sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Lembrança de Ruy Belo

Na minha juventude antes de ter saído
de casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido.

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido.

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer.

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer.
Ruy Belo, in Homem de Plavra[s]
Imagem, in corpodepoema.blogspot.com

(Nos oitenta e dois anos do nascimento de  Ruy Belo....)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Todos Charlies - diferentes e iguais

O mundo acontece lá fora e aqui. Ainda bem! Há opiniões, há pensamentos, há ideias. Há letras e palavras que se cruzam em páginas do real, novas, atuais; memórias dos dias.


Todos Charlies diferentes
Todos Charlies iguais

As liberdades não são todas iguais, apesar de se aplicarem a todos da mesma forma.
A liberdade de fazer humor é diferente da liberdade de expressão e deve ser tratada como tal. Discutir política envolve respeitar os ideais do próximo, tal como discutir religião ou racismo. E devemos fazê-lo de forma séria. Mas isto não se aplica ao humor.
O humor não é sério no sentido habitual, mas deve ser intocável e, se me é permitido, sagrado. Não se deve discutir o ato de fazer humor pois isso viola o seu propósito puro e imaculado, tornando-o sujo, sisudo, amargo, tal como era o dever do bobo fazer humor com a família real, também era dever do rei não ficar ofendido com isso. A ofensa é o maior perigo do humor pois quem tem pouca inteligência não sabe estar ofendido. 
Saber ser ofendido pelo humor é saber fazer autocrítica. Tal como diz o comediante Louis CK: “ Se não chocarmos ninguém, não obrigamos ninguém a pensar.” Falhamos, portanto.
Por outro lado, será que o Charlie Hebdo violou o humor ao se caracterizar como publicação de esquerda? Talvez, mas isso não deve ser visto assim. Ser humorista é algo que deve estar à parte da orientação política. Independentemente da nossa personalidade, devemos saber fazer e respeitar o humor. O maior problema será mesmo a inexistência de Charlies de direita, muçulmanos, católicos, cientologistas… Podemos odiar-nos, mas temos de respeitar e praticar ao máximo a capacidade de fazer humor. Devemos ser todos Charlies, todos Charlies diferentes.

Tomás Melo Bento Quental Pereira, 11.º B

No nascimento de David Mourão-Ferreira

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A viagem como conhecimento e descoberta - Garrett e Sepúlveda

Almeida Garrett - Luís Sepúlveda (A viagem)

Into the wild - Livro da semana

Título: O lado Selvagem 
Autor: Jon Krakauer 
Edição: 1ª 
Páginas:220
 Editor: Editorial presença
 ISBN: 978-972-23-3871-4 
CDU: 821.111(73)-31"20"
Sinopse: " Se um dia e a noite são de tal forma que se saúdam com alegria, e a vida irradia uma fragância que lembra flores e ervas aromáticas, é mais elástica, mais estrelada, mais imortal - é esse o teu sucesso. 

A natureza inteira é o teu aplauso, e tens uma razão momentânea para te abençoares. Os maiores ganhos e valores estão longe de ser apreciados. Facilmente duvidamos que eles existam. 

Facilmente os esquecemos. São a realidade mais elevada... A verdadeira colheita da minha vida diária é de alguma forma tão intangível e indescritível como as tonalidades da manhã ou do fim do dia. É um leve pó de estrelas surpreendido, uma porção de arco-íris que agarrei". 

 Jon Krakauer, O Lado Selvagem
 citado de Henry David Thoreau, Walden, Or Life in The Woods

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"Charlie ou retrocesso"

O mundo acontece lá fora e aqui. Ainda bem!
Há opiniões, há pensamentos, há ideias. Há letras e palavras que se cruzam em páginas do real, novas, atuais; memórias dos dias.

