Neste mês de março, mês do nascimento de um poeta que se confunde com o que foi a universalidade do património humano, advindo das viagens marítimas dos séculos XV e XVI.
Ruy Cinatti nasceu há noventa anos e foi um poeta que trouxe as questões antropológicas ao quotidiano que o Portugal do Estado Novo não conhecia.
Foi um poeta que revelou uma preocupação com as questões do desenvolvimento sustentado e integrado das comunidades. Preocupou-se com a diversidade do homem e as limitadas capacidades éticas do Poder face ao coração do homem. O poeta também da natureza, como fonte de inspiração, de um sentido humano. Do Timor esquecido e organizado em comunidades com tradições próprias deu conta em muitas horas de filme e de dedicação poética.
Paralelamente sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua
Com voz semelhante à minha.
O melhor mundo
Está por descobrir.
Não sequer a lua
Nem o perfil da proa.
Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado de oculto.
Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixe à tona de água
E precipitam asas na esteira de luz.
Da vida nada senão a melhoria
De um paraíso sonhado e procurado
Com ternura, coragem e espírito sereno.
Doçura luminosa de um olhar. Ameno
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras.
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua
Com voz semelhante à minha.
O melhor mundo
Está por descobrir.
Não sequer a lua
Nem o perfil da proa.
Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado de oculto.
Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixe à tona de água
E precipitam asas na esteira de luz.
Da vida nada senão a melhoria
De um paraíso sonhado e procurado
Com ternura, coragem e espírito sereno.
Doçura luminosa de um olhar. Ameno
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras.
Ruy Cinatti, "Vígilia". In Rosa do Mundo, 2001 Poemas Para o Mundo, Assírio & Alvim
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