quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Memória de Francisco Sá Carneiro

Nos dias amarelecidos de pouca coragem com que as sociedades emergem, na formulação estabelecida por sistemas políticos e mediáticos dominados pela prudência, pelo "calcozito" tão bem expressa por Eça, vale a pena distinguir os que se destacaram pela coragem, pela ousadia de se pensarem como elementos de uma comunidade.  Acima das fórmulas importadas e mantidas pelo conforto ideológico e financeiro há que distinguir quem pretendeu marcar na praia sossegada e prevível dos dias algo de diferente, qualquer ideia de mudança, uma paixão pelo confronto com a realidade estática.

Existem pessoas que parecem ter uma áurea significativa para impulsionar os movimentos de mudança, acreditando em convinções, como se elas assegurassem sempre um ganho em qualquer contexto, apesar das dificuldades. Existem pessoas que parecem ter uma dádiva de conquista pelo seu carisma, pela luta intransigente, pela ruptura, sem concessões por uma quietude mais calma. Ruptura alimentada por ideias, que a si se pensam sobre a sociedade, as oportunidades e a vida que se alimenta apenas de si própria.

Existem pessoas que emergem como alimento de uma onda maior que projetaram, arriscando as convições no seu objectivo de alimentar a confiança e o entusiasmo. Apesar de ainda só terem passado pouco mais de trinta anos, o que em História é uma ninharia, não é difícil entregar a Sá Carneiro esse papel com que arriscou os dias. O que teria sido nunca o saberemos. Foi uma figura de primeiro plano na conjuntura dos anos setenta do século passado. No adormecimento de valores que o País vive há duas décadas, Sá Carneiro deixou-nos a interrogação de sabermos até onde iria a sua convição pelo afrontamento, pela criação de rupturas para algo diferenciado nos dias. 

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