Zora é uma cidade que se instala na memória. Surge-nos após um
conjunto de cadeias montanhosas. Zora fica-nos na memória, não como outras
cidades, como imagem, mas numa recordação de cada um dos seus pontos, das suas
ruas, das suas casas. Zora não é especialmente bonita, mas a nossa memória
permanece nas suas ruas, nos seus muros.Há em Zora um modo como a nossa vista percorre as imagens, as figuras erigidas, como se fossem um desenho musical, uma coerência que não podemos mudar. Zora encaminha uma memória como um quadrado geométrico, onde os seus habitantes, os seus objetos, os seus sonhos se perfilam como uma constelação. Zora constrói um elo de pontos que nos dá uma memória viva da cidade.
Zora não se apaga da nossa mente. A memória de Zora faz-se de uma armadura,
onde podemos ir procurar caixas, ou outros objetos, onde podemos lembrar homens
famosos, virtudes, números, material vegetal ou mineral.
Os homens que a conhecem são homens sábios, são homens que guardam a memória.
Quando me propus visitar Zora ela desapareceu, pois obrigada a ficar imóvel ela
definhou, estagnou e desapareceu.
Zora tornou-se a terra esquecida.
A partir da leitura de Italo Calvino. (2011). As cidades invisíveis. Lisboa:
Quetzal.
Imagens - Copyright: Collen Corradi
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