"O
mundo é um vazio desmedido que não queremos nem podemos aceitar, os homens
também, as cidades, os países, os planetas também. Não há palavras que encham
tanto vazio. Os livros que deixamos são obras de filigrana, fios ténues do
sentido com que delimitamos o volume do que não entendemos."
Nesta etiqueta "A palavra e o mundo", por onde se destacaram perto de quarenta livros sobre a literatura e a viagem, a palavra e os espaços do mundo, um dos que em língua portuguesa mais longe chega nesse diálogo é o livro de Nuno Camarneiro, No meu Peito não batem Pássaros.
No meu peito não cabem pássaros junta três figuras maiores da Literatura do século XX, justamente, Franz Kafka, Jorge Luís Borges e Fernando Pessoa. Junta-as a partir da leitura da vida que se contrói, de um imigrante em Nova Iorque, de um rapaz que chega a Lisboa e de uma criança que inventa coisas, formas de anunciar o que acontecerá mais tarde.
No meu Peito não batem Pássaros realiza a narrativa de três figuras a descobrirem espaços urbanos, a carregar sonhos maiores que eles, a compor palavras com a linha comum de inventar um mundo. É um livro sobre criadores, é um livro sobre cidades e ainda um livro sobre três figuras que entre a solidão e a desilusão nos definem o assombro das palavras, a linguagem para compor aquilo que é a vida de milhões, o prenúncio do mundo moderno.
No meu Peito não batem Pássaros fala-nos da vida, da memória, da morte, do esquecimento, entre os caminhos que
percorremos, com o sol a nascer em nós. A infância, o consolo das histórias
vividas e inventadas entre os que no tempo forjaram o azul de um aconchego e
nos deram a visão de um caminho.
Livro
imenso, uma sabedoria de palavras, momentos intermitentes que nos dão a linha
dos olhos que procuramos para recuperar a beleza, o encontro com a respiração
do amor. ainda esse sonho antigo que nos faça ser um ponto brilhante nos dias
esquecidos. A beleza e o sorriso entre as cicatrizes que nos caracterizam, que
nos rasgaram o espírito e o corpo até chegar ao encontro, à mão, ao perfume
solar capaz de nos fazer render um novo salto, a dos pássaros que em nós voam.
Nuno Camarneiro. (2013). "Lisboa", in No meu peito não cabem pássaros. Lisboa: D. Quixote.
Autor do texto: - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
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