Em
fins da década de cinquenta o País e o mundo eram a mais profunda
sonolência, uma anestesia de vontade por algo que significasse decência e
humanidade. É desse ano que Vergílio Ferreira escreve um livro que
devia figurar nas estantes de qualquer pessoa com sonhos de compreender a
vida e ter nela um papel substantivo.
Vergílio
tornou-se mais conhecido. Um pouco mais. Não muito mais. Pois ainda é
possível ouvir doutores da formalidade invocar a sabedoria de sebentas,
onde palavras comuns desenham gramáticas de compreensão pouco empenhadas
nesse sentido que foi a sua escrita. A da justamente invocar a nossa
verdade emotiva, aquela que nos faz apreender o mundo, por cima de
códigos ideológicos, ou de confissões do nada. Vale a pena lê-lo. Ele
foi um percursor da substância que mora em nós, um leitor da brevidade e
da magia de estar vivo.
Muitas
vezes desdobramos palavras de quem gostamos ou que nos dizem algo pela
sua relevância curricular, pela sua ligação a um património cultural e
civilizacional. Com Vergílio Ferreira, escritor do mês na Biblioteca em
janeiro aprendemos muito. Aprendemos palavras, ideias, formas de pensar a
vida e a existência. Aprendemos com os alunos formas de pensar
possibilidades de criar no real a nossa própria forma de sermos humanos.
Partindo com o receio de não o saber apresentar pela sua dimensão
complexa ficou-nos a satisfação de termos com os alunos e alguns
professores dado a conhecer um homem essencial da cultura portuguesa e
europeia do século XX.
Com
Vergílio Ferreira aprendemos a difícil ética de sermos humanos,
compreendemos a necessidade absoluta de olhar o mundo através de um
sentimento estético, que apenas a arte nos permite obter. Com Vergílio
percebemos que a leitura do mundo faz-se pela nossa emotividade, a quilo
que nos faz ter sentido, "a verdade humana" que nos orienta. É no nosso
diálogo com uma dimensão estética da vida que o mais essencial de nós
se afirma. Nos cem anos do seu aniversário percebamos tão grande lição
dada quando muitos gritavam revoluções e impérios universais. Obrigado
amigo!
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