"E,
sim, um grande especialista em música e na natureza humana poderá dizer com
acerto, pela observação da fisionomia dos ouvintes. Mozart!, Bach, Chopin! E
talvez até isto: silêncio". (1)
A
música. Um voo de pelicano no azul, ou o som das hortênsias no vale das Flores,
uma ilha a escutar o mar, como uma caixa de música. O silêncio. Ouvi-lo como
uma substância que sobra da música, que se espalhou pelos objectos, pelos
nossos espaços. E ela própria, como a ver, pois não tem a música, uma luz
própria, e assim, saberá qualquer um ouvir um som, construir essa iluminação?
Em cada rosto que ouve um som, como encontrar aquilo que não se ouve, como se
vê esse silêncio em cada um? É essa a porção capaz de mudar as coisas
individualmente?
A
batida dos sons podem eles fazer mudar a substância material dos espaços e
nesse caso, a música seria um pensamento, o elemento vivo, uma forma de
absorver instantes e de os reconduzir a um elemento único, vivo, nós. O
silêncio é esse ponto, onde a luz musical se completa, onde se sustenta a raiz
do som que contemplamos, a sombra que saiu desse espanto e o ombro que nos dá
conforto.
No
fim o som, todo ele, para anunciar um sentimento, formas essenciais de ser,
essa forma de construção de um espaço, que é a atenção a cada biblioteca de
sons individuais. Produzir música, ouvir um som que é também a contemplação a
um mundo exige pois olhar, ver o que nos chega com curiosidade e espanto.
Breves notas sobre música de Gonçalo M. Tavares é um pequeno livro sobre como o
pensamento pode questionar os sons e compreender-nos a nós, dentro dessa magia
do silêncio.
Imagem - Copyright - Emmanuel de Witte, Interior com uma mulher tocando virginal, 1665.
Autor do texto: - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
Autor do texto: - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
Sem comentários:
Enviar um comentário