quarta-feira, 29 de abril de 2015

Boletim Bibliográficico

Boletim da Biblioteca

Pina Baush - Da fantasia do corpo e do sorriso


Embalou o corpo entre o encanto e o desencontro, numa fantasia de movimentos. Foi a grande criadora da dança moderna e fez da expressão da vida uma pintura de encanto. Atuou muitas vezes em Portugal e deu a quem teve o privilégio de ver os seus espetáculos uma oferta de encantamento. Dela temos a memória de uma coreografia onde exprimiu de um modo sublime o sentimento, o corpo e a graça.

Os seus movimentos foram tão belos que as palavras são uma imperfeição. Por momentos podemos pensar que há criadores que ultrapassam as palavras, as impedem de devolver a substância dos gestos, "a pedra" de que a intimidade soube respirar. Resta-nos uma memória viva da sua graça, da sua sabedoria, pois o encantamento do corpo e o encantamento do sorriso, ou o desencanto são também formas de sabedoria. As imagens do corpo, da dança, e da precariedade da vida tão ambiciosos em sonhos, mas tão limitados na eternidade.

A morte, pode ser "uma deslocação dentro da vida", um dano pouco relevante no mecanismo universal do universo, mas é para nós que vivemos numa dimensão de realidade diferente, é sempre um insulto à experiência que se perde. Na memória retenhamos quem nos trouxe a nossa própria dimensão de frente para os olhos. De onde nos admirámos do que sabemos ser possível construir e do que inevitavelmente perderemos. No Dia Mundial da Dança lembremos o seu nome, uma artista enorme, no melhor sentido da palavra. Pina Baush!

Rainha em Folha Nº 24

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Poesia de Alberto Caeiro - livro da semana

Título: Poesia de Alberto Caeiro 
Autor: Fernando Pessoa  
Edição: 1ªd. 
Páginas: 293
Editor: Assírio&Alvim
ISBN: 978-972-37-0654-3
CDU:  821.134.3-1"19"
Sinopse: 

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Fernando Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Boletim Bibliográfico

Dia Mundial do Livro - A leitura e o livro

Dia mundial do livro

 

O livro é um objeto único, raro por aquilo que nos dá. Ele é o único suporte de leitura que se basta a si próprio, pelo que só depende do leitor, do seu tempo privado, ao contrário da televisão, ou do cinema. O livro chama-nos, carece do nosso entusiasmo. Ler é assim, acima de tudo, o momento de construção de imagens, “o levantar a cabeça”, imaginado essas imagens que a leitura trouxe. A leitura, a sua essência repousa na construção dessa reflexão, nesse tempo individual. A leitura isola o leitor, permite a imobilidade, instala o silêncio e concede-nos um processo de contra-movimento contra a cidade, o grupo, o barulho, o movimento, os outros, libertando-nos do tempo.  

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Escritor do mês - Fernando Pessoa



Quem mais do que ele era ele? Foi o que se perdeu em si mesmo, por uns copos a mais ou pelas alucinações opiáceas muito em voga naquela altura? Fosse como fosse ou porque fosse, para além do poeta imergiu o filósofo da identidade perdida que por acaso até era a sua. Nota-se em toda a obra uma profunda angústia depressiva, uma ruptura do Eu com o mundo exterior e o inevitável refúgio num mundo alucinatoriamente centrado em si mesmo. Todos os heterónimos reforçam a ideia do isolamento, num universo humano de incompreensão e vazio de atitudes reflexivas.    
 
Por breves instantes, talvez mais em Álvaro de Campos, nota-se um verdadeiro esforço para valorizar o Outro «És importante para ti porque só tu és importante para ti. E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?». Mas mesmo aqui a sua escrita é decerto uma admoestação ao próprio e aos seus súbitos delírios de insatisfação. Em Alberto Caeiro, a mesma descrença nos outros continua presente «Falaram-me os homens em humanidade. Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade. Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si. Cada um separado do outro por um espaço sem homens.» Ricardo Reis revela um Pessoa em constante combate com Deus e com a ideia da existência de um ser superior. Para «calar» esse Deus, desenrola a sua vasta cultura clássica, criando uma tal Lídia para o guiar no percurso dessa revolta «Da verdade não quero mais que a vida; que os deuses dão vida e não verdade, nem talvez saibam qual a verdade.» Bernardo Soares é na minha perspectiva, o expoente da desilusão de Pessoa em relação tudo e todos «A mais vil de todas as necessidades - a da confidência, a da confissão é a necessidade da alma de ser exterior.
 
