segunda-feira, 22 de maio de 2017

Peregrinação (VII)

Peregrinação: que palavra, que imagem, que sonho, que viagem, que pensamento nos conduz por esta palavra:
Espinoza dizia que o sentido das coisas derivava de uma proximidade de realidade entre elas. Se escolhemos o que nos aproxima, quais são os seus nomes, de que início e com que linguagem?
# 10 – Peregrinação:
A Peregrinação também é isto, o modo como olhamos, o que compreendemos com o que vemos, com os nomes que lhes damos, com a nossa linguagem.

Não são as palavras que distorcem o mundo, é o medo e a vontade. As palavras são corpos transparentes à espera de uma cor. O medo é a lembrança de uma dor do passado. A vontade é a crença num sonho do futuro. Não são as palavras que distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo, somos nós. (...). ENTENDER OS OUTROS não é uma tarefa que comece nos outros. O início somos sempre nós próprios, a pessoa em que acordámos nesse dia. Entender os outros é uma tarefa que nunca nos dispensa. Ser os outros é uma ilusão. Quando estamos lá, a ver aquilo que os outros vêem, a sentir na pele a aragem que outros sentem, somos sempre nós próprios, são os nossos olhos, é a nossa pele. Não somos nós a sermos os outros, somos nós a sermos nós. Nós nunca somos os outros. Podemos entendê-los, que é o mesmo que dizer: podemos acreditar que os entendemos. Os outros até podem garantir que estamos a entendê-los. Mas essa será sempre uma fé. Aquilo que entendemos está fechado em nós. Aquilo que procuramos entender está fechado nos outros.” (1)

(1) José Luís Peixoto. (2016). Em teu ventre. Lisboa: Quetzal, páginas 97 e 43.

Imagem – Copyright: © Ekkachai Khemkum

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