segunda-feira, 6 de junho de 2016

Novidades na Biblioteca - Livros (V)

Título: A estrutura das revoluções científicas
Autor: Thomas S. Kuhn
Edição: 6ª ed.
Publicação: Lisboa: Caminho, 2009
Descrição Física: 159 p.; 21 cm
ColeçãoOutras margens. Autores estrangeiros de língua portuguesa ; 25
ISBN: 978-972-21-1611-489-8174-42-0
CDU: 165.9

Invenções de novas teorias não são os únicos acontecimentos científicos que têm um impacto revolucionário sobre os especialistas do setor em que ocorrem. Os compromissos que governam a ciência normal especificam não apenas as espécies de entidades que o universo contém, mas também, implicitamente, aquelas que não contém. Embora este ponto exija uma discussão prolongada, segue-se que uma descoberta como a do oxigénio ou do raio X não adiciona apenas mais um item à população do mundo do cientista. Esse é o efeito final da descoberta — mas somente depois da comunidade profissional ter reavaliado os procedimentos experimentais tradicionais, alterado sua conceção a respeito de entidades com as quais estava de há muito familiarizada e, no decorrer desse processo, modificado a rede de teorias com as quais lida com o mundo.
Teoria e fato científicos não são categoricamente separáveis, exceto talvez no interior de uma única tradição da prática científica normal. É por isso que uma descoberta inesperada não possui uma importância simplesmente fatual. O mundo do cientista é tanto qualitativamente transformado como quantitativamente enriquecido pelas novidades fundamentais de fatos ou teorias.
Título: O fio de missangas
Autor: Mia Couto
Edição: 6ª ed.
Publicação: Lisboa: Caminho, 2009
Descrição Física: 159 p. ; 21 cm
ColeçãoOutras margens. Autores estrangeiros de língua portuguesa ; 25
ISBN: 978-972-21-1611-4
CDU: 821.134(3) (679)-34"!9/20"
Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são
peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio.
Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio
por essa nuvem, minha lembrança.
 A casa, aquela casa nossa, era morada mais da noite que do dia. Estranho, dirão.
Noite e dia não são metades, folha e verso? Como podiam o claro e o escuro repartir-se
em desigual? Explico. Bastava que a voz de minha mãe em canto se escutasse para que,
no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira. E
nós éramos meninos para sempre.
 Certa vez, porém, de nossa mãe escutamos o pranto. Era um choro delgadinho, um
fio de água, um chilrear de morcego. Mão em mão, ficamos à porta do quarto dela.
Nossos olhos boquiabertos. Ela só suspirou:
 - Vosso pai já não é meu.
 Apontou o armário e pediu que o abríssemos. A nossos olhos, bem para além do
espanto, se revelaram os vestidos envelhecidos que meu pai há muito lhe ofertara.
Bastou, porém, a brisa da porta se abrindo para que os vestidos se desfizessem em pó e,
como cinzas, se enevoassem pelo chão. Apenas os cabides balançavam, esqueletos sem
corpo.
 - E agora - disse a mãe -, olhem para estas cartas.
 Eram apaixonados bilhetes, antigos, que minha màe conservava numa caixa. Mas
agora os papéis estavam brancos, toda a tinta se desbotara.
 - Ele foi. Tudo foi.
 Desde então, a mãe se recusou a deitar no leito. Dormia no chão. A ver se o rio do
tempo a levava, numa dessas invisíveis enxurradas. Assim dizia, queixosa. Em poucos
dias, se aparentou às sombras, desleixando todo seu volume.
 - Quero perder todas as forças. Assim não tenho mais esperas.
 - Durma na cama, mãe.
 - Não quero. Que a cama é engolidora de saudade.
 E ela queria guardar aquela saudade. Como se aquela ausência fosse o único troféu
de sua vida.
Título: Poesias (Hererónimos)
Autor: Fernando Pessoa
Edição: 1ª ed.
Publicação: Porto: Porto Editora, 2014
Descrição Física: 208 p. ; 20 cm
Coleção: ...
ISBN: 978-972-o- 04974-2
CDU: 821.134.3-1"19"
Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo.  (...)

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