"– De
quem gostas mais homem solitário? De teu pai, de tua mãe, de tua irmã, ou
irmão?
– Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos.
– Dos teus amigos?
– É uma expressão de que não sei o sentido.
– Da tua pátria?
– Não sei onde está situada.
– Da beleza?
– Amá-la-ia se a conhecesse, e a sua imortalidade.
– Do oiro?
– Odeio – o tanto como vós a Deus.
– Então que amas tu, singular estrangeiro?
– Amo as nuvens… as nuvens que passam… lá longe… as maravilhosas nuvens! "(1)
– Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos.
– Dos teus amigos?
– É uma expressão de que não sei o sentido.
– Da tua pátria?
– Não sei onde está situada.
– Da beleza?
– Amá-la-ia se a conhecesse, e a sua imortalidade.
– Do oiro?
– Odeio – o tanto como vós a Deus.
– Então que amas tu, singular estrangeiro?
– Amo as nuvens… as nuvens que passam… lá longe… as maravilhosas nuvens! "(1)
Podemos
juntar os elementos e sonhar com um movimento. Fundir na montanha uma elevação,
como quem se eleva, como quem se prepara para uma tempestade e ainda assim
desenhar uma transformação. Foi isso que Félix Tournachon ou Sarah Bernhardt
tentaram cumprir, viajar perto do sonho, experimentar o balonismo, aceder às
zonas perto das mais “altas regiões”. Os balonistas foram construtores de um
impensado, mensageiros das nuvens, definiram-se como aeronautas e deram ao seu
tempo um instante da mais bela forma de liberdade, a que se compatibilizava com
os elementos na atmosfera.
Victor Hugo considerou essas experiências do
balonismo como nuvens à deriva; essas personagens mensageiros das nuvens,
actores de um progresso, de um milagre que desafiava tudo. Tournachon
dedicou-lhe a vida e registou nas suas tentativas do balonismo um ideal de
modernidade, um mundo novo feito da fotografia, da electricidade e da
aeronáutica. O mensageiro das nuvens era um revolucionário, não o dos programas
políticos, mas o que desafiava o próprio sentido da realidade, o fundamento de
pássaros e anjos. Sarah Bernhardt, a actriz de fim de século, mulher de emoções
e aventuras ao realizar experiências de balão definiu essa liberdade suprema
nestas palavras, “não há silêncio, mas sombra do silêncio”(2). Tournachon
descobriu como mensageiro das nuvens uma felicidade espacial de silêncio, onde
as pobres forças humanas estão ausentes, e onde uma verdadeira dimensão da
saúde se concretiza no corpo e na alma. Deixou-nos essa expressão de sabedoria
“a altitude reduz todas as coisas às suas proporções relativas à Verdade”. (2)
(1) – Charles Baudelaire. (2007). “O estrangeiro”, in Poemas em Prosa. Coimbra: Alma
azul. Imagem: © – 雨アガル。
(2) – Julian Barnes. (2013). Níveis de vida. Lisboa: Quetzal.
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