sexta-feira, 8 de maio de 2015

Fernando - Os heterónimos (Bernardo Soares)

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso. 

O Universo, a Vida - seja isso real ou ilusão - é de todos, todos podem ver o que eu vejo, e possuir o que eu possuo - ou, pelo menos, pode conceber-se vendo-o e possuindo e isso é. 

Mas o que eu sonho ninguém pode ver senão eu, ninguém a não ser eu possuir. E se do mundo exterior o meu vê-lo difere de como outros o vêem, isso vem de que do sonho meu eu ponho em vê-lo, sem querer, do que do sonho meu se cola a meus olhos e ouvidos.

Livro do Desassossego
Imagem, © – James Tovey, La Grande Arche.

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