quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Das palavras de Vergílio (II)

Ouço. Não quero pensar. Não me apetece. Pensar implica empurrar a inércia para longe, e a inércia é muito pesada. Mas o pensamento também pode entrar-nos pelos ouvidos. É bem mais fácil assimilá-lo na alma depois. 
A Natureza, rainha do Universo, impinge uma regra ao mundo natural: "aquele que faz o mais possível a partir do menos possível deixará o seu legado para o futuro." É a lei do menor esforço. Usar a própria alma para produzir o pensamento, um pensamento original implica empurrar a inércia, e a inércia é muito pesada. Que se ouça e se assimile na alma o produto dos outros! 
Ao parar e escutar, sou capaz de possuir o pensamento. E não gasto a minha alma no processo. Imagino um mundo ideal, sem artistas, sem escritores, em que apenas um homem se sacrifica, pensa, e dá o seu pensamento a todos. E todos seguem o seu pensamento.
Assim pensam os que não pensam.

José, "Ouço, não quero pensar",10ºC1; 
Imagem - Copyright: Krzysztof Karpinsky

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