segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Jorge Amado - escritor do mês

 

Cacau de 1933, inauguraria uma temática que entre os anos quarenta e oitenta serviriam de matéria-prima para as obras de Jorge Amado, o cacau como suporte de uma organização social, económica e política. Terras do sem-fim (1943), São Jorge de Ilhéus (1944), Gabriela cravo e canela (1958), Tocaia Grande (1981) e O menino garapiúna(1988) completam um ciclo de livros pensados e alimentados no sul da Baía, os seus grupos humanos, as suas fontes de poder, a sensualidade dos trópicos discutindo o papel da mulher e  de como novas ideias eram permeáveis a formas de colonização da terra. 

Especialmente em Terras do sem-fim, um dos seus livros mais importantes ao lado de São Jorge de Ilhéus, descreve-se a formação do cacau como uma indústria e como se dá essa luta pela terra e de como surgem pequenas cidades no sul da Baía, já no início do século XX. Neles, como em Gabriela cravo e canela, surgem-nos o universo dos coronéis, os critérios do seu estatuto político e económico e as figuras obedientes que suportam esse poder, os jagunços. Nestas obras Jorge Amado dá-nos uma geografia humana e cultural, a Baía colocando sempre a literatura como um património e uma forma, um instrumento de combate perante as formas mais simplistas de viver em comunidade. 

Jorge Amado parte de um local, da sua caracterização para chegar ao universal e aos modos de exploração da vida humana no seu sentido mais global. A esperança por novos territórios que eram difíceis de conquistar e que implicavam uma luta árdua, sobre-humana para sobreviver. Os aromas, a culinária, as formas de ser, o amor entre figuras à procura de um sentido num universo violento. Tudo isso faz de Jorge Amado um autor maior, que fez de particulares formas, um olhar ao universal. Isso faz dele um autor para todos os tempos. 

Jorge Amado escreveu sobre a antropologia das cidades e dos locais que tentava compreender. Esse significado autêntico sentido pelas pessoas, à procura de uma palavras substantiva e ao mesmo tempo bela. Era essa a sua forma de se encontrar com as pessoas e de no real ser preenchido pelos vivos e pelos ausentes que aqui deixaram as marcas de muitas vidas. Jorge Amado pertence à galeria dos eternos. Um dia ele vem por aí, com a sua linguagem própria e palavras a definir as personagens de uma cumplicidade, feita literatura. 

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