quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O valor essencial das Humanidades - (Dia Mundial da Filosofia)

"Eu por mim, devo sem dúvida, na medida das minhas forças, trabalhar, para que os meus concidadãos se tornem mais instruídos, graças à minha atuação, estudo e obra." (1)

São palavras antigas, milenares sobre essa disciplina antiga que nos reporta o essencial da nossa dimensão, o amor, a morte, a justiça e a procura do bem. Terreno da Filosofia, onde a cultura Grega com a sua explosão de conhecimento e dúvida erigiu um edifício que tem sido dispensada por sábios pouco dados ao valor da respiração das pessoas. Sem este espelho do passado, sem o seu conhecimento perde-se o contorno do horizonte, as ligações que tínhamos, ficando ausente da ideia essencial de continuidade. Este abandono das Humanidades revela-nos como perdemos o valor simbólico do que soubemos construir como comunidade humana.

A importância do pensamento crítico, a formulação de ideias, a participação na construção de uma sociedade depende muito da afirmação da cidadania e esta carece muito do valor simbólico que uma educação liberal possa concretizar. As Humanidades são assim um instrumento de cidadania, de fortalecimento das possibilidades da Democracia.

Neste processo de marginalização das Humanidades, devemos destacar quem ainda consiga destacar o pensamento clássico como algo muito importante a conhecer, a filosofia como disciplina essencial nestes dias esquecidos de dignidade e lembrar que a liberdade não é um conjunto de letras que se "gritam" em algumas ocasiões, mas uma massa crítica para exercer nos dias. Embora nos media não falte quem diga o contrário, as Humanidades permitem reforçar a Democracia.

Pensamos em Martha Nussbau, professora de Filosofia na Universidade de Chicago e quem em 2012 recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias em Ciências Sociais pelo seu trabalho desenvolvido na área do estudo do pensamento grego e da filosofia que orientou a construção do Humanismo ocidental. Martha Nussbau tem defendido a ideia evidente, mas pouco praticada que a riqueza de um País não pode ser só medido pelo produto interno bruto, mas também pelos índices de qualidade de vida, pelo usufruto que as pessoas, as famílias, fazem das artes e da cultura.

Ideia muito importante, pois a Democracia e o seu primado do direito vem perdendo a sua referência na ideia, na razão, sendo substituída por referências de valor economicista. Sem educação de valorização do pensamento crítico, não há cidadania real e a liberdade perde-se em formalismos. O não usufruto pela maioria de uma educação de valores globais e participados pode conduzir-nos a uma edificação de sociedade de tons totalitários. A Democracia corre assim sérios riscos pela desvirtualização com que a globalização assumiu os valores de um fundamentalismo económico.

Num dia  em que se comemora o valor universal da Filosofia, a Democracia e as comunidades humanas precisam de retomar uma ideia, que Isócrates, no século I a. C. defendia. Justamente, a de que se torna necessário promover uma educação liberal capaz de suportar um desenvolvimento humano que enfrente em alternativa o culto do poder e do dinheiro, reforçando o nosso humanismo. 

Ideia que Anthony O' Hear desenvolveu no seu "Ler os grandes livros", como forma de estabelecer uma conversação. Isto é, compreender os suportes humanos da nossa civilização. É muito isso que nos falta e que a professora Martha Nussbau vem destacando nos seus trabalhos. Para conhecer melhor o seu trabalho na Filosofia, mas também nos aspetos éticos do Direito e na sua influência no desenvolvimento económico, deixamos um link. Martha Nussbau - Not for Profit.

(1) Cícero, De Finibus,  citado de Maria Helena da Rocha Pereira, das Origens do Humanismo Ocidental, conferência (Porto - 1985)

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