Charlie ou retrocesso
“Pode parecer algo presunçoso o que vou dizer mas prefiro morrer de pé a viver de joelhos”
                                              Charb, jornalista da publicação Charlie Hebdo, depois do atentado de 2011

“Sonha e serás livre de espírito, luta e serás livre na vida”
                                                                                        Che Guevara

Abstenho-me de descrever os atentados, nos quais morreram alguns dos nosso verdadeiros mártires, porque o leitor conhecê-los-á tão bem como eu, mas julgo existirem dois pontos de análise fundamentais: a questão da liberdade de expressão e o fomento do extremismo (europeu) pelo extremismo (islâmico).
Tem-se defendido que determinados termos não devem ser discutidos porque facilmente melindram alguém. A verdade é que tudo o que dissermos é suscetível de insultar. A isenção é impossível.
“O nosso limite são os outros”. E se o limite dos outros for uma religião na qual as mulheres não têm direitos? Não posso criticá-lo?! É meu dever fazê-lo! Concordo com Mandela, mas criticar não é desrespeitar e esta crítica, creio, pode conduzir à libertação dos implicados, ao encorajamento do seu espírito crítico, da reflexão sobre si mesmos.
A liberdade de expressão, que não é o incentivo ódio-crime, desejavelmente punido judicialmente – não deve ter limites (o que não significa que seja moral dizer tudo). É quem se deixa afetar por um desenho que tem um problema, não quem o desenha.
Não há palavras para descrever este ataque, mas pior será se ele levar à regressão do Ocidente. A discussão acerca dos limites da liberdade de expressão é sugestiva. A Oxford Editora proibirá as publicações em que o porco surja como personagem (o conto Os Três Porquinhos, por exemplo) pois podem ser considerados ofensivas por muçulmanos e judeus; Marine Le Pen sugeriu o regresso da pena de morte; fala-se me fechar a Europa, ignorando os que nela veem a única possibilidade de uma existência digna.
Isto não pode acontecer. A Europa não pode ceder, tem de continuar a ser o continente da justiça e da liberdade que, apesar de tudo, tem sido.
Todos temos de, sem hipocrisias, ser Charlie, apontar os nossos defeitos (ou deixar que no-los apontem, os humoristas) e diminuí-los. Tentar um mundo mais livre, justo e tolerante, no qual se possa discutir tudo e se encoraje e respeite a liberdade dos outros, é nosso dever moral.
A escolha é: Ser Charlie ou aceitar o retrocesso.

Je suis Charlie!

Sofia Sequeira, 11.º B

Boletim Bibliográfico

Boletim Bibliográfico - (fevereiro) - Luís Sepúlveda

Patagónia Express - Livro da semana

Título: Patagónia Express
Autor: Luís Sepúlveda
Edição: 1ª
Páginas: 149
Editor:Porto Editora
ISBN: 978-972-0-04369-6
CDU: 821.134.2(83)-992"19/20"

Sinopse: Os índios da Patagónia mantiveram uma longa relação com a quila e não só pela bondade da sua utilização como igualmente pelas suas virtudes de trágico e infalível oráculo. Sempre que floresceu a quila advieram tempos de dor e desolação. A sua flor é de uma intensa e premonitória cor vermelha, e os Tehuelches calculavam a sua idade consoante o número de vezes que a tinham visto florescer. Os que foram testemunhos daquele portenho mais de duas vezes tinham certamente muito que contar ao calor das fogueiras.
    Hoje restam poucos Tehuelches e Mapuches na Patagónia. São sobreviventes que, agarrados à sua dignidade, decidiram não ser maisum simpático pormenor étnico para diversão dos turistas, e vivem e excercem uma espantosa cultura de resistência e de memória de ambos os alados da cordilheira dos Andes. As restantes etnias sucumbiram perante as regras de um processo cujos frutos ninguém é capaz de definir, e delas mal persistem as recordações ou testemunhos reunidos por alguns estudiosos que realizam o seu trabalho vigiados pelos preconceitos e a suspeita. É muito difícil escrever a história dos vencidos, mas a quila continua lá, crescendo nos desfiladeiros, unida pelos invernos ao errante destino dos gaúchos pobres.
    Quando o mês de março encurta os dias, as abetardas cruzam o céu fugindo aos rigores invernais e o vento amontoa as nuvens nos vales, então os gaúchos reúnem os rebanhos de reses e empreendem a subida em direcção à cordilheira, para a estação do inverno. Não são muitos os bovinos nessa terra débil onde primeiro pastaram os guanacos e que mais tarde foi pisada por milhões de ovelhas na época dourada da lã. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Memória de Charles Darwin

Evolution Made Us All from Ben Hillman on Vimeo.

