terça-feira, 31 de maio de 2016

José Luís Peixoto - um sorriso feito literatura

"Não são as palavras que distorcem o mundo, é o medo e a vontade. As palavras são corpos transparentes, à espera de uma cor. O medo é a lembrança de uma dor do passado. A vontade é a crença num sonho do futuro. Não são as palavras que distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo, somos nós".
(José Luís Peixoto, No teu ventre).

Receber José Luís Peixoto na nossa Biblioteca e estar com ele, entre alunos e professores, foi um encanto. Muitas vezes tentamos decifrar o corpo das palavras, o que elas transportam, como colher nelas a vida, a nossa substância. Nomear a realidade com as palavras é um gesto inicial e criador de significados, é romper memórias e construir pontes.

Na escrita de José Luís Peixoto, já tínhamos adivinhado um sentido estético envolvido pela observação, pelo cuidado em olhar o outro, uma narrativa poética que se alimenta de experiências. As que a memória deixa, as viagens realizadas pelo escritor e uma forma curiosa, humilde e sábia de olhar o mundo. Como se conhece um escritor?

Conhece-se um escritor pelas suas palavras, pela poesia das emoções, pelos temas com que nos envolve, com a respiração com que nos abraça. Conhece-se um escritor, quando nos encontramos com o seu rosto, com as suas mãos desenhando gestos, os lábios pronunciando palavras, os olhos sorrindo experiências.

Conhece-se um escritor, quando ele nos conta as suas histórias, as memórias que criaram um caminho. Conhece-se um escritor, quando se está com ele, e ele connosco. Obrigado, José Luís Peixoto. Foi um momento raro. Um desses instantes de que se alimenta a vida. E a experiência viva que “a literatura é o que é”, uma experiência da própria da arte de viver, uma transgressão do mundo em movimento permanente.

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