que timidamente se eleva,
num arrulho de noite fria.
O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.
Repara a canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.
É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.
Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.
E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura
por eternidades serenas.
(No nascimento de Cecília Meireles, uma das poetas mais importantes da língua portuguesa do século XX, que nos deu poemas de procura da simplicidade, entre os elementos mais característicos da natureza humana, a nossa transitoriedade, nesse jogo difícil entre o efemero e o eterno).
Cecília Meireles, «Serenata», in Da Viagem (1939)
Imagem, in folhademinasgerais.blogspot.com
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