quinta-feira, 4 de junho de 2015

Olhar a Tabacaria (I)

Não sou nada.  
Nunca serei nada.  
Não posso querer ser nada.  
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,  
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?), 
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, 
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, 
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, 
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, 
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, 
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. 

(...)
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).   
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.   
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)   
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.   
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo  
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.


Desenho: |Maria Teresa Franco|11ºE|



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