldadinhos de chumbo, o rei mandou fabricar muitas dezenas de novas figuras representando todos as patentes e corpos do seu exército.
Mas, apesar de tudo isso, Leo sentia sempre falta de alguma coisa. "
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a necessidade de possuir
Temos vivido numa era de separação. “Cada um por si”.
Os nossos laços com a comunidade, a natureza, e a terra onde nascemos desapareceram, deixando-nos num mundo sem sentido. A perda destes laços representa mais do que uma diminuição da nossa riqueza, representa uma redução do nosso próprio ser. O empobrecimento que sentimos, desconectados da comunidade e da natureza, é o empobrecimento das nossas almas.
O indivíduo moderno tornou-se um sujeito individual, separado do universo. O tema da separação, em todas as suas variantes, está subjacente às crises do nosso tempo: separação em relação à natureza, à comunidade, às partes perdidas de nós próprios. A contínua destruição do meio ambiente e da política, tal como a ganância humana ou o capitalismo, encontram-se na origem da atual situação. A nossa perceção do eu implica que "mais para mim, é menos para ti". Por esse motivo, temos um sistema monetário baseado em interesses que incorporam precisamente esse princípio.
O impulso de possuir cresce como uma resposta natural a uma ideologia alienante que corta as conexões existentes e nos deixa sozinhos no universo.
(Textos do Projeto ASAS e LIVROS)
A Profª Bibliotecária: Ana Cristina Tavares