Todos Charlies diferentes
Todos Charlies iguais
As liberdades não são todas iguais, apesar de se
aplicarem a todos da mesma forma.
A liberdade de fazer humor é diferente da liberdade
de expressão e deve ser tratada como tal. Discutir política envolve respeitar
os ideais do próximo, tal como discutir religião ou racismo. E devemos fazê-lo de
forma séria. Mas isto não se aplica ao humor.
O humor não é sério no sentido habitual, mas deve
ser intocável e, se me é permitido, sagrado. Não se deve discutir o ato de
fazer humor pois isso viola o seu propósito puro e imaculado, tornando-o sujo,
sisudo, amargo, tal como era o dever do bobo fazer humor com a família real,
também era dever do rei não ficar ofendido com isso. A ofensa é o maior perigo
do humor pois quem tem pouca inteligência não sabe estar ofendido.
Saber ser
ofendido pelo humor é saber fazer autocrítica. Tal como diz o comediante Louis
CK: “ Se não chocarmos ninguém, não obrigamos ninguém a pensar.” Falhamos,
portanto.
Por outro lado, será que o Charlie Hebdo violou o humor ao se caracterizar como publicação de
esquerda? Talvez, mas isso não deve ser visto assim. Ser humorista é algo que
deve estar à parte da orientação política. Independentemente da nossa
personalidade, devemos saber fazer e respeitar o humor. O maior problema será
mesmo a inexistência de Charlies de
direita, muçulmanos, católicos, cientologistas… Podemos odiar-nos, mas temos de
respeitar e praticar ao máximo a capacidade de fazer humor. Devemos ser todos Charlies, todos Charlies diferentes.
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