Os Filósofos e o Amor: Amar, de Sócrates a Simone de Beauvoir,
Aude LANCELIN e Marie LEMONIER,
Lisboa, ed.
Tinta da China, 2010
Este livro percorre toda a tradição ocidental, desde a
Grécia Antiga aos Tempos Atuais, revisitando as principais fases e obras de
grandes pensadores.
Toda a “ mitologia” divinizante do Amor tem a sua
fonte na visão platónica. Quem já não ouviu falar do Amor Platónico? A
literatura acaba por dar expressão ao Amor de forma sublimada, sobretudo a
partir do Renascimento, sendo Camões um dos mais conhecidos expoentes na sua
Lírica. A influência cultural e o papel civilizacional do Amor, entendido ora
como paixão, mais ligada aos sentimentos exasperados de um corpo-alma possuída
pelos desejos e pulsões, ora como uma forma elevada de alcançar a
transcendência (como Platão o entendeu já no Banquete) são o testemunho de que
o Amor abarca várias formas e não se esgota numa única fórmula.
O Amor, linguagem do
coração, donde emergem os vários sentimentos, de que o maior expoente é a
saudade - quem não se lembra das Cantigas de Amor e de Amigo de D. Dinis “ Que
soidade de mia senhor/ quando me nembra dela qual a vi/ rogu´eu a Deus que mi a
leixe veer”, na busca de encontro do Eu com o Outro, acabam por nos levar
inevitavelmente para a questão da união profunda entre dois seres que o Amor
permite.
A adoração do ser amado, expressa na poesia de Camões
“ Transforma-se o amador na cousa amada/ por virtude do muito imaginar/ não
tenho logo mais que desejar/ pois em mim tenho a parte desejada./ Se nela está
minha alma transformada, que mais deseja o corpo alcançar?/ em si somente pode
descansar/ pois consigo tal alma está liada…”
Quer se encare o Amor pelo ponto de vista físico e antropológico/psicológico
ou metafísico tomando o Amor como a Alma do Universo que tudo rege (veja-se
Empédocles como o seu archê, em que o
Amor e o Ódio tudo dirigem no Cosmos), até às mais atuais formas de compaixão
pelos seres vivos (os animais em particular) fizeram da Ecologia, sobretudo a deep Ecology
(A. Naess), uma forma de expressar o amor à Natureza, com uma força
metafísico-espiritual tão profunda como nos Gregos. O desejo de fusão com o Outro,
com o Todo introduz o paradoxo da impossibilidade do Amor absoluto e ultrapassa
todas as formas concretas da sua expressão. Tudo muda e flui permanentemente,
mas o Fundo deve permanecer na sua essência, como a fonte que tudo une a que
tudo retorna. Esta, uma das perspetivas que dão sentido às narrativas orientais
onde a teoria dos Chakras e o Nirvana são concebidos como faces de um busca de
equilíbrio pessoal e Cósmico.
Temos ainda o Amor na sua face trágica onde o
sofrimento pela não correspondência, frustração ou perda e sofrimento associados,
mostram que o Amor é uma força motriz pela qual se vive e se morre. Tal
tragédia atinge o seu auge no amor romântico de “Romeu e Julieta” de
Shakespeare. Na filosofia temos o exemplo paradigmático de S. Kierkegaard que
motivou a orientação do seu pensamento filosófico para o estádio
ético-religioso.
A partir do séc. XX o Amor adquiriu um lugar central
na sociedade. Vários fatores contribuíram para uma disseminação e afirmação
mais visível do Amor. A crítica à sociedade tradicional na sua cisão corpo-alma
bem como a valorização da esfera pessoal de cada um, com o movimento hippie e o
surgimento do rock como forma de expressão musical efusiva de emoções dos
jovens e evasiva à autoridade religiosa e institucional, a influência das lutas
feministas (onde Simone de Beauvoir tem lugar de destaque com a obra “ O
Segundo Sexo”), o surgimento da Psicanálise com S. Freud e a assunção da
sexualidade como dimensão essencial do ser humano, reprimida na tradição, os
vários discursos quer ao nível literário (R. Barthes) e filosóficos (Sartre,
Beauvoir, Heidegger, Arendt) permitiram essa emancipação e conduziram-nos a uma
consciência das múltiplas formas de amor possível, fruto de um Projeto de Vida
Boa e LIBERDADE.
Equipa da
Biblioteca Escolar
Professora de Filosofia
Isabel Nunes de Sousa
A Profª Bibliotecária: Ana Cristina Tavares