sexta-feira, 31 de março de 2017

Os filmes do mês

São Jorge é um filme português que entrou em exibição nas salas de cinema durante o mês de março e que nos devolve uma leitura sobre os anos da Troika em Portugal, justamente 2012 a 2015. É um filme assinado na realização por Marco Martins e que tem na representação de Nuno Lopes um enorme papel, que foi premiado no último festival de cinema de Veneza.

O filme retrata uma comunidade humana, a cidade da Bela Vista, na Amadora e nos a vida a procurar sobreviver ao mínimo possível. Jogador de boxe, Jorge, para manter a família decide candidatar-se a um emprego, segurança numa empresa de cobranças. Existiam em Portugal, em 2015, mais dez mil empresas de cobranças. Estas empresas estavam legalizadas, mas podiam usar os métodos que entendessem para recuperar o valor das dívidas. 

O filme retrata não só uma profunda crise económica e social, mas  também as relações humanas que eram em muitas situações de assinalável racismo. O homem isolado numa sociedade em que tudo vale revela-nos uma densidade dramática que nem todos terão tido conhecimento. É uma obra cinematográfica de grande relevo, pois faz o que raramente o cinema em Portugal tenta construir, que é uma leitura sobre os acontecimentos, enquanto eles ainda persistem. O filme deixa muitas zonas de silêncio sobre o tempo social e político, para quem o souber ler. Um filme a ver.

Aquarius foi outra das estreias do mês de março que se revela um grande filme de cinema. Realizado por Kleber Mendonça Filho e com a participação especial de Sónia Braga, o filme mostra uma realidade que vai sendo progressiva em cidades tornadas mostras de uma Disneylândia para investidores ricos. Uma viúva reformada tenta lutar contra a compra e os métodos usados por uma grande empresa para vender o seu apartamento. Filme de grande significado, com uma representação notável e que é um grito de pessoas isoladas contra o poder especulativo e financeiro de grupos sem dimensão humana.


Negação de Mick Jackson é um filme que procura retratar uma disputa judicial que envolve uma historiadora do Holocausto e uma figura que o nega. O filme baseia-se no livro de Deborah Lipstadt, Denial: Holocaust History on Trial. O filme coloca uma das questões que há algumas décadas alguma historiografia quis levantar, embora seja sobretudo um ato de fé e não a produção de conhecimento. As lutas ideológicas e religiosas contribuem pouco para o conhecimento da realidade. Ainda assim é um filme curioso para conhecer a ideia da negação.

Dois outros filmes ainda estreados em março são Um Reino Unido de Amma Asante e Um Instante de Amor de Nicole Garcia.

Em Um Reino Unido a realizadora devolve-nos uma história verídica acontecida no final da década de quarenta do século XX, envolvendo um príncipe herdeiro  do Botoswana, Seretse Khama e uma britânica branca, Ruth Williams. A história é interessante e serve como documentário a uma realidade que foi superada,  a do apartheid e a do colonialismo. Trata-se de uma mor que venceu as dominações políticas da época. 

Um Instante de amor é um filme que se baseia na obra homónima de Milena Agus e tem em Marion Cotillard um grande desempenho. A narrativa ocorre na França no início da década de cinquenta. 
Filme sobre os tempos após a 2ª guerra mundial e que nos questiona sobre as dificuldades de as mulheres terem um papel mais participativo numa sociedade conservadora, sobretudo em ultrapassar esquemas culturais muito rígidos em relação aos comportamentos. Gabrielle sente-se angustiada pela vida e como tem de a viver. O seu conhecimento com André Sauvage, um ex-soldado ferido na guerra da Indochina parece dar um sentido novo à sua vida, parece dar-lhe a conhecer uma forma diferente de amor.

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