Confessa, sim; mas confessa o que não sentes. Livra a tua alma, sim, do peso dos teus segredos, dizendo-os; mas ainda bem que os segredos  que digas, nunca os tenhas tido. Mente a ti próprio antes de dizeres essa verdade. Exprimir é sempre errar. Sê consciente: exprimir seja, para ti, mentir.» 

 
Fernando Pessoa foi e continua a ser o paradigma da identidade perdida. Muitos psicólogos e psiquiatras se debruçaram sobre a sua vasta obra, descortinando nos poemas, uma possível esquizofrenia do poeta ou a tão famosa hoje, doença bipolar. Muitos chamam-lhe génio, outros consideram-no o maior poeta português de todos os tempos e ainda outros nunca o leram. Gostando ou não da sua obra, a verdade é que hoje, ela é, mais actual do que nunca. Leva-nos a reflectir sobre o individualismo que caracteriza a nossa sociedade, o consumismo versus o despojamento, os centros comerciais versus o contacto com a natureza, a legitimidade das acções versus os valores éticos das mesmas e o Eu versus os Outros.

(Um texto de outras vidas, do tempo em que se discutia Literatura em encontros / pontos de encontros na Almeida Garrett e de uma memória - a da Profª Ana Cristina Oliveira).

A cidade e as serras - exposição

E necessitava correr, reentrar na Cidade, mergulhar nas ondas lustrais da Civilização, para largar nelas a crosta vegetativa, e ressurgir reumanizado, de novo espiritual e Jacíntico! (...) Este delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um soberbo moço em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais. Só pelo nariz, afilado, com narinas quase transparentes, de uma mobilidade inquieta, como se andasse fariscando perfumes, pertencia às delicadezas do século XIX. O cabelo ainda se conservava, ao modo das eras rudes, crespo e quase lanígero; e o bigode, como o de um Celta, caía em fios sedosos, que ele necessitava aparar e frisar. (Jacinto, à porta do 202, A cidade e as serras, cap. I).

(Ponto de partida de uma exposição que a Biblioteca montou a partir de recursos próprios e outros já existentes, e onde se procura documentar um escritor muito especial, autor do mês, Eça de Queiroz. 
A Cidade e as Serras é o ponto central desta exploração visual e literária.)

Ilustração - Júlia Kovacs (de um projeto de ilustração de alunos do ensino secundário de uma escola de Faro, há alguns atrás).

Semana das Artes


segunda-feira, 13 de abril de 2015

Boletim Bibliográfico

Escritor do mês - Eça de Queiroz


José Maria de Eça de Queiroz nasceu na Póvoa do Varzim em 1845. Estudou entre o colégio da Lapa, na cidade do Porto, e a Universidade de Coimbra, onde entrou no primeiro ano, em 1861. Aqui, ligou-se a uma geração académica, admiradora das ideias de Proudhon e de Comte. Travou conhecimento com Antero de Quental e iniciou a sua carreira literária, com a publicação de folhetins que mais tarde seriam agrupados nas Prosas Bárbaras (1905).

 Em 1866, formou-se em Direito e passou a viver em Lisboa, onde exerceu a profissão de advogado. Cimentou a sua ligação a Antero de Quental e ao grupo do Cenáculo (1868), após ter dirigido o Distrito de Évora (1867). Em 1869, viajou até ao Egito, para fazer a reportagem sobre a inauguração do Canal do Suez, de que resultará O Egipto, publicado apenas em 1926.

Em 1871, participou nas Conferências do Casino Lisbonense. Entre 1869 e 1870, publicou diferentes obras, tais como Os Versos de Fradique Mendes, O Mistério da Estrada de Sintra, em parceria com Ramalho Ortigão e iniciou a publicação das Farpas. Em 1871, foi nomeado 1.º Cônsul nas Antilhas espanholas, transitando depois para Cuba, onde permaneceu dois anos. Entre 1883 e 1887, refez algumas das suas obras e publicou o Conde D’Abranhos e Alves & Companhia. Em 1874, passou a desempenhar a sua atividade em Inglaterra, foi em Newcastle que terminou O Crime do Padre Amaro (1875), ali ficando até 1878.

 Após esta data, foi para Paris, onde se dedicou à criação literária e onde faleceu em 1900. Em 1888, publicou a sua grande obra Os Maias e foi nomeado Cônsul em Paris. Continuou a escrever diferentes textos e obras, como A Ilustre Casa de Ramires ou a publicação na Revista Moderna, em Paris. 

