terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A palavra e o mundo - A subtileza - As cidades invisíveis (VI)

Zenóbia é uma cidade admirável. Está situada em terreno seco, mas surge erguida sobre grandes palafitas. As casas são de bambu e zinco e nelas se encontram muitas varandas de diferentes alturas. As casas em Zenóbia sobrepõem-se umas às outras e ligam-se por escadas e passeios que se encontram suspensos. O que terá conduzido os seus habitantes a dar esta forma à cidade de Zenóbia? Não se sabe a origem desta opção, desta face da cidade assim construída. Ninguém na cidade o sabe explicar. E, no entanto, pedida a descrição de uma cidade feliz, capaz de dar aos seus habitantes alguma felicidade eles sentem que a cidade só poderia ser assim, com as suas palafitas e com as suas escadas suspensas. Poderia ser uma cidade diferente, mas sempre com esta ideia original de casas suspensas. Poderíamos dizer que Zenóbia é uma cidade feliz? Não é correta esta divisão, entre felicidade e infelicidade. Mas antes, entre as cidades que se prolongam pelos anos e pelas suas próprias transformações no caminho para dar forma aos desejos dos seus habitantes e as outras cidades. Aquelas em que "os desejos ou conseguem aniquilar a cidade ou são elas aniquiladas". É essa a subtileza, a de procurar a concretização do sonho.

A partir da leitura de Italo Calvino. (2011). As cidades invisíveis. Lisboa: Quetzal.
Imagens - Copyright: Collen Corradi

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