Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver,
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isso com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver,
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isso com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da natureza.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da natureza.
Alberto Caeiro, “Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha Biografia.”
Alberto Caeiro, Poemas. (2006). Lisboa: Ática.
Imagem: © Fabien Bravin
Alberto Caeiro, Poemas. (2006). Lisboa: Ática.
Imagem: © Fabien Bravin
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