O livro é um dos objectos raros, por onde se construíram caminhos, fronteiras que fundaram novas realidades. O livro alimenta a imaginação, cria a fantasia e concede-nos a possibilidade de alimentar novos territórios para uma esperança, feita de mundos alternativos aos critérios da econometria. O livro constrói no universo das ideias, um realismo superior à realidade, pois dá-nos as fronteiras ilimitadas da leitura.
Embora muitos dispensem esta chave de
abrir tesouros e vidas infindáveis ela é um imenso privilégio. É-o, pois significa
que superámos as mais baixas condições da utilidade dos dias, que já
não vivemos num quotidiano de carências, de sobrevivência e de medo. A
leitura permite ter acesso a um espaço de recolhimento, para desfrutar momentos
de lazer e de conhecimento.
O que faz a grandeza do livro é a sua
essência, isto é, não a leitura em si, mas a criação das imagens que ela
suscita. Podemos dizer que a leitura vale pela sua literacia. O livro é o único
suporte de leitura que se basta a si próprio, pelo que só depende do leitor, do
seu tempo privado, ao contrário da televisão, ou do cinema. O livro chama-nos,
carece do nosso entusiasmo. Ler é assim, acima de tudo, o momento de
construção de imagens, “o levantar a cabeça”, imaginado essas imagens que a
leitura trouxe. A leitura, a sua essência repousa na construção dessa reflexão,
nesse tempo individual. A leitura isola o leitor, permite a imobilidade,
instala o silêncio e concede-nos um processo de contra-movimento contra a
cidade, o grupo, o barulho, o movimento, os outros, libertando-nos do
tempo.
Os livros são assim os elementos de um
ritual de silêncio e descoberta, os instrumentos para a construção dum paraíso,
essa divindade, de que tanto carecemos, justamente as Bibliotecas. Com
elas e neles vivemos momentos, como respiração de recolhimento e reflexão. É
dos livros e do seu silêncio ordenado que recebemos essa energia que nos
permite descobrir em poucos anos universos inteiros. É pelos livros, pelas suas
palavras, que damos peso, estrutura ao que somos. É na respiração das palavras
que anunciamos as formas como que vemos o mundo, e somos muito, “aquilo que as
palavras ouvem” (Manuel Anrónio Pina) e é por isso que eles são a mais bela
forma de registar o mundo e as suas cores.
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