"Não são as palavras que distorcem o mundo, é o medo e
a vontade. As palavras são corpos transparentes, à espera de uma cor. O medo é
a lembrança de uma dor do passado. A vontade é a crença num sonho do futuro.
Não são as palavras que distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo,
somos nós".
(José Luís Peixoto, No teu ventre).
Receber José Luís Peixoto na nossa
Biblioteca e estar com ele, entre alunos e professores, foi um encanto. Muitas
vezes tentamos decifrar o corpo das palavras, o que elas transportam, como
colher nelas a vida, a nossa substância. Nomear a realidade com as palavras é
um gesto inicial e criador de significados, é romper memórias e construir
pontes.
Na escrita de José Luís Peixoto,
já tínhamos adivinhado um sentido estético envolvido pela observação, pelo
cuidado em olhar o outro, uma narrativa poética que se alimenta de
experiências. As que a memória deixa, as viagens realizadas pelo escritor e uma
forma curiosa, humilde e sábia de olhar o mundo. Como se conhece um escritor?
Conhece-se um escritor pelas suas
palavras, pela poesia das emoções, pelos temas com que nos envolve, com a
respiração com que nos abraça. Conhece-se um escritor, quando nos encontramos
com o seu rosto, com as suas mãos desenhando gestos, os lábios pronunciando
palavras, os olhos sorrindo experiências.
Conhece-se um escritor, quando ele
nos conta as suas histórias, as memórias que criaram um caminho. Conhece-se um
escritor, quando se está com ele, e ele connosco. Obrigado, José Luís Peixoto.
Foi um momento raro. Um desses instantes de que se alimenta a vida. E a
experiência viva que “a literatura é o que é”, uma experiência da própria da
arte de viver, uma transgressão do mundo em movimento permanente.
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