É uma das formas possíveis de compreender o Homem, a Vida e o Universo. Não é definitiva, mas tem em si possibilidades significativas. Desde os Gregos que o Homem procura compreender a sua natureza, mas também o que o envolve, o meio natural, através de equações que possam ser sistematizadas pela razão. 

Entre os criadores e pensadores de diferentes tempos que contribuíram para o alargamento da Ciência, um tem especial destaque, Charles Darwin. As ideias de Darwin abriram campos novos na ciência. Da Biologia, à Medicina e à Antropologia ele fez avançar a Ciência, que mais não é que a procura racional de compreender o mundo e os seus fenómenos. 

O campo científico contemporâneo é-lhe devedor na formulação do seu próprio pensamento. Um video que nos lembra a importância das suas ideias quando olhamos o universo e a natureza humana. Lembramos a sua teoria da evolução, no dia do seu nascimento.

Concurso nacional de leitura - fase distrital

 Já são conhecidas as obras para a fase distrital do Concurso Nacional de Leitura. 

Ensino Básico - 3º Ciclo:
Título 1: O Princípio da Noite
Autor: Tiago Patrício

Título 2: Um Crime no Expresso do Oriente 
Autor: Agatha Christie 






Ensino secundário
Título 1 : Rio homem
Autor: André Gago

Título 2: Crónica dos Bons Malandros
Autor: Mário Zambujal

Boas leituras para os alunos selecionados!


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Dia da Internet Segura

Neste dia a Biblioteca em colaboração com algumas turmas do 7º ano e o seu professor de Informática comemoram este dia com um conjunto de atividades. Foi feita uma apresentação digital com um conjunto de itens:
- Apresentação / reflexão sobre alguns alertas relacionados com situações concretas de privacidade e segurança de dados na internet; 
- visionamento de alguns vídeos (publicação de fotos / download de programas)
- apresentação de situações relacionadas com a ética e os modos de comunicar na net. Foram distribuídos alguns folhetos sobre esta temática, com indicações úteis sobre a segurança na net. A encerrar a atividade foi proposto um questionário que procurou saber os conhecimentos apreendidos pelos alunos.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O caminho da esperança - livro da semana

Título: O caminho da esperança
Autor: Stéphane Hessel / Edgar Morin
Edição: 1ª
Páginas: 66
Editor: Planeta
ISBN: 978-989-657-273-0
CDU: 316.42

Sinopse: 
"Nunca a humanidade juntou tanto poder a tanta desordem, tantas inquietações, tantos brinquedos, tanto conhecimento e tanta incerteza. A inquietação e a futilidade partilham os nossos dias entre si. 
Devemos perguntar o que faz pior, hoje em dia, à alma dos homens: a paixão cega que nutrem pelo dinheiro ou a impaciência febril de que sofrem" (...)

Na nossa sociedade falta empatia, simpatia e compaixão, substituídas por indiferença e ausência de cortesia entre pessoas que vivem muitas vezes no mesmo bairro, no mesmo prédio. Dizer bom-dia a um desconhecido significa reconhecê-lo, em termos humanos, digno de simpatia. Do mesmo modo, falta compreensão no seio das empresas, das famílias. 

Quando a missão se reduz à profissão, falta amor nos cuidados médicos, nos hospitais e no ensino, quando, como disse Platão. "para ensinar é preciso amor", is tó é devemos amar o conhecimento e aqueles a quem o passamos. Como muito bem disse Axel Honneth "é graças à experiência do amor que cada um de nós pode aceder à confiança em si próprio". A forma suprema do reconhecimento do próximo é o amor."

