Peregrinação: que palavra, que imagem, que
sonho, que viagem, que pensamento nos conduz por esta palavra? Espinoza dizia que o sentido das coisas derivava de uma proximidade de
realidade entre elas. Escolhemos então o que nos aproxima de muitas coisas, do
mundo, dos outros. Como o fazemos? Com que linguagem?
# 7 - Peregrinação:
O que nos chega à mente e ao coração quando pensamos nela? Vemo-la como um
caminho, uma descoberta, um processo, ou só um lugar? O que nos diz esta
palavra, chamada Peregrinação? É ainda um apelo para ver, escutar, renovar uma
forma de encontrar a melodia das coisas, ou é só mais uma viagem sem
conhecimento interior?
# 8 - Peregrinação:
“No escuro mais a fundo, no matagal espesso algo está mais vivo, algo está
mais próximo. Imagino o bosque como viagem que não é movimento… não, não é
movimento… é entrega de movimento… concentração. Até aqui fascinou-te a rapidez
do esquilo… Se tu soubesses a rapidez da árvore que o abriga. Até aqui pensaste
na velocidade da raposa… Medita agora na vertigem de terra, gravetos e folhas,
na sucção que a poeira faz do teu peso, da tua altura, do teu fedor de raposa…
Nunca existiram viajantes, só existiu a viagem. Nunca demos um passo, a terra é
que girou, a vida mudou de sítio, alterou-se o céu que nos cobre. Nós somos
fixos, aprende. Não existem navegadores: existe o mar. O mar que busca… Busca a
viagem em nós.” (1)
O sonho por vezes torna-se desatento. Rompe os caminhos e mergulha no mar,
ou no nome das coisas que o fez nascer. É preciso reencontrar esse lugar onde o
sonho mergulha, não o deixar tremer de hesitação, conduzi-lo para as palavras
de tudo o que ainda não vimos. A Peregrinação pode também ser esse sonho que
procuramos, ou as lágrimas que sustentam o que ainda não conhecemos.
(1) - José Tolentino Mendonça. (2013). O estado
do bosque. Lisboa: Assírio & Alvim.
Imagens - Copyright:
© Lars
Van de Goor, © Syouta Nagase e © Monica
Amberger
Autor do texto: - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
Autor do texto: - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
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