Quem fabrica um peixe fabrica duas ondas, uma que rebenta floralmente
branca à direita,
outra à esquerda só com ar lá dentro,
e o ouro íngreme puxando o começo da noite e o fim do enorme dia
onde todos morreremos
como filhos escorraçados ou disso a que chamam demónio da analogia,
quem fabrica um poema curto morrerá muito mais tarde,
só depois de estar maduro, quem
baixa a mão para quebrar um selo há-de baixá-la
para quebrar os outros, e há-de fechar os olhos,
e de tanto ter visto não poderá nunca mais abri-los:
e como pão e bebo água de olhos fechados como se fosse para sempre,
e assim, adeus a quem vê, que eu morro inteiro para dentro,
e vejo tudo só de entendê-lo
branca à direita,
outra à esquerda só com ar lá dentro,
e o ouro íngreme puxando o começo da noite e o fim do enorme dia
onde todos morreremos
como filhos escorraçados ou disso a que chamam demónio da analogia,
quem fabrica um poema curto morrerá muito mais tarde,
só depois de estar maduro, quem
baixa a mão para quebrar um selo há-de baixá-la
para quebrar os outros, e há-de fechar os olhos,
e de tanto ter visto não poderá nunca mais abri-los:
e como pão e bebo água de olhos fechados como se fosse para sempre,
e assim, adeus a quem vê, que eu morro inteiro para dentro,
e vejo tudo só de entendê-lo
Herberto Helder. (2015). Servidões. Lisboa: Assírio & Alvim. Na voz de Fernando Alves
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