"Na medida em que a hipótese central do totalitarismo repousa sobre o "tudo é possível", uma cidadania sensata e uma ação racional devem repousar sobre a hipótese inversa de uma constituição da natureza humana, ela própria justificada pela sua capacidade de abrir, de preservar ou reconstruir um espaço político." (1)
Vivemos tempos em que a memória é pouco relevante na construção do quotidiano e perdemos a noção do valor que gerações emprestaram às suas lutas por uma sociedade decente, onde os valores humanos representavam a marca de gerações pelo bem comum. Esta descontinuidade com o passado é uma das causas porque olhamos passivamente para a desigualdade social e lidamos com a indiferença, perante as dificuldades de cidadãos e povos.
Passaram ontem vinte cinco anos sobre mais um dos símbolos de opressão que o século XX erigiu. O muro de Berlim é um dos marcos do século XX, pois nele viveu o simbolismo de um mundo dividido, após o fim da segunda guerra mundial, onde dois modos de o ver eram tão demarcados no quotidiano. Acreditou-se que as ideias, a coragem bastariam para derrubar as formas opressoras da dignidade humana. Os traços essenciais.
Até 1961 os habitantes de Berlim, os berlinenses tinham acesso a circular livremente dentro da sua cidade. Fruto da guerra fria e da migração dos habitantes de Berlim Oriental para ocidente, iniciou-se a construção de um muro a treze de Agosto de 1961. A sua construção dividiu ruas, prédios, separou famílias em poucas horas, tinha torres eletrificadas, protegidas por arame farpado e vigiava todo o seu extenso espaço com cerca de trezentos postos militarmente guardados.
O muro representou o pior de um mundo que não respeitava a liberdade individual das pessoas, a sua humanidade perante um estado policial que segregava as vidas dos cidadãos. Os anos oitenta viram cair uma sociedade que impedia a participação do cidadão e onde o Estado podia regular tudo. A apologia do militar, suportada numa organização obsoleta não saberia resistir às mudanças. A nove de novembro de 1989, o mundo cairia, consequência da vontade de muitos alemães de se mudarem para a parte oeste, processo que se verificou incontrolável. O fim do muro representou o início do fim da guerra fria e a ideia de uma abertura para um mundo mais livre e participativo. Em 1990 as duas Alemanhas iriam reunificar-se juntando um único País.
Embora não o soubéssemos na altura, o século XX terminou em 1989. Outros muros se levantaram, erguidos por uma cegueira fundamentalista sem memória. O muro abriu uma porta que a classe política europeia não soube aproveitar. Na queda do muro de Berlim participaram, lutaram, viveram e morreram gerações de homens e mulheres que acreditaram na liberdade individual como forma de expressão do desenvolvimento humano e como este é inseparável de uma procura de nivelação de direitos culturais e sociais.
O muro tornou-se hoje quase um episódio de arqueologia histórica, pois os que o comemoram têm-se esquecido do valor das instituições e do papel dos movimentos sociais e do valor dos sonhos individuais na sua dinâmica. Na crise europeia, o muro de Berlim ainda é um espelho para os que se têm esquecido que os pressupostos de uma desvinculação à sociedade pelos aparelhos políticos e governativos, mantidos apenas por grupos fechados, formou o ponto de construção de sistemas totalitários no século XX. A História serve sobretudo para fazer questões e compreender a sua complexidade. É essa ainda uma das lições do Muro de Berlim.
O muro representou o pior de um mundo que não respeitava a liberdade individual das pessoas, a sua humanidade perante um estado policial que segregava as vidas dos cidadãos. Os anos oitenta viram cair uma sociedade que impedia a participação do cidadão e onde o Estado podia regular tudo. A apologia do militar, suportada numa organização obsoleta não saberia resistir às mudanças. A nove de novembro de 1989, o mundo cairia, consequência da vontade de muitos alemães de se mudarem para a parte oeste, processo que se verificou incontrolável. O fim do muro representou o início do fim da guerra fria e a ideia de uma abertura para um mundo mais livre e participativo. Em 1990 as duas Alemanhas iriam reunificar-se juntando um único País.
Embora não o soubéssemos na altura, o século XX terminou em 1989. Outros muros se levantaram, erguidos por uma cegueira fundamentalista sem memória. O muro abriu uma porta que a classe política europeia não soube aproveitar. Na queda do muro de Berlim participaram, lutaram, viveram e morreram gerações de homens e mulheres que acreditaram na liberdade individual como forma de expressão do desenvolvimento humano e como este é inseparável de uma procura de nivelação de direitos culturais e sociais.
O muro tornou-se hoje quase um episódio de arqueologia histórica, pois os que o comemoram têm-se esquecido do valor das instituições e do papel dos movimentos sociais e do valor dos sonhos individuais na sua dinâmica. Na crise europeia, o muro de Berlim ainda é um espelho para os que se têm esquecido que os pressupostos de uma desvinculação à sociedade pelos aparelhos políticos e governativos, mantidos apenas por grupos fechados, formou o ponto de construção de sistemas totalitários no século XX. A História serve sobretudo para fazer questões e compreender a sua complexidade. É essa ainda uma das lições do Muro de Berlim.
(1) - Hannah Arendt, Between Past and Future: Eight Exercises in Political Thought.
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