LIVRO DOS MESES DE NOVEMBRO e DEZEMBRO 2024/ 2025
Alain de Botton, A Arte de Viajar
Este autor, com formação em Filosofia e divulgador de
Filosofia, tem publicado vários livros e vídeos de divulgação, tendo
inclusivamente fundado a The School of Life (www. Theschooloflife.com).
Neste livro, em particular, o autor reflete sobre a
importância da Viagem(ns) na nossa vida. Tendo sido escolhido, no DIA MUNDIAL
DA FILOSOFIA, pelo grupo de Filosofia da nossa escola, o tema da VIAGEM, e de
acordo com os trabalhos realizados pelos nossos alunos, do 11º Ano – Vamos
Viajar com Descartes, a VIAGEM pode ser, também, pensada como viagem filosófica
através dos tempos e lugares.
Este livro apresenta-nos todo o imaginário filosófico que
representa a Viagem quer como antecipação duma descoberta, um rito de passagem,
uma revelação de lugares e a sua preservação na memória. O autor vai passando
por vários temas e autores, da literatura, à filosofia e à arte dando-nos
pistas para compreender a importância da Viagem como alargamento da ideia de
mundo e “intervalo (s)” de continuidade/descontinuidade da experiência do
Viver, em que o corpo e o espírito são convocados a uma transformação e
processo interminável.
Recuando aos séc. XVI-XVII, no caso da expansão portuguesa
ligada aos Descobrimentos, nunca podemos esquecer a grandiosidade da “gesta
portuguesa” bem imortalizada na literatura por Camões – não esqueçamos que
estamos a celebrar os 500 anos do seu nascimento – n’Os Lusíadas, com a célebre frase “Portugal deu novos mundos ao
Mundo” (vide Canto II). Podemos, portanto, considerar uma Literatura de Viagens
na base da nossa cultura. Sabemos da importância da Viagem na expansão da Geografia,
de novas gentes e povos desconhecidos, das várias ciências, nomeadamente a
botânica e zoologia, na emergência de uma nova física (com Galileu e outros) e
toda uma nova conceção de Universo ligada ao Heliocentrismo.
No caso de René Descartes (1596-1650), estando este na
clivagem entre duas épocas – a época medieval, uma vez que foi educado no
modelo escolástico no Colégio de la Flèche, e a época moderna – vemos como a
Viagem está bem patente no seu novo projeto filosófico, o Racionalismo. De permeio,
não podemos ignorar o período do Renascimento onde voltaram a florescer os ideais
clássicos do Classicismo, Humanismo e Antropocentrismo. Todos estes fatores
irão potenciar uma autêntica “rutura epistemológica” a nível
sócio-histórico-cultural e científico e filosófico, que estarão como chão que
permitirá a Descartes repensar todo o sistema de saber face a novas exigências
no modelo de verdade. A separação da razão e da fé, com a crescente confiança
do homem em si mesmo e na sua razão, levarão Descartes ao seu
Racionalismo.
Como filósofo, ousou
pensar e “sair de casa”, acabando por se sentir “estrangeiro” e
“incompreendido” no seu país, viajou para a Holanda, onde a partir daí abriu
novos caminhos e “colheu várias experiências”, “passando por vários países,
cortes e exércitos”, conhecendo e convivendo com “gente de outras condições” e
criando uma nova linguagem (mathesis
universalis) para “ler e estudar o grande livro do Mundo”.
(vide Discurso
do Método, I Parte).
Partindo do seu Cogito,
ergo sum – Penso, logo Existo, que hoje todos conhecemos, encontrou o ponto
de apoio arquimediano - “Dêem-me um ponto de apoio e eu levantarei o Mundo!” -
que lhe permitiu construir todo um edifício, como ele gostava de dizer, e à
maneira de um arquiteto ou engenheiro encontrou as bases de uma nova
compreensão metafísica, física (Mecanicismo) buscando na Filosofia os grandes
fundamentos para “bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências”. Um
sábio que nunca se vergou perante as adversidades do seu tempo.
Por isso Viajar com Descartes “é abrir os olhos” para PENSAR.
PENSAR para além das aparências, para além dos preconceitos,
para além da tradição, para além das fronteiras geográficas, das mentalidades fechadas
de um país, de um fundamentalismo dogmático sem justificação racional.
DESCARTES É UM SÁBIO que nos ensina a Viajar e como a VIAGEM
é sempre uma descoberta, um encontro e uma promessa de FUTURO.
Isabel Nunes de Sousa (Filosofia) e Ana Cristina Tavares (Coordenadora da Biblioteca Escolar)