Eça é um dos maiores escritores de língua portuguesa, sendo em muitos aspetos uma figura que cria um mundo novo que alcança formas novas de exprimir um modernismo na escrita. É um dos escritores mais populares de língua portuguesa. A sua obra evoluiu de uma formulação inicial mais fantástica e influenciada por nomes como Baudelaire ou Heine, presente nos artigos e crónicas, para numa fase posterior se dedicar à crítica das instituições mais tradicionais, preocupando-se com a reforma social, dando-nos belos quadros de “crónicas de costumes.” Na última fase, encontramos uma escrita com mais esperança, com o culto da Natureza e de um certo regresso à simplicidade do homem, como se percebe em A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras ou a Correspondência de Fradique Mendes.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Poesia nas escolas - porque precisamos dela?


Five Reasons Why We Need Poetry in Schools


Reason #1: Poetry helps us know each other and build community.

Reason #2: When read aloud, poetry is rhythm and music and sounds and beats.

Reason #3: Poetry opens venues for speaking and listening, much neglected domains of a robust English Language Arts curriculum.

Reason #4: Poetry has space for English Language Learners.

Reason #5: Poetry builds resilience in kids and adults; it fosters Social and Emotional Learning. 

More ideas in this link. Just here.

 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

No mês da Poesia


Nos Estados Unidos da América, o mês de abril celebra-se como o mês da poesia. Existe um conjunto de recursos em língua inglesa sobre a poesia. É possível encontrar um conjunto de recursos de grande significado:

  • o valor da poesia como recurso pedagógico;
  • planos de atividades sobre formas der exploração da poesia;
  • o valor civilizacional da poesia;
  • bancos de poemas sobre diferentes, mas essenciais poetas, tais como Walt Whitman, Yeats, Oscar Wilde ou Keats. 
Este recurso educativo está disponível, aqui.

Os Maias - Livro da semana

Título: Os Maias 
Autor: Eça de Queiroz  
Edição: 7ª 
Páginas: 681  
Editor: Livros do Brasil 
ISBN/DL: PT - 80023/94
CDU:  821.134.3-31"18"
Sinopse:  José Saramago disse deste livro e de Eça que se tratava do maior livro escrito pelo maior escritor de todos os tempos. É um retrato de uma família do Portugal de oitocentos, mas também e sobretudo o de um País encostado a uma visão do mundo impreparada para o tempo de transformação das ideias e da sociedade. No tempo conjuntural em que todos vivemos, alguns, muitos conseguem observar a espuma da água que chega à praia, outros vislumbram a onda e o seu movimento, mas muito poucos conseguem compreender o que internamente permite o movimento, o tempo da longa duração. Na vedade, o que impede novas cores e novas possibilidades que a maioria apenas observa. Eça teve essa capacidade. Conseguiu dar-nos em páginas de génio o que nos faz pertencer a um tempo civilizacional e não participar dele, da sua transformação. 

Top 5 - Os leitores (2º Período)

7º ano:
1. Sofia Allen;
2. Manuel Maria Neves;
3. Mafalda Nascimento;
4. Maria João Gomes Teixeira;
5. Duarte Matias.

8º ano:
1. Madalena Cruz Pinto;
2. Diogo Baltazar;
3. Tatiana Raquel Rendeiro;
4. Leonor Récio Correia Duque;
5. Ricardo Pereira.

9º ano:
1. Tomás Ramos;
2. Inês Barros;
3. Catarina Ventura;
4. Joana Goldschmit;
5. João Romão.

Ensino Secundário:
10º ano:
1. Ana Catarina Neves Gonçalves;
2. António Varela Cid;
3. Maria do Carmo Vaz Antunes;
4. Ana Luísa Lopes;
5. Maria Madalena Mascarenhas.
11º/ 12º anos:
1. Ricardo Tomás da Silva;
2. Natália Oliveira;
3. Sandra Ferreira;
4. Caetana Fernandes Thomaz;
5. Francisco Diniz;

Top 10 - Livros (2º Período)


  

  

 
  


terça-feira, 7 de abril de 2015

abril

Celebra-se o vinte e cinco
de Abril de setenta e quatro,
pois Abril é revolução
no ar, sim, como no chão,
onde alguém desenha a giz
a silhueta futura (...)

Abril é também promessa
de tesouros no Estio,
que está longe  (ainda é frio).
águas mil por certo vêm,
mas outros dias já trazem
uma luz azul também.

E este Abril é ainda
o mês em que os livros voam
da minha mão para a rua,
da tua p'rá minha mão,
e das mãos voam p'rós olhos
e dos olhos para a mente
e daí p'ró coração.

João Pedro Mésseder, "Abril", in O Livro dos Meses 
Imagem, Flor de Primavera, Jettie Rosenboon

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Páscoa


                                                    Uma Feliz Páscoa a todos!