sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A palavra e o mundo - Nos passos de Magalhães (II)

  
"Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço." 
Fernando Pessoa. (19712). Mensagem. Lisboa: Ática

Fernão de Magalhães é uma das figuras maiores da História, no sentido em que se propôs realizar a primeira viagem de circum-navegação ao mundo. Nele combinam-se a irreverência, a aventura, a tenacidade dos gestos, o apelo à descoberta e também o valor comercial que a viagem poderia lhe dar e ao seu patrocinador. É muito difícil definir a figura humana de Magalhães naquilo que ele era interiormente. Sabemos os factos, as decisões que tomou e é por elas que podemos desenhar um pouco do que foi Magalhães.
 

O que construiu é de uma dimensão excecional. Da História Universal e dos homens chamados navegadores, ele é um dos três maiores e dentro da nacionalidade portuguesa nenhum se lhe compara. O seu nome está associada com descobertas de diferentes tempos. A sonda da Nasa enviada a Vénus em 1989 chamava-se justamente Magellan. 
Duas galáxias que atravessam a noite no Hemisfério Sul e que se podem ver a olho nu chamam-se Nuvens de Magalhães. 
O seu nome está ligado aos mares do fim do mundo quando o continente americano se dissolve entre dois oceanos. O nome da Patagónia por ele atribuído em função do tipo de pessoas que habitavam a América do Sul deve-se também a ele. A cidade de Montevideu é sua filha, pois foi ele que lhe atribui o nome "monte videm". Até o nome científico dos pinguins do Atlântico Sul lhe devem o nome, Spheniscus magellanicus.

Sobre ele próprio e antes de chegar à armada das Molucas foi outras coisas. Esteve como pajem na corte da rainha D. Leonor, foi escudeiro do rei D. Manuel, funcionário da Casa das Índias, integrou o serviço de Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, quando estes eram vice-reis da Índia. Participou ainda na conquista de Azamor e em expedições em Marrocos.

Magalhães conhece o seu valor, exige-o ao rei D. Manuel. A proposta de atingir as Molucas não lhe é reconhecido pelo rei. Magalhães é humilhado nas suas pretensões. Os reis de Espanha dar-lhe-ão o que ele pede. Atingir as Molucas com uma armada que chegue às especiarias fora do decidido no Tratado de Tordesilhas. A armada partirá de Sanlúcar, no dia 20 de setembro de 1519. Em outubro de 1520 atravessam "O cabo das mil viagens", o famoso estreito que ficará com o seu nome e que o conduziria ao oceano Pacífico. Em 1521 morre nas Filipinas num gesto que combinará escolhas que o parecem destinar para um fim escolhido. O que restava da armada chega à Europa a sete de setembro de 1522.

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