quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Carta ao futuro (II) - Livro da semana


Título: Carta ao futuro
Autor: Vergílio Ferreira
Edição: ..ª
Páginas: 
Editor: Quetzal
ISBN: ...

CDU: ...
Sinopse:
“O que há a redimir é a fulgurante evidência da nossa condição, mediante uma outra evidência absoluta que a aceite em harmonia, em plenitude
O que há a redimir é a adequação deste milagre brutal de nos sabermos uma evidência iluminada, de nos sentirmos este ser que é vivo, se reconhece único no corpo que é ele, na lúcida realidade que o preenche, o identifica nas mãos que prendem, na boca que mastiga, nos pés que firmam, de nos descobrirmos como uma entidade plena, indispensável, porque ela é de si mesma um mundo único, porque tudo existe através dela e é impossível que esse tudo deixe de existir, porque ela irrompe de nós como a pura manifestação de ser, e o “ser” é a única realidade pensável –  o que há a redimir é a adequação desta fantástica evidência que nos cega e a certeza de que ela está prometida à morte, de que o seu destino é a impossível e absoluta certeza do não-ser, da pura ausência, da totalidade nula, da pura irrealidade. 

Colaborar com a vida, aceitar a validade de uma norma, forjar uma regra para a distribuição da nossa ação e interesse –  sim. Mas é impossível, antes disso, desviarmos os nossos olhos de fascinação da vertigem, e vermos, vermos bem, de que fundas raízes gostaríamos de entender tudo quando realizássemos. É uma tentativa absurda, meu amigo, toda a gente no-lo diz –  toda a gente que desconhece essa força que nos fascina. Mas eu sei que só se é homem, plenamente, quando se sabe 

A escala de tudo quanto povoa a terra estabelece-se-nos aí, no saber. A ilusão da plenitude, a ficção de uma quotidiana divindade. Essa que se define por uma certa instalação na permanência, forja-se apenas de uma inconsciência animal. Somos homens, não somos deuses nem pedras. Se a grandeza que nos coube foi essa ao menos de saber, conquistemo-la até onde, nos limites das evidências primeiras, ela se nos anuncia. E se o “absurdo” é a face desses limites, assumamo-lo como quem não rejeita nada do que é ainda nós próprios. A cobardia não está em assumir esses limites, mas em recusá- los. (…)

 Vergílio Ferreira. Carta ao Futuro. Quetzal.

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