quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Os filósofos e o Amor - Convite à leitura em fevereiro-março

Os Filósofos e o Amor:  Amar, de Sócrates a Simone de Beauvoir,                         

Aude LANCELIN e Marie LEMONIER,

 Lisboa, ed. Tinta da China, 2010

Este livro percorre toda a tradição ocidental, desde a Grécia Antiga aos Tempos Atuais, revisitando as principais fases e obras de grandes pensadores.

Toda a “ mitologia” divinizante do Amor tem a sua fonte na visão platónica. Quem já não ouviu falar do Amor Platónico? A literatura acaba por dar expressão ao Amor de forma sublimada, sobretudo a partir do Renascimento, sendo Camões um dos mais conhecidos expoentes na sua Lírica. A influência cultural e o papel civilizacional do Amor, entendido ora como paixão, mais ligada aos sentimentos exasperados de um corpo-alma possuída pelos desejos e pulsões, ora como uma forma elevada de alcançar a transcendência (como Platão o entendeu já no Banquete) são o testemunho de que o Amor abarca várias formas e não se esgota numa única fórmula.

 

O Amor, linguagem do coração, donde emergem os vários sentimentos, de que o maior expoente é a saudade - quem não se lembra das Cantigas de Amor e de Amigo de D. Dinis “ Que soidade de mia senhor/ quando me nembra dela qual a vi/ rogu´eu a Deus que mi a leixe veer”, na busca de encontro do Eu com o Outro, acabam por nos levar inevitavelmente para a questão da união profunda entre dois seres que o Amor permite.

A adoração do ser amado, expressa na poesia de Camões “ Transforma-se o amador na cousa amada/ por virtude do muito imaginar/ não tenho logo mais que desejar/ pois em mim tenho a parte desejada./ Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo alcançar?/ em si somente pode descansar/ pois consigo tal alma está liada…”

Quer se encare o Amor pelo ponto de vista físico e antropológico/psicológico ou metafísico tomando o Amor como a Alma do Universo que tudo rege (veja-se Empédocles como o seu archê, em que o Amor e o Ódio tudo dirigem no Cosmos), até às mais atuais formas de compaixão pelos seres vivos (os animais em particular) fizeram da Ecologia, sobretudo a deep Ecology (A. Naess), uma forma de expressar o amor à Natureza, com uma força metafísico-espiritual tão profunda como nos Gregos. O desejo de fusão com o Outro, com o Todo introduz o paradoxo da impossibilidade do Amor absoluto e ultrapassa todas as formas concretas da sua expressão. Tudo muda e flui permanentemente, mas o Fundo deve permanecer na sua essência, como a fonte que tudo une a que tudo retorna. Esta, uma das perspetivas que dão sentido às narrativas orientais onde a teoria dos Chakras e o Nirvana são concebidos como faces de um busca de equilíbrio pessoal e Cósmico.

Temos ainda o Amor na sua face trágica onde o sofrimento pela não correspondência, frustração ou perda e sofrimento associados, mostram que o Amor é uma força motriz pela qual se vive e se morre. Tal tragédia atinge o seu auge no amor romântico de “Romeu e Julieta” de Shakespeare. Na filosofia temos o exemplo paradigmático de S. Kierkegaard que motivou a orientação do seu pensamento filosófico para o estádio ético-religioso.

A partir do séc. XX o Amor adquiriu um lugar central na sociedade. Vários fatores contribuíram para uma disseminação e afirmação mais visível do Amor. A crítica à sociedade tradicional na sua cisão corpo-alma bem como a valorização da esfera pessoal de cada um, com o movimento hippie e o surgimento do rock como forma de expressão musical efusiva de emoções dos jovens e evasiva à autoridade religiosa e institucional, a influência das lutas feministas (onde Simone de Beauvoir tem lugar de destaque com a obra “ O Segundo Sexo”), o surgimento da Psicanálise com S. Freud e a assunção da sexualidade como dimensão essencial do ser humano, reprimida na tradição, os vários discursos quer ao nível literário (R. Barthes) e filosóficos (Sartre, Beauvoir, Heidegger, Arendt) permitiram essa emancipação e conduziram-nos a uma consciência das múltiplas formas de amor possível, fruto de um Projeto de Vida Boa e LIBERDADE.   

 

     Equipa da Biblioteca Escolar

       Professora de Filosofia

       Isabel Nunes de Sousa




A Profª Bibliotecária: Ana Cristina Tavares

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