sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A palavra e o mundo - Viagens (II)


"... nem cristão, , nem pagão,  sarraceno ou tártaro, nem nenhum homem de nenhuma geração viu, nem explorou tantas maravilhosas coisas do mundo, como o fez o senhor Marco Polo..."

 Viagens de Marco Polo narrados por Rusticiano de Pisa, que fez a compilação desta aventura é um dos grandes livros da História Universal.  Chamado Livro das Maravilhas conta-nos uma viagem ao interior da Ásia mais remota. Conduzidos pela ideia da descoberta e de encontrar formas de apoiar o comércio de Veneza no Mediterrâneo oriental chegaram a locais tão distantes como o Mar Negro, a Mongólia ou a China. Contactaram a Pérsia e a Arménia chegando à presença do Grande Khan, imperador chinês. Este confiando em Marco Polo confiou-lhe missões diplomáticas em terras distantes. Marco Polo foi o primeiro ocidental a chegar tão longe e a ter uma proximidade tão íntima com extensas áreas do Oriente. 

Marco Polo regressaria a Veneza. Foi numa  batalha naval entre Génova e Veneza que Marco Polo conheceria uma importante figura de Pisa, Rusticiano que compilaria as narrativas de viagem de Marco Polo sob o nome Il Milione que se traduziu num enorme sucesso. A edição francesa dar-lhe ia o nome Le Divisiament du monde (A Descoberta do Mundo) ou Livre des Merveilles (Livro das Maravilhas). A importância do livro para a época é significativo pela amostra de paisagens humanas e civilizacionais que mostra. O livro tem a grandeza de ser escrito numa abordagem quase antropológica de relato do que se observa, da diversidade humana. Não se encontram condenações morais ou religiosas, pelo que é uma rica fonte de conhecimento do Oriente no final do século XIII. 

O livro foi um sucesso pelo público a que procurava chegar, mercadores e cortes, missionários e geógrafos. Ainda o é, pela experiência que foi, pelo itinerário que nos permite conhecer e que certamente justificaria um conjunto diverso de publicações no blog, mas também pelo imaginário literário que criou. Italo Calvino criou um livro maravilhoso a que temos dado uma particular atenção, onde colocou justamente Marco Polo e Hublai Khan a falar sobre as cidades invisíveis de famosos reinos. Livro das Maravilhas de Marco Polo faz-nos lembrar uma outra viagem, a de Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação.É desconcertante a diferença, pela partida com diferente motivação e de resultados também diversos. Dois séculos depois a Ásia e os homens parecem ter mudado para um sentido mais violento.  

Livro das Maravilhas é ainda uma grande livro pela lição civilizacional que nos oferece para os tempos de hoje. A sua mensagem de tolerância e curiosidade pelo mundo é ainda algo que devemos valorizar. Maravilhas do Mundo é ainda e talvez isso seja o mais importante, uma clara confiança no homem como construtor de cidades, de civilizações de trocas, de memórias, de sinais, de nomes, onde se reconhecem formas multiculculturais do viver humano.

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