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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Rómulo de Carvalho

“[Este modesta apresentação é para si, meu amigo]”, poderia ser uma forma de começar esta biografia, no modo como Rómulo de Carvalho / António Gedeão tantas vezes fez nas suas obras. Rómulo de Carvalho foi professor, pedagogo, cientista, poeta, divulgador de ciência, investigador, historiador, um homem de grande valor cívico. Rómulo de Carvalho nasceu em Lisboa, a 24 de novembro de 1906 e desde cedo revelou-se uma criança precoce. 

Cultivou as Letras e as Ciências e nos dois domínios deu-nos grandes contributos para melhor conhecermos o Universo, a sua composição e também, o Homem. A sua obra divide-se entre a divulgação científica onde publicou inúmeros títulos como A História dos Balões, História do Átomo, História da Fotografia, A Ciência Experimental em Portugal no século XVIII, ou ainda no domínio da História, Relações entre Portugal e a Rússia no século XVIII ou As origens de Portugal

Rómulo de Carvalho possuía uma curiosidade natural por conhecer, por estudar, por divulgar o que aprendia. Em 1956 fez nascer o poeta que em si vivia, com o olhar que via o mundo e os outros, sempre com a preocupação de nos dar uma linguagem simples e envolvente. António Gedeão foi o pseudónimo que faria nascer obras como Movimento Perpétuo, Teatro do Mundo, Máquina de Fogo ou Poemas Póstumos. Rómulo de Carvalho tinha a humildade dos mestres, dos que nos conduzem para que também nós realizemos essa viagem de questionamento perpétuo.
 

Dia nacional da cultura científica - 24.11.16 -

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

As palavras de Rómulo

(Rómulo de Carvalho e o seu amigo António Gedeão, foram duas pessoas de infinitas multiplicidades. Neles vimos a divulgação científica, o artigo, o livro, o poema, o sonho de vencer o preconceito e a ignorância pela luta diária do pensamento. Que almas humanas eram e que sentimentos e angústias conheceram nas suas vidas de cientista e poeta? Memórias dá algumas respostas. E foi da leitura de excertos com alunos do 7º, 8º e 11º anos que celebrámos a 24 de novembro essa figura muito rara e de grande inspiração chamado Rómulo de Carvalho.)

Eu digo "pobre de mim" como diria pobre do pobre que está sentado à soleira da porta a apanhar sol e a coçar as costas. Mas ele, o pobre,ainda é feliz porque ao vê-lo desejo ajudá-lo, e eu era um ser indefeso que ninguém pensava em ajudar. Nunca tive vocação nem jeito para viver, inclinação elementar que qualquer ser, mesmo sem ser humano, possui por natureza. Tão incapaz, tão estranho, tão desajustado que ainda hoje, aos oitenta e um anos, me sinto tão surpreendido de viver como aquele frágil menino de um ano a quem a irmã mais velha ampara, no retrato, para que não caia do alto da coluna de madeira em que o poisaram.

Ele tem a cabecinha um pouco inclinada sobre o lado direito como quem pede auxílio, e eu sempre assim a mantive, mas por dentro, dissimulada numa cara comprida e talvez severa, implorando o mesmo auxílio. Sou um pobre ser necessitado de carinho, à espera de um afago que lhe cerre os olhos interiores com deleite como os gatos quando se deitam de barriga para cima. Preciso de amor constante, o amor que se exprime em cada gesto e em cada olhar do quotidiano, mesmo sem contactos, sem palavras, sem premeditações, espontâneo, natural. Amor é um termo ambíguo que se presta a ridicularizar quem o pronuncia. Mas este de que falo não é o que nos faz supor de olhos brancos, em alvo. O amor de que falo é o que se opõe ao ódio, à violência, à dissimulação, ao orgulho, à prepotência, a todas essas "virtudes" que adornam os humanos com os loiros dos triunfos.

Por não possuir tais "virtudes" fui sempre encarado com uma ponta de desconfiança pelos meus companheiros de existência porque naturalmente sentiam a minha impenetrabilidade às suas manobras, manobras correntes, quase inocentes, atitudes do dia-a-dia, de momento a momento, só detectáveis por um escrúpulo demasiado como sempre foi o meu. Em jovem já guardava da humanidade o mesmo sentimento que conservo, a mesma incompatibilidade com as normas correntes de conduta social  e privada, e a passagem dos anos apenas veio dar mais solidez e convicção às suspeitas do instinto.  Aliás, se me alheasse dessas normas por um instante bastaria pegar em qualquer jornal do dia para tudo se avivar. Felizmente a vida proporcionou-me encontros com algumas excpções ao tipo comum do ser humano, e acolhi-as com comoção.

Apesar destes rigores falo bem a toda a gente, uso boas palavras, não me exalto, e posso-me gabar que nunca, na vida inteira, me zanguei com alguém, nunca cortei relações com alguém, nunca virei a cara a alguém. É que, meus queridos tetranetos, eu não detesto os outros nem fujo ao seu convívio se os vejo aproximarem-se de mim. Os meus sentimentos para com os outros não são de repulsa, mas (imaginem!) de pena, de piedade. tenho pena de ver as pessoas presas aos seus preconceitos, às suas ansiedades, aos imperativos da sua hereditariedade, ao peso das tradições, aos condicionamentos do ambiente físico  e humano em que nasceram ou vivem. Tenho pena de todos, e também tenho pena de a ter, porque as pessoas preferem ser odiadas a suscitarem pena. No fundo somos todos irresponsáveis, tanto eles pelo que fazem como eu por reparar nisso.


Rómulo de Carvalho. (2010). Memórias. Lisboa: fundação Calouste Gulbenkian

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dia nacional da cultura científica - Cartaz

Rómulo de Carvalho - Escritor do mês

Rómulo de Carvalho

Dia nacional da cultura científica 2015

No dia nacional da cultura científica alunos do 11º ano e do 7º ano partilharam experiências e emoções em redor das ideias de divulgação científica de Rómulo de Caravlho, das suas memórias e das palavras do seu amigo, António Gedeão. Foram feitas pequenas experiências, com base no livro Física para o Povo sob a supervisão da professora Leonor. Foram escolhidas as seguintes::
  1. Centro de massa;
  2. Periscópio;
  3. Ímanes;
  4. Ilusões óticas;
  5. Figuras de cinema;
Foram lidos excertos das Memórias de Rómulo de Carvalho e apresentadas algumas ideias sobre a sua vida de divulgador de ciência e professor. A terminar ouviram-se alguns podcasts e foram lidos poemas de António Gedeão. A sessão foi muito interessante pelas suas componentes de ciência e poesia e pela memória de um homem, que sendo em si muito desprendido era uma figura imensa na sua humanidade. A acabar cantou-se os parabéns a Rómulo e partilhou-se um bolo de chocolate. Talvez os alunos associem no futuro Rómulo de Carvalho e António Gedeão a esta sessão e aos sabores partilhados, assim como às ideias discutidas. É uma esperança agradável de se ter.