Dia Mundial da Criança. Uma data, uma
efeméride, uma comemoração. Esta é uma das mais significativas do ano. A
infância conduz-nos a um país desconhecido. Um reino fechado em limites e ao
mesmo tempo aberto precariamente à nossa memória. Todos saímos um dia desse
país e embora o visitemos em imagens, nunca verdadeiramente lá regressamos.
Eugénio de Andrade achava que a poesia era uma das formas desse regresso à infância.
Ideia otimista para um reino e um tempo, de onde os unicórnios não voltam.
A infância é um espaço de magia, um reino
maravilhado, um espelho de onde se projetaram os anjos, uma identidade que a
Bíblia assegura que apenas as crianças podem aceder ao Paraíso. A infância é
feita de uma vivência que se organiza dentro do mistério, o simples prazer,
como forma de relação com o mundo. Apesar de tudo isso há na infância uma
imensa fragilidade, a tal ponto que pensamos como se cumprirá o sentido da
bondade com que deus nos olha?
Fernando Pessoa disse-nos que as crianças,
como habitantes da infância “são o melhor do mundo”. Esquecemo-nos às vezes o
modo como o seu olhar é intenso e claro, feito de espanto e fantasia para a
conquista das possibilidades de um caminho. Nela nasce a vontade de responder
aos desafios, que cresce pela adolescência com as garantias de invencibilidade,
com a esperança no olhar e a eternidade como horizonte. Da infância à
adolescência, um caminho se constrói, o processo de aprender, aquilo que torna
as crianças em estudantes.
Neste dia talvez faça sentido falar um
pouco deles. Esquecemo-nos por vezes, que não é fácil ser estudante, resgatar
os dias com as palavras antigas e estranhas de poetas e artistas de tantos
tempos. Esquecemo-nos às vezes, que o mundo não é uma festa em que todos sejam
convidados, como elementos para um banquete de harmonia. Esquecemo-nos que
aprender é conseguir reencarnar com interesse e motivação, figuras novas,
representações da realidade, por vezes tão distantes. Mas acima de tudo importa
saber que é por esta respiração, que ainda aqui estamos, na descoberta de
palavras novas, para rituais antigos.
Neste dia importa pois fazer esse
reconhecimento, lembrar o princípio dessa grandiosa, ainda que difícil aventura
que é a de crescer. É pelos estudantes que lembramos esse processo de
crescimento, que pelos seus olhos se inspiram horizontes, de onde, ainda ontem
também partimos.
Deste dia contínuo importa aceitar uma
ideia diferente para em tempos de mudanças, como estes, percebermos o
essencial, o que governos inteiros desconhecem, a gestão simples do sorriso e
do esforço partilhado. É curial saber que existe um desejo antigo em cada
rosto, do valor e da energia dos que querem aprender sobre o mundo que receberam
e ao qual também pretendem acrescentar uma caminho de realização pessoal. É
essa a determinante meta da construção da cidadania.
Dia Mundial da Criança. Dia de uma
memória. Dia de uma inspiração para o futuro, “o presente de todos os dias”,
dizem os budistas. Dia para lembrar a literatura e de como ela tem tentado
guardar a ideia de uma contínua fantasia, do tempo mágico de Peter Pan, de
Alice que se multiplicou em aventuras de curiosidade, ou Tom Sawyer que pelos
campos criava a liberdade de existir.
Nem
sempre acreditamos em milagres. Duvidamos deles todos os dias. Raramente
achamos que a utopia pode acontecer. Três chávenas de chá ou Sorrisos de Bombaim
são dois desses milagres educativos. Duas ideias que se transformaram em duas
ONG que levaram ao quotidiano de crianças vítimas de extrema pobreza e
violência, dias mais justos e esperançosos. Nos dois projetos desenvolveu-se a
conquista de uma infância que se funda na construção de escolas, onde ainda
é possível acreditar que é possível mudar formas de vida, onde o sonho de um
mundo melhor se pode concretizar. São dois projectos que vale a pena conhecer,
pela inspiração que nos dá para um mundo melhor. A conhecer nos links abaixo:
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