Dos dias em que a maior forma de
aprendizagem foram esses movimentos integrados em espaços contraditórios, para
se achar um lugar no mundo. Foi com o corpo que na vida experimentámos uma
pintura de espanto por toda a forma de respiração. Só o encantamento constrói o
sonho e ele expressava-se de modo sublime pela graça. Nessas décadas de páginas
em branco e palcos claros o corpo deu-nos mais que as palavras, pois
sintetizavam uma coreografia perfeita, a da intimidade do que vivíamos. O corpo
foi a sua graça, a sua sabedoria.
É preciso muita sabedoria, para
encantar o corpo e fazê-lo na alegria espontânea do sorriso. É preciso muito
encontro de voz, para formular formas vivas de desencanto, ainda como uma
sabedoria do corpo, a identidade da alma viva. Foram dias encantados pelo
corpo, pela dança, por uma forma de dança-teatro que ela trazia em sonhos de
precariedade e suprema alegria. O corpo sempre foi a forma mais plena de
eternidade. Os poetas sabem-no e por isso são óraculos do quase dito em flores
de esquecimento.

Chama-se Pina Bausch, deixou de nos encantar há alguns
dias de saudade e disse-nos o que filosofias inteiras desconhecem, o mundo
cria-se com os outros, com o corpo
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