Sempre tão atarefados, e com membros compridos
que agitam com frequência. E como são pouco redondos, sem a majestade das
formas acabadas e suficientes, mas com uma pequena cabeça móvel em que parece
concentrar-se toda a sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar, mas não
nadam, como se fossem pássaros, e infligem a morte com fragilidade e uma ferocidade graciosa.
Permanecem logo tempo em silêncio, mas depois gritam uns com os outros com fúria repentina, numa algazarra de sons que quase não variam e aos quais falta a perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como deve ser penoso o seu amar-se: áspero, quase brusco, imediato, sem uma macia capa de gordura, facilitado pela sua natureza filiforme que não prevê a heróica dificuldade da união nem os esplêndidos e ternos esforços para a consumar.
Não gostam da água e têm medo dela, e não se percebe por que razão por que razão a frequentam. Também se deslocam em bandos, mas não levam fêmeas e adivinha-se que elas se encontram algures, mas sempre invisíveis.
Às vezes cantam, mas só para si, e esse canto não é um chamamento, mas uma forma de lamento pungente. Cansam-se depressa, e quando a noite cai estendem-se sobre as pequenas ilhas que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a lua. Passam deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.
Antonio Tabucchi. (2016). Mulher de Porto Pim e outras histórias. Lisboa: D. Quixote.
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