"O sentimento estético da vida não é exclusivo das obras de arte. Nós o sabemos das horas silenciosas em que a sua face se adivinha e não há ainda uma obra de arte a traduzi-la. a integrá-la numa manifestação. Assim nos não é possível imaginar um mundo sem arte, por mais que admitamos o esgotamento das formas que herdámos, por mais que admitamos que a arte terá de ser inventada de novo através de formas que mal ainda vislumbramos.
Mas ainda que fosse possível imaginar um mundo sem arte, sem obras que o exprimissem, jamais seria imaginável um mundo estendido fora do sentimento estético, fora da qualidade emotiva que no-lo explica à nossa relação humana com ele.
Porque é dentro da emotividade que o mundo tem sentido, e a verdade humana, e a orientação fundamental de tudo o que nos orienta. Porque o sentimento estético é uma comunicação original com a essencialidade da vida - como esta que se abre na voz obscura da chuva que dura ainda.
Eu a ouço, eu a ouço, desde os confins da memória, balançando na rua a solidão dos espaços. Eu a escuto na vidraça como um apelo clandestino para um encontro de outrora. Que a água de pureza que te trespasse, e seja tu, rememore a água obscura do nosso horizonte - e a vida se continua´ra, una, indestrutível, igual e sem margens, como é igual na sua total presença, a vertigem da noite e a iluminação do dia.
Saúde, amigo.
Mas ainda que fosse possível imaginar um mundo sem arte, sem obras que o exprimissem, jamais seria imaginável um mundo estendido fora do sentimento estético, fora da qualidade emotiva que no-lo explica à nossa relação humana com ele.
Porque é dentro da emotividade que o mundo tem sentido, e a verdade humana, e a orientação fundamental de tudo o que nos orienta. Porque o sentimento estético é uma comunicação original com a essencialidade da vida - como esta que se abre na voz obscura da chuva que dura ainda.
Eu a ouço, eu a ouço, desde os confins da memória, balançando na rua a solidão dos espaços. Eu a escuto na vidraça como um apelo clandestino para um encontro de outrora. Que a água de pureza que te trespasse, e seja tu, rememore a água obscura do nosso horizonte - e a vida se continua´ra, una, indestrutível, igual e sem margens, como é igual na sua total presença, a vertigem da noite e a iluminação do dia.
Saúde, amigo.
Vergílio Ferreira. (2010). Carta ao Futuro. Lisboa; Quetzal, pgs. 101 e 102
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