sexta-feira, 16 de junho de 2017

A palavra e o mundo - estender os sonhos (V)

"foi com Johann Bach que aprendemos, nós, que não temos ouvido, e não ouvimos a música, a forma técnica viva da consonância / dissonância que só na música realmente existe." (1)

A palavra e o mundo foi uma etiqueta para abordar a Literatura de viagens e fazer dela uma temática de agregação de ideias nos destaques de livros durante este ano letivo na Biblioteca. Percorreram-se quatro livros em cada mês e sobre os quais se destacaram excertos e apresentações que ultrapassaram os oitenta textos. Destes foram selecionados alguns para a construção de algumas exposições que relacionaram os espaços, as atmosferas sociais e culturais com a palavra.

A última proposta foi o livro de Pedro Eiras, Bach, que nos conduz a uma viagem pelas palavras e pela memória. É ainda a recuperação de espaços de intimidade e a forma como a linguagem consegue descrever esses sonhos estendidos pelos dias. Foi o único caso em que o título do livro se alterou da apresentação dos posts porque isso condicionava o que se queria revelar.

Bach, de Pedro Eiras devolve-nos naquilo que a palavra consegue recuperar os sonhos e as vidas de figuras tão diversas, como as seguintes:
  • Anna Magdalena Bach (1750);
  • Esther Meynell (1925);
  • Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (1968);
  • Gustav Leonhardt (1973);
  • Glenn Gould (1981);
  • John Cage (1961);
  • Gottfried Wilhelm Leibniz (1714);
  • Maria Gabriela Llansol (1984);
  • Martin Luther (1528);
  • Jeshua Ben-Josef (S/D);
  • Etty Hillesum (1943);
  • "ICH Habe Genug..." 
  • Albert Schweitzer (1959).
Bach, de Pedro Eiras percorre um conjunto de memórias tentando dar vida a figuras que marcaram a sociedade pelos seus sonhos a que procuraram dar forma. Bach, sem dúvida, Leibniz e essa tentativa de compreender o universo e as suas leis, Etty Hillesum, na fronteira entre o que se pode exprimir e o que se silencia pela confrontação do real no quotidiano, ou Lutero e a fragilidade de compor palavras humanas nos desígnios de Deus. 

No fim é sempre um ponto de partida semelhante, isto é, como cada um ouviu essa música, o infinito dentro do finito, os sons de Bach. O livro conduz-nos por uma banda sonora, a de Bach e desses pontos ligação, fios de personagens, memórias de pessoas e a ideia generosa e feliz que ainda podemos responder às vozes que se perderam. No fundo somos sempre a continuidade de um corpo, de um fragmento que até nós chegou. Um livro de uma enorme magia.

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