Nunca
imaginei que fosse possível vê-las, com a poluição de luz a envolver
perpetuamente a cidade e numa noite em que estivera a chover. Mas a
chuva tinha parado enquanto eu descia as escadas e tornara o ar límpido.
(...) Estrelas maravilhosas, numa nuvem de pirilampos ao longe: mas eu
sentia no meu corpo o que os meus olhos não podiam alcançar, ou seja,
que a sua verdadeira natureza era o persistente eco visual de algo que
pertencia já ao passado. (...) nos espaços escuros entre as estrelas
mortas, a brilhar, havia outras estrelas que eu não podia ver, estrelas
que ainda existiam e emitiam uma luz que ainda não tinha chegado até
mim, estrelas vivas e a emitir luz, mas para mim apenas presentes
enquanto interstícios vazios. A sua luz acabaria por chegar à Terra,
muito depois de eu e a minha geração e a geração seguinte nos
encontrarmos fora do tempo (...). Olhar para esses espaços escuros era
como ter uma perspetiva direta do futuro.
Teju Cole. (2012). Cidade Aberta. Lisboa, Quetzal.
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