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Há uma razão muito clara e muito
evidente para ser o mar azul e a terra castanha: é que o mar é purificação,
inocência, primordial essência e a terra é casa de pecado, é gases, é
dissimulação. Sujam meu oceano só de o imaginarem. A água é o meu lar. Quando
chove, estendo a cara ao firmamento e é esse o meu amor. Sei que o mar também
me ama. Habito nas tuas grutas, habito nas tuas falésias e a minha vida é
olhar-te e rezar para que nunca sejas corrompido. Rezo à baleia e rezo ao
polvo.
Não sei quem são esses deuses sangrentos da terra nem me importo com
eles. (Que fazes aqui, mergulhador? Não é bom que aqui estejas…) Amo-te mar; a palavra mar está na palavra amar. O meu suicídio
é o deserto. Recebe-me na maré-cheia, na seca, nas ondas, e recebe-me também no
gelo.
Acolhe-me em ti porque a água é o meu sangue e o meu quarto não tem teto
para poder sentir-te quando vens. Se os meus olhos fossem de alguma cor que não
azul, pintava-os em pinceladas fingidas de Turner. Da minha boca só saem
palavras salgadas e as pessoas da terra não entendem o que não é doce ou ácido.
Das minhas mãos só se vêem as tuas transparências. As minhas unhas são basaltos.
(Vim ver a minha mulher.) Tu secares é eu secar. (O banco verde permanece
sozinho à beira da barragem. Nada há entre ele e a água). Prometo que o mar
corre dentro de mim.
Texto: | Sofia Sequeira|11ªB|
Desenho:|Caetana F. Thomaz|12ºD|
Desenho:|Caetana F. Thomaz|12ºD|
Escola Secundária Rainha Dona Amélia|Semana das Artes |
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