Peregrinação: que palavra, que imagem, que sonho, que viagem, que
pensamento nos conduz por esta palavra:
Espinoza dizia que o sentido das coisas derivava de uma proximidade de
realidade entre elas. Se escolhemos o que nos aproxima, quais são os seus
nomes, de que início e com que linguagem?
# 10 – Peregrinação:
A Peregrinação também é isto, o modo como olhamos, o que compreendemos com
o que vemos, com os nomes que lhes damos, com a nossa linguagem.
“Não
são as palavras que distorcem o mundo, é o medo e a vontade. As palavras são
corpos transparentes à espera de uma cor. O medo é a lembrança de uma dor do
passado. A vontade é a crença num sonho do futuro. Não são as palavras que
distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo, somos nós. (...). ENTENDER
OS OUTROS não é uma tarefa que comece nos outros. O início somos sempre nós
próprios, a pessoa em que acordámos nesse dia. Entender os outros é uma tarefa
que nunca nos dispensa. Ser os outros é uma ilusão. Quando estamos lá, a ver
aquilo que os outros vêem, a sentir na pele a aragem que outros sentem, somos
sempre nós próprios, são os nossos olhos, é a nossa pele. Não somos nós a
sermos os outros, somos nós a sermos nós. Nós nunca somos os outros. Podemos
entendê-los, que é o mesmo que dizer: podemos acreditar que os entendemos. Os
outros até podem garantir que estamos a entendê-los. Mas essa será sempre uma
fé. Aquilo que entendemos está fechado em nós. Aquilo que procuramos entender
está fechado nos outros.” (1)
(1) José Luís Peixoto. (2016). Em teu ventre. Lisboa: Quetzal,
páginas 97 e 43.
Imagem –
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