O Homem está só. Caminha pelo natural e só raramente vê sinais de algo, como a pegada de um tigre, um fio de água, uma flor de hibisco. O mundo não se revela, apenas existe. No eixo do olhar mais distante surge uma cidade. Chama-se Tamara. A cidade anuncia-se em palavras, instruções em paredes, como notas informativas. Mas o visitante não se apercebe de nenhuma coisa, apenas encontra imagens de outras coisas que têm outros significados. Em cada objeto há uma imagem, são as imagens a dar significado às coisas.
O quotidiano social é ilustrado por estas imagens, possibilidades e proibições. Os templos estão ornamentados por deuses, onde se encontram os seus atributos. Um Deus é reconhecido para que o fiel não se engane na sua divindade. Nesta cidade a arquitetura concebe uma ordem, uma função aos espaços. Tudo em Tamara vale pela função, pelos sinais encontrados em objetos, em espaços. São eles a construir os sinais das coisas e é com o olhar que o viajante vê a cidade como um livro de páginas decifradas.
Tamara constrói um sentido à vida dos seus habitantes, diz-lhes o que pensar, o que é permitido, o que é proibido. Tamara é uma repetição de gestos e cada um dos nossos nomes é já uma repetição com que a cidade se define a si própria. O viajante não existe em Tamara. Fora dela é o vazio, dentro dela é "um invólucro de sinais", o que ela deixa compreender. Um viajante que saia de Tamara e encontre nas nuvens os desenhos dos objetos, o real feito uma casa, um veleiro, um animal não saberá que deixou a cidade que se fixa fora do horizonte.
A partir da leitura de Italo Calvino. (2011). As cidades invisíveis. Lisboa: Quetzal.
Imagens - Copyright: Collen Corradi
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