Já alguém sentiu a loucura
vestir
de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E
acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o
fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e
qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E
dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem
resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer
abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher
novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente
ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do
impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda
mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só
uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só,
loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as
necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham
razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina
peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier
buscar
José de Almada Negreiros |
Sem comentários:
Enviar um comentário