(Um livro sobre a chamada crise em que centros políticos e financeiros insistem em impor a milhões de pessoas, mas que é sobretudo um déficit espiritual e moral. Um pequeno livro sobre essa necessidade de acordar do estado de "olhos abotoados", na expressão singular de Miguel Torga.)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Rainha em Folha

Luís Sepúlveda

Luís Sepúlveda é com Garrett o escritor do mês na Biblioteca. O escritor chileno tem feito da sua experiência de vida um conhecimento que o faz refletir sobre o mundo. Reflexão onde se deve destacar esse edifício que procura levantar em palavras e gestos um testemunho de solidariedade pelas vozes esquecidas das culturas e povos da América do Sul. 

Luís Sepúlveda nasceu em 1949, em Ovalle, no Chile. De estudante do Maio chileno de 69, a companheiro e guarda pessoal de Salvador Allende, a guerrilheiro na Nicarágua, a preso político, a ativista da Amnistia Internacional, o escritor tem tido uma vida cheia de experiências, emoções e recordações. Memórias de um tempo histórico violento, mas rico em vivências. A sua obra é um testemunho de uma estética que procura na vida real construir uma ética sobre os valores humanos e sobre os sonhos de minorias.  

Com ele descobrimos a tradição da oralidade, o valor das histórias contadas em múltiplas aldeias, uma respiração própria, na autenticidade que o centro globalizado muitas vezes desconhece e ignora. Com ele descemos aos povoados solitários da Patagónia, aos caminhos de vento, aos abetardos, ou às gaivotas de tom cinzento que se lançam nesse puro frio que já se anuncia nas proximidades do estreito de Magalhães.

Os seus livros são a tradução de um imaginário, de uma memória e de uma cidadania, em defesa dos mais fracos, dos ausentes; eles são a confirmação de que a literatura também é uma inspiração para a vida e com ela. Na próxima semana, deixaremos um boletim bibliográfico com destaque para as suas principais obras.  

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Garrett - A memória de um tempo longo

(Livro emblemático de Garrett, numa viagem, onde o imobilismo social anunciava solidamente as dificuldades da sociedade liberal em se afirmar nos seus princípios mais nobres. Retrato de um anacronismo histórico que se repeteria no futuro, em formas diversas com outros atores). 

"Ora eu, que sou ministerial do Progresso, antes queria a oposição dos frades que a dos barões. O caso estava em a saber conter e aproveitar. O Progresso e a Liberdade perdeu, não ganhou. Quando me lembra tudo isto, quando vejo os conventos em ruínas, os egressos a pedir esmola e os barões de berlinda, tenho saudades dos frades - não dos frades que foram, mas dos frades que podiam ser. E sei que me não enganam poesias; que eu reajo fortemente com uma lógica inflexível contra as ilusões poéticas em se tratando de coisas graves.

E sei que me não namoro de paradoxos, nem sou destes espíritos de contradição desinquieta que suspiram sempre pelo que foi, e nunca estão contentes com o que é. Não, senhor: o frade, que é patriota e liberal na Irlanda, na Polónia, no Brasil, podia e devia sê-lo entre nós; e nós ficávamos muito melhor do que estamos com meia dúzia de clérigos de requiem para nos dizer missa; e com duas grosas de barões, não para a tal oposição salutar, mas para exercer toda a influência moral e intelectual da sociedade - porque não há de outra cá.

E senão digam-me: onde estão as universidades, o que faz essa que há senão dar o seu grauzito de bacharel em leis e medicina? O que escreve ela, o que discute, que princípios tem, que doutrinas  professa, quem sabe ou ouve dela senão algum eco tímido e acanhado do que noutra parte se faz ou diz?
Onde estão as academias?
Que palavra poderosa retine nos púlpitos?
Onde está a força da tribuna?

