O fim-de-semana de 12
e 13 de maio prometia algumas possibilidades. Como todos sabemos superou as
melhores expectativas. Na ligeireza que nos caracteriza a comunicação social
juntou tudo num pacote. O País terá vivido um milagre, ou um conjunto de três
milagres. E, no entanto são coisas muito diversas.
1. Fátima é aquilo
que se conhece. Existem os que acreditam e os que duvidam. A canonização
interessa sobretudo aos crentes e ao discurso da Igreja Católica. Em Fátima
esteve o Papa, uma figura inspiradora, o único líder que o Mundo dispõe com
credibilidade para a sensibilização de uma ideia de justiça. Mas não foi um
milagre. O Papa ainda vai onde quer e a sua vinda foi para celebrar um evento
do imaginário de uma religião. E, como sabemos nem todos professam uma ligação
ao sagrado, nem se reconhecem nesse imaginário. Ficou-se com a alegria de um
homem de que se espera o impossível, justamente a reforma de uma pesada hierarquia para
uma ideia de espiritualidade mais próxima das pessoas.
2. O Benfica também
não se enquadra num milagre. A equipa está habituada a ganhar, às vezes ano
sim, ano sim, outras vezes nem tanto. A vitória do Benfica enquadra-se dentro
da estatística de probabilidades que um clube pode obter. É verdade que são
muitos milhões a torcer por um clube e um desporto, mas não é, nem nunca foi um
milagre. A magia que alguns vêem é apenas a azelhice dos adversários, ou as
capacidades olímpicas que os seus felizes jogadores possuem. Milagre? Não me
parece!
3- Salvador Sobral
chegou a Kiev e conseguiu pela primeira vez obter o primeiro lugar no Concurso
da Eurovisão. E apesar de vos parecer um exagero, foi aqui que os jornais
acertaram. Foi um milagre. Não por que tenha sido a primeira vez em cinco
décadas que Portugal o conseguiu. Não! As razões são outras. Miguel Esteves
Cardoso falou do seu humor no momento de conhecer a vitória, do reconhecimento feito aos músicos, do sentimento, da emoção e da sua evidente
humildade.
Salvador Sobral
realizou um milagre por muitas razões.
Pela vitória que é
indiscutível e pela forma como recolou as pessoas a verem um formato de media
ultrapassado nos seus conteúdos há décadas. Por ter apontado a necessidade de a
música se dirigir para a contemplação interior de uma emoção, não adereços externos projetados para um exterior vazio. Por ter falado nos direitos
humanos e por essa ideia que todos devíamos aprender. A de que quando temos um
palco devemos utilizá-lo, projetar mensagens que façam pensar os outros,
que os façam refletir, sobre os gestos que todos em conjunto podemos tentar influenciar ou alterar. A dádiva de ver e de sentir o essencial. E
sobretudo pela língua, essa Pátria de que falou Pessoa.
E já agora, convinha
aprendermos alguma coisa. Não dizermos, como o fizeram filas de jornais e televisões, à saída das primeiras imagens, como crianças sem pensamento. A de
que este fim-de-semana foi a materialização da famosa fábula de Salazar,
“Fátima, futebol e fado”. Não foi! Foi outra coisa. Pode ser outra coisa.
Iluminar palavras e não ter a pretensão de ser o máximo e juntar arte e
sentimento, como disse MEC é um milagre e um princípio. Depende de cada um
compreender isso e tentar construir essa essência que mora na melodia das
coisas.
Texto de opinião - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
Texto de opinião - Profº Bibliotecário - Luís Campos -
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