quarta-feira, 18 de maio de 2016

Amadeo de Souza-Cardoso (V)

Amadeo nasceu em Manhufe, no concelho de Amarante, a 14 de novembro de 1887. Cresceu no seio de uma família rica de proprietários rurais. Passou a sua infância entre a casa de Manhufe e a cidade de Espinho. Aí conheceu Manuel Laranjeira, cuja amizade foi determinante para incentivar a prática do desenho. Amadeo desenvolveu essa prática em Lisboa, no âmbito dos estudos realizados na Academia de Belas-Artes de Lisboa, nos anos de 1094 e 1905. Em 1906, parte para Paris, na companhia de Francisco Smith. Partiu sem saber quando voltaria. Instalou-se no Boulevard Montparnasse e preparou a sua entrada por concurso na École des Beaux Arts. Paris com seu o ambiente fervilhante de ideias e figuras, fascinou-o. 

Influenciado de modo particular pela ilustração que circulava na imprensa francesa, Amadeo dedica-se ao desenho e à pintura. Nos primeiros anos, convive em Paris com outros portugueses, com destaque para Manuel Bentes, Eduardo Viana  ou Domingos Rebelo Smith. Com eles vive um espaço de boémia e tertúlias no seu estúdio, nº 14, da Cité Falguière. Este convívio foi de curta duração. Em 1908, conhece Lucia Pecetto, com quem casará em 1914, e começa a frequentar as classes da Academia Viti, do pintor espanhol Anglada-Camarasa. Muda o seu ateliê para a rue de Fleurus, num espaço próximo do apartamento de Gertrude Stein. O afastamento do círculo português é uma opção para mudar o seu sentido plástico. Amadeo trabalha a um ritmo de grande exigência e de compromisso com as ideias que vai absorvendo. Pesquisa as ideias do modernismo em desenvolvimento em Paris. 

É esse contexto de investigação das ideias do Modernismo que, em 1910, o leva a entusiasmar-se pela pintura flamenga, numa visita que faz a Bruxelas. É, ainda, neste período, que aprofunda a amizade com Amedeo Modigliani. Em 1911, muda de estúdio e instala-se próximo do Quai d’Orsay, na rue du Colonel Combes. A sua primeira exposição, em 1911, apresenta um conjunto de seis pinturas, no Salon des Indépendants. Ainda em 1911, no estúdio da rue du Colonel Combes, realiza uma exposição conjunta com Modigliani. Entre 1912 e 1914, mostra o seu trabalho no Salon d’Automne

Por esta altura, Amadeo aumenta o seu círculo de amizades e de conhecimentos. Conhece Umberto Boccioni, Gino Severini, e Walter Pach. Será este último a convidá-lo a participar no Armory Show. Conhece e contacta com outros nomes importantes da arte como Juan Gris, Max Jacob, Sonia e Robert Delaunay, Brancusi, Archipenko, Umberto Brunelleschi e Diego Rivera, entre outros. 
Amadeo cimenta o seu interesse pelo desenho e entusiasma-se na preparação do manuscrito ilustrado da Légende de Saint Julien l’Hospitalier de Flaubert e pela publicação do álbum XX Dessins, com prefácio de Jérôme Doucet. O álbum é reconhecido como de grande valor pelo  célebre crítico Louis Vauxcelles. 

Amadeo procura alargar o seu círculo de contactos e expandir-se para fora de Paris. Para tal, consegue participar  numa série de importantes exposições, entre as quais a célebre Exposição Internacional de Arte Moderna de 1913, também conhecida como Armory Show, que mostraria pela primeira vez a moderna arte europeia nos EUA (Nova Iorque, Chicago e Boston). Amadeo apresenta oito obras, ao lado de Braque, Matisse, Duchamp, Gleizes, Herbin e Segonzac. Nesta mostra consegue vender três telas a um colecionador de arte americano, Arthur J. Eddy. Este colecionador de Cubist and Post-Impressionism (1914), cita e reproduz algumas das obras do pintor português. Em setembro de 1913, muda-se para outro estúdio, na rue Ernest Cresson e, meses depois, a sua obra é apresentada no I Herbstsalon de Berlim, organizado pela Galeria Der Sturm. 

Em abril de 1914, enviou três trabalhos para a Royal Academy de Londres, que nunca foram expostos devido ao início da 1ª grande Guerra. Ainda nesse ano, muda de ateliê e instala-se no nº 38 da rue Boulard, na Vila Louvat, que nunca chegará a utilizar. Nesse mesmo ano, depois de uma passagem por Barcelona onde conhece Gaudi, regressa à aldeia de Manhufe. A Guerra impede-o de regressar a Paris.  Em Portugal, continuará a sua obra, explorará a abordagem que fazia em Paris nos domínios da abstração e do expressionismo e abre um novo compromisso estético com formas de trabalho no domínio da colagem. Em 1915, com a visita de Sonia e Robert Delaunay, que passam por Vila do Conde, recupera os contactos com o grupo português, com destaque para Eduardo Viana, e conhece Almada Negreiros. Será através deste que conhece o grupo dos “Futuristas” em Lisboa, reunidos, no início, à volta da revista Orpheu.

Amadeo acabou por ter uma influência significativa no panorama da Arte em Portugal do seu tempo, ao ligar-se à postura modernista que Pessoa, Almada ou Sá-Carneiro difundiam. Essa forma de abordagem ao mundo foi reconhecida por Amadeo como importante para fazer a ruptura com as estruturas tradicionais dominantes. As mesmas estruturas que não o compreenderam, aquando das duas exposições feitas em Portugal. Essa mostras ocorreram no Porto e em Lisboa, em 1916, e tinham por Abstracionismo. A estética nacional dominante não o compreendeu, não aceitou as suas linhas pictóricas, num ambiente de quase escândalo. Almada Negreiros e Fernando Pessoa compreenderam-no e tentaram defendê-lo, reconhecendo-o como o pintor mais importante do seu tempo. Foram, contudo, manifestações de apoio isoladas. Amadeo morre em Espinho, em outubro de 1918, com trinta anos, vítima da epidemia de pneumónica que deflagrou nesse ano.

 (parte dos materiais a incluir num dos Boletins Bibliográficos)
Fonte: Joana Cunha Leal, A Lenda de São Julião Hospitaleiro, Assírio e Alvim.

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