Que poeta canta tão alto que o ouçam as pedras brutas e os roblles duros desta selva materialista a que os utilitários nos reduziram? Se exceptuarmos o débil clamor da imprensa liberal já meio esganada da polícia, não se ouve no vasto silêncio deste ermo senão a voz dos barões gritando contos de réis.
Dez contos de réis por um eleitor!
Mais duzentos contos pelo tabaco!

Três mil contos para a conversão de um anfiguri!
Cinco mil contos para as estradas dos aeronautas!
Seis contos para isto, dez mil contos para aquilo!
Não tardam a contar por dezenas de milhares. 
Contar a eles não lhes custa nada.
A quem custa é a quem paga para todos esses balões de papel - a terra e a indústria.  (...)

Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana?"

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.

Garrett e o seu tempo


Almeida Garrett nasceu a 4 de fevereiro de 1799, no Porto. Teve na sua infância, uma formação religiosa e clássica. Concluiu o curso de Direito em Coimbra, onde aderiu aos ideais do liberalismo. Em 1823, após a subida ao poder dos absolutistas, é obrigado a exilar-se em Inglaterra onde inicia o estudo do romantismo (inglês), movimento artístico-literário então já dominante na Europa. 

Regressa em 1826 a Portugal e passa a participar na vida política. Em 1828 é obrigado a exilar-se novamente em Inglaterra devido ao curso do País com a guerra civil, no decurso das posições de D. Miguel. Em 1832, na Ilha Terceira,1832, integra o exército liberal de D. Pedro IV e participa no cerco do Porto. Exerceu funções diplomáticas em Londres, em Paris e em Bruxelas. 

Em 1836, torna-se  Inspetor-geral dos Teatros e funda o Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Nacional. A partir de 1842, com a ditadura de Costa Cabral, Almeida Garrett torna-se marginal à vida política e inicia o período mais produtivo da sua vida literária.

A partir da década de 1850, com Fontes Pereira de Melo, será nomeado visconde e desempenha a função de Ministro dos Negócios Estrangeiros. É sem dúvida um dos expoentes do romantismo português e um escritor que, entre géneros diversos, inovou na composição dos mesmos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A cidade de Garrett

O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras, sem outro fito  que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros a insurreição do olhar.

 O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos dos velhos, que a certas atravessam a rua para passarem os dias no café em frente, os olhos vazios, as lágrimas todas das crianças de S. Vítor correndo nos sulcos da sua melancolia. 

O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore, aproximando-me assim cada vez mais da restolhada matinal dos pardais, esses velhacos que, por muito que se afastem, regressam sempre à minha vida. Desentendido da cidade, olho na palma da mão os resíduos da juventude, e dessa paixão sem regra deixarei que uma pétala pouse aqui, por ser de cal.


Eugénio de AndradeA Cidade de Garrett
(Neste mês um dos autores escolhido e sobre o qual se farão propostas de atividades será Almeida Garrett. Um excerto de um livro muito especial, a cidade de Garrett). 

Planeamento - Atividades (fev-março)

Planeamento: Fevereiro-Março (Biblioteca)

As Farpas - Livro da semana

Título: As Farpas
Autor: Eça de Queiroz
Edição: 3ª
Páginas:639
Editor: Principia

ISBN: 978-972-8818-40-1
CDU: 821.134.3-3


Texto de colaboração entre Ramalho Ortigão e Eça de Queirós é um exemplar linguístico de uma época, de uma sociedade e de um país. Registo de correspondência entre dois escritores, é um livro que nos dá a sabedoria de olhar o real, a espuma que chega à praia e perceber o movimento, a impossibilidade de renovação a sucessivas gerações. José Maria soube ser um imenso sociólogo, tendo feito o diagnóstico de uma classe política naufragada em interesses particulares, que não permitem organizar institucionalmente o país. Por estas folhas se compreende o imobilismo do país e uma escrita e um pensamento modernos.