quarta-feira, 4 de março de 2015

Do Infante ... o sonho

A quatro de Março do ano de 1394, nascia no Porto uma das mais ilustres figuras de uma geração que ficaria conhecida como a ínclita geração e de que Pessoa na sua mensagem chamaria o homem que na sua solidão conceberia eras novas e disporia o sonho de um mar novo sobre os escombros de "mortas eras". O seu papel na construção do lançamento da viagem para novos mundos foi essencial.

O sonho do infante chegou longe e permitiu construir uma outra ideia do mundo. Do Mediterrâneo ao Atlântico, construindo um mundo novo não fechado sobre si, como era a visão plotemaica, mas numa construção mental que integrava o mundo e o valor das esferas como ideia já não abstracta mas vivida nos espaços do quotidiano. Sobre esta temática a Fundação Calouste Gulbenkian apresentou há dois ano uma exposição chamada 360º Ciência Descoberta, de que se deixam algumas imagens. 

Foi desses infantes desconhecidos, que forjaram pelas ideias e pela vontade um mundo novo. O conhecimento dessa ciência, desses materiais, dá-nos como técnicas e pessoas erigiram um mundo mais aberto. Desse sonho inicial do Infante, outros nasceriam como Garcia da Orta ou Pedro Nunes, mas também o de médicos, cartógrafos, pilotos e das primeiras criações, das cartas onde se imaginaram tantas possibilidades de rumos novos. O Infante foi o melhor desse mundo de descobridores que faziam a viagem, por aquilo que ela faz em cada um de nós. O Infante D. Henrique foi assim um dos grandes percursores da viagem, como descoberta e construção.

Dessa viagem feita nasceram representações materiais de quem ousou combater o conhecimento garantido como universal, mas de natureza local, que ousou afundar as mais conhecidas das suas certezas. Com O Infante e com esse mundo de maravilhas se percebem que no estudo e na experimentação residem chaves para as ideias mais ousadas. Se devemos a Galileu ou a Copérnico muitas das ideias de um conhecimento novo das coisas, devemos ao Infante e aos seus marinheiros a viagem, a que permitiu reconstruir e fundar um mundo e uma ciência novas, afinal o sonho maior. O que constrói nos processos e nas formas a gestão do conhecimento.

Imagens:
Globo Celeste de Christoph Schissler, O Velho (1575)
Página de Suma de Árvores e Plantas da Índia - Ganges de Manuel Godinho de Erédia
Atlas da Índia natural / O códice de Jaume Honorat Pomar (séc. XVI)

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