Um português ao leme de uma ideia, de uma empresa, de um projecto comum europeu: o do conhecimento da verdadeira dimensão do mundo. A figura de Magalhães, Magellano, Magellan, Magallanes, tão válida para símbolo da União como Leonardo, Guttemberg, Newton, Mozart ou Galileu.
Hoje, é fácil defender esta proposta. mas no regresso da Armada das Molucas, o nome de Magalhães foi ignorado, a sua importãncia menosprezada. Um final não feliz. A circum-navegação do globo não trouxe quase nenhum valor comercial, a expedição deu um lucro marginal à coroa espanhola, a rota descoberta pelo Pacífico para chegar às Ilhas das Especiarias não era viável, ou pelo menos não podia competir com a rota portuguesa pelo Cabo da Boa Esperança, e as próprias Molucas revelaram-se afinal na parte portuguesa do tratado de Tordesilhas, inutilizando a pretensão espanhola de as explorar. O custo em vidas humanas da expedição foi desmesurado.
O feito marítimo foi recebido nas cortes europeias como uma curiosidade. Só anos mais tarde a primeira circum-navegação do globo ganharia o valor simbólico que tem na história da Humanidade. Com Magalhães, os erros de cálculo da dimensão do mundo, que perduravam há milénios, foram corrigidos e o planeta expandiu-se à sua dimensão máxima possível dentro da realidade, ou seja, expandiu-se na sua dimensão correcta. Sm lugar para mais fantasias.
A partir de Magalhães, todas as viagens de exploração limitaram-se apenas a reduzir os limites, a distância e o mistério do mundo, até o tornar na pequena aldeia global em que vivemos hoje. E onde nos é tão fácil viajar.
Gonçalo Cadilhe. (2011). Nos Passos de Magalhães. Alfragide: Leya, págs. 